A Espada de Prata - O arauto do gelo

Capítulo 25 - A sala secreta

— Nunca percebi nada anormal nesta biblioteca em todas as minhas vindas aqui — disse Ethel se admirando de haver uma passagem oculta em meio aos livros.

— É por isso que se chama passagem secreta — resmungou Krayv.

— Ah, jura? — respondeu Ethel ligeiramente aborrecida.

Ao atravessar a passagem, Krayv colocou novamente a estante em sua posição original e acompanhou o resto do grupo que havia ido à frente. Seguiram o corredor apreensivos, até chegar a uma pequena sala cheia de estantes laterais abarrotadas de livros, pergaminhos e objetos estranhos, várias filas de bancos de madeira com encostos de veludo no meio e um pequeno púlpito no fundo. Parecia uma sala de audiência real que não era utilizada há tempos.

Alex não imaginou que um lugar tão secreto fosse destinado apenas a guardar livros velhos, fazendo sua preocupação aumentar mais ainda.

— Esta é a sala de reunião da Ordem, depois explicarei a vocês tudo o que sei — disse Krayv. — Lembrem-se, cada um de nós pega apenas um livro, não podemos chamar muito a atenção. Se alguém encontrar um livro de capa preta, sem nenhum título, me avisem.

— É o livro que você falou que eles estavam lendo quando espionou a sala do Conselho? — questionou Alex sem disfarçar seu tom de desconfiança.

— Sim, esse mesmo, tenho muita curiosidade de saber mais sobre aquelas histórias que não cheguei a ouvir. Devem ser só alguns contos bobos, nada demais — respondeu Krayv tranquilamente. — Agora, pegue o livro que desejar e me ajude a procurar. Ah, já pode me devolver minha capa da sorte, Alex, não precisa mais usar ela, nem se esconder, já estamos no escuro.

— Acho que não vou levar nada, estou aqui só para ajudar vocês. Vou só te ajudar a procurar ­— disse Alex, retirando a capa que cobria seu corpo e a entregando para Krayv, que a colocou. — Muito obrigado, mas não faz muito meu estilo.

— Esperem — interrompeu Ethel, levantando a lanterna para o alto e se aproximando de uma das estantes, onde havia uma pequena placa de metal presa na lateral. — Parece que as estantes estão divididas por temas. Aqui tem uma escritura que diz: "controle das Minas de Prata". Não parece interessante. Ajude-me a procurar, Alf, preciso de algo relacionado à história.

— Claro, me avise se encontrar qualquer coisa sobre culinária, quem sabe exista alguma receita secreta guardada aqui, talvez eu finalmente possa ensinar algo para minha avó — respondeu Alf, se dirigindo em direção a uma estante próxima de Ethel. — Aqui diz: "guia de tributos reais ao Porto de Agapanto". Acho que vamos ter que procurar bastante.

Krayv começou a procurar nas estantes do lado oposto. Alex apenas seguia o amigo, pensativo, mas no meio do caminho algo chamou a sua atenção no fundo da sala. Ao lado do púlpito, em cima de uma pequena mesinha, estava uma espécie de redoma de vidro que cobria algo. Ele deixou Krayv procurando nas estantes, enquanto seguia na direção do objeto.

Ao iluminar a redoma e limpar a poeira que a cobria, ele percebeu que dentro, sobre um suporte, se encontrava um livro grosso e de capa preta sem nada escrito nela. Poderia ser o que Krayv procurava. Alex olhou para o amigo que estava distraído procurando nas prateleiras, e resolveu investigá-lo antes de avisar que o havia encontrado. Alex apoiou a lanterna na mesinha e cuidadosamente retirou a pesada redoma, colocando-a ao lado. Era um livro velho, de capa de couro desgastada. Ele o abriu, revelando suas páginas frágeis e manchadas. Deveria ser um livro realmente muito antigo.

Logo na primeira folha, Alex percebeu que o livro era escrito a mão e em outra língua, um alfabeto rebuscado que nunca havia visto. Folheou o livro mais algumas vezes e deduziu que seria impossível descobrir do que se tratava, nem mesmos os diversos símbolos espalhados ele compreendia, nunca nem tendo visto algo parecido, até que encontrou um desenho no meio dele que cobria toda a página; era um mapa que tomaria as duas folhas do livro, se as páginas seguintes não tivessem sido arrancadas. Alex tentou entender o desenho e percebeu que se tratava de uma região próxima ao Reino da Prata Azul. Uma linha pontilhada indicava um caminho montanhoso que seguiria na página seguinte, arrancada. Resolveu então comunicar o achado à Krayv.