Alf aguardava ansioso na feira da vila oeste, ao lado de uma pequena barraca cheia de produtos estranhos guardados em frascos, ervas frescas e secas, pós misteriosos, além de diversas sacas de sementes e cereais. Era início da tarde, e o movimento lá era grande. Havia sido uma longa caminhada de sua casa dentro das muralhas até aquela parte da cidade de onde sempre recebeu alertas para se manter afastado. Segundo seu pai, aquele era um antro para marginais de todo o reino e de fora dele, um ponto de encontro da criminalidade e outras coisas piores, mas para Alf parecia apenas um aglomerado de barracas em um grande pátio enlameado onde se encontrava de tudo um pouco, de animais vivos a plantas exóticas e poções variadas que prometiam muitos benefícios físicos e espirituais, mas, é claro, tudo aquilo não passava de simples chás vendidos em frascos bonitos para enganar trouxas, palavras de sua avó, Águeda.
Alf caminhou até uma barraca próxima, sua atenção se voltou para uma grande exposição do que pareciam ser patas de algum bicho pequeno e muito peludo. A barraca ficava ao lado de algumas gaiolas cheias de porcos barulhentos e fedidos. O vendedor estava distraído atendendo um senhor que aparentemente negociava um dos porcos. Assim que se aproximou, o homem que era atendido se virou para ele e Alf ouviu uma voz conhecida:
— Alfonse? Você por aqui? O que faz fora das muralhas perambulando sozinho por um dos lugares mais perigosos do reino?
Alf quase caiu para trás quando ouviu a voz do ferreiro da vila oeste, pai de Alex.
— S-senhor Artur Muller... como está? — perguntou Alf desconcertado. — Digo, imagino que nada bem, foi uma pergunta idiota.
Artur estava vestindo roupas pesadas de couro, sua aparência era suja e cansada como sempre após uma intensa manhã de trabalho na forja, mas o semblante que carregava não era o mesmo das outras vezes que o vira, estava visivelmente infeliz, com razão.
— Não se preocupe, Alfonse, você é um bom garoto. Estou bem sim, levando a vida, mas está difícil demais. Agora, me diga, o que faz por aqui mesmo? É perigoso vir aqui sozinho.
Alf pensou que falar sobre Alex faria Artur esquecer a presença dele ali, mas pelo visto teria que mentir, e Alf não era tão bom nisso.
— Eu vim comprar... ééé... isso aqui — Alf pegou uma das patas esquisitas sobre a barraca e mostrou ao pai de Alex. — É para minha avó fazer... chá, isso, ela adora chá.
— Certo... Sua avó faz chá com pés de coelho? — perguntou Artur com cara de espanto.
— Pés de coelho? Talvez ela tenha dito que ia fazer um ensopado — Alf deu um sorriso amarelo.
— Bem, acho que esses pés empalhados não dariam um bom caldo — Artur sorriu brevemente. — A barraca de coelhos fica mais abaixo, acabei de passar por lá, estão fresquinhos.
— Ei, pegou tem que pagar! Faz parte da misticidade de cada peça. São únicos — resmungou o velho dono da barraca estendendo a mão para Alf. — Duas moedas de prata.
— Claro, meu senhor, me desculpe, aqui — Alf retirou duas moedas de prata de uma bolsinha que carregava presa ao cinto e as entregou ao dono da barraca, em seguida, guardou o pé de coelho em um dos bolsos do casaco. Duas moedas por um pé de coelho seco e fedorento era um preço bastante elevado, talvez aquele objeto servisse para algo já que custava mais que um coelho inteiro.
— Foi bom fazer negócio com você, garoto — disse o dono da barraca sorridente, depois, se virou para Artur. — E você? Vamos ou não fazer negócio pelo porco?
— Não, obrigado, o valor está muito alto. Vou procurar mais — respondeu Artur. — Bem, Alfonse, então vou indo. Mande lembranças ao seu pai.
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A Espada de Prata - O arauto do gelo
FantasiEm uma era sombria marcada pela guerra, após cair em uma armadilha, Alexander Muller, um jovem morador do Reino da Prata Azul localizado no místico continente de Malicerus, acaba sendo separado de sua família e de seus amigos, e é enviado como um cr...