A entrada da pequena sala do Conselho, adjacente a sala do trono, estava cercada por uma infinidade de cavaleiros negros e prateados, todos em posição de sentido, aguardando a reunião dos conselheiros, que já durava algumas horas, terminar.
Dentro da sala se encontrava, ao redor de uma grande mesa redonda, sentados um de frente para o outro, o rei Tenemur II e o rei Bárbaro Sangrento, ambos com cara de noite mal dormida, talvez a do rei do Reino do Carvalho Negro estivesse com uma aparência um pouco melhor. Na verdade, no inicio daquela manhã, a rainha Aldara, esposa de Tenemur, teceu elogios ao rei Bárbaro, alegando que nunca diria que ele já estava no comando do trono do Reino do Carvalho Negro há tantos anos, perguntou inclusive a idade dele, mas o silêncio do rei Bárbaro e sua expressão de descontentamento foram o suficiente para Tenemur expulsar Aldara da sala do Conselho, pedindo desculpas pela inconveniência de sua mulher.
Ao lado de Tenemur se sentavam seus fieis conselheiros, à direita estava Sir Alfred, Lorde Comandante da Guarda Real, à esquerda a duquesa Victoria, Cerimonialista e responsável por organizar todos os eventos do reino como o grande banquete daquela noite, ou mesmo os pronunciamentos do rei na praça central. Ainda havia mais três cadeiras vazias, uma do responsável por administrar o tesouro real, Barão Erasmos, outra do representante dos deuses, Lorde Amis — apesar de Tenemur não ser muito religioso e não permitir um grande templo no seu reino, acreditava que ter um representante melhorava sua imagem diante do povo e até mesmo dos outros reinos; a terceira cadeira deveria ser ocupada pelo conselheiro mais dispensável de todos, pelo menos para Sir Alfred, e que há muitas estações não aparecia em uma reunião, era o único conselheiro a que Tenemur tolerava uma longa ausência.
Antes mesmo de o Conselho começar, mais cedo, o rei Bárbaro não perdeu a oportunidade de alfinetar Tenemur sobre as três cadeiras vazias durante aquele tratado tão importante entre os dois maiores reinos do continente, mas Tenemur não perdeu a pose diante daquela situação desconcertante:
— Não se preocupe, rei Bárbaro, dois de meus conselheiros, Lorde Amis e o senhor Erasmos, foram enviados em missão de paz ao reino do Reino do Mar Revolto, inclusive hoje já recebi as boas novas, uma carta assinada em que o rei Dragomir concordou em fazer parte de nossa nova aliança após todo o mal-entendido que a guerra nos trouxe. Neste momento, Lorde Amis e o Barão Erasmos, já devem estar no Reino do Mirante Escarlate, todos sabemos muito bem o quanto aquela velha rainha Catalina é cabeça dura, certamente vai levar algum tempo até convencê-la a reerguer o Conselho dos Quatro. Então, receio dizer, mas meus outros conselheiros não voltarão tão cedo, terá que se contentar apenas com os dois presentes, contudo ainda resta um último conselheiro a chegar, o mais leal de todos — esta notícia de Tenemur fez Sir Alfred e a duquesa Victoria se entreolharem com indignação dos lugares de onde estavam sentados —, até o fim desta manhã ele estará entre nós. Agora, Majestade, me critica pelo desfalque no meu Conselho, mas onde está seu próprio conselho? Vai negociar tudo sozinho?
— Eu sou o conselho de que meu reino precisa! — respondeu o rei Bárbaro rispidamente — No meu reino eu, e apenas eu, decido tudo. Meu filho, que aliás já deveria ter chegado, irá tratar apenas de alguns assuntos que considero indignos para mim, além do mais, ele precisa aprender a ter certas responsabilidades. Todo o resto do seu acordo pode ser tratado comigo mesmo. Agora vamos parar de enrolação. Estou aberto à sua proposta. Pode começar a falar.
Desta forma conturbada, a reunião do Conselho havia começado, se estendendo por toda a manhã. O rei Tenemur pontuou todas as vantagens da união dos dois reinos através do casamento dos seus filhos, Bryana e Valerian, e de acabarem com a disputa territorial entre eles, e que no lugar de brigar por poder, uniriam forças para crescer mais ainda, explorando o extremo norte, até então uma região selvagem e de difícil acesso. Os anos ininterruptos de guerra desviaram a atenção de todos para os mistérios daquela parte do mapa, de forma que apenas rumores e lendas élficas antigas se ouviam sobre lá. Porém nenhuma das belas narrativas de Tenemur parecia convencer o velho rei rabugento do Reino do Carvalho Negro.
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A Espada de Prata - O arauto do gelo
FantasíaEm uma era sombria marcada pela guerra, após cair em uma armadilha, Alexander Muller, um jovem morador do Reino da Prata Azul localizado no místico continente de Malicerus, acaba sendo separado de sua família e de seus amigos, e é enviado como um cr...