Capítulo 37 - O rei e o mago

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— Rei Tenemur, onde estava seu bom senso quando enviou aquele garoto para as Minas? — perguntou o velho mago conselheiro para o rei no início daquela manhã, antes que o último Conselho começasse antecedendo a partida do rei Bárbaro de volta ao Reino do Carvalho Negro. As famílias reais passaram os últimos dias preparando tudo para o maior evento de Malicerus em anos, o casamento dos filhos de dois reinos rivais, e em consequência disso, a formação de uma grande aliança entre eles. Estavam a sós, a primeira vez em mais de uma semana, e o mago sabia que lhe restava pouco tempo antes da chegada de Sir Alfred, que ultimamente estava mais grudado no rei do que os carrapatos grudavam no lombo do pangaré do estalajadeiro da vila leste, e dos demais conselheiros. — Até hoje não compreendo sua decisão, majestade, eu te falei que o garoto era inocente.

— Inocente ou não, eu não podia deixar que o reino pensasse que qualquer um pode invadir minha propriedade e sair ileso, principalmente com a presença do rei Bárbaro aqui, o que ele pensaria de mim? — O rei Tenemur estava sentado em seu lugar no Conselho e já vestia suas costumeiras vestes reais que lhe ressaltavam uma protuberante barriga em formato de barril, e coçava sua barba demonstrando irritação com o questionamento.

— Mas por que não enviou seu próprio filho então? Ou os filhos dos seus conselheiros? Afinal, eu te falei que os presenciei fugindo com seus livros no início daquela noite.

— Não seria bem visto diante de todos, enviar meu próprio filho e os dos meus conselheiros para as Minas de Prata, seria uma situação vexatória.

— Vexatório é o seu Conselho como um todo, parece que não enxerga o que tentam fazer bem debaixo de vosso nariz. — O velho mago tinha várias desconfianças das intenções dos conselheiros do reino, mas se absteve a apenas colocar uma pulga atrás da orelha do rei, pois não tinha ainda informações concretas sobre os fatos.

— Sou bem mais experto do que acredita, meu velho, estou de olho em tudo e em todos, mas eu confio em Sir Alfred, na Duquesa Victoria, no Lorde Amis e no Barão Erasmos, entretanto confio principalmente em você. Você tem se mostrado valoroso desde que se aliou a mim trazendo aquele livro.

— Livro este que agora está nas mãos daquelas crianças, sabe-se lá onde. Não acha perigoso?

— Quanto a isso, assim que nossos convidados partirem, daremos um jeito, os livros vão voltar para a sala do Conselho. Eu apenas não quis criar muito alarde diante do rei Bárbaro...

— Nem atrair a atenção dele para o livro em si, experto — observou o mago. — E se aquelas crianças conseguirem fazer o que seu esplêndido Conselho não conseguiu em anos?

— Acha isso possível?

— Talvez, aquela garota tem sangue élfico correndo nas veias, talvez a ancestralidade dela ajude-a a enxergar o que seus conselheiros, incluindo eu, não são capazes.

— Como não pensamos nisso antes? — o rei Tenemur parecia ter feito a maior descoberta da Nova Era. — Sempre estivemos atrás de um elfo e tínhamos uma bem debaixo do meu nariz. Mas como ela não é pura, é um risco muito grande, mas já é uma possibilidade, talvez eu cogite observar como se sairá. Talvez este seja o propósito dado pelos deuses para eu aceitar uma mestiça dentro de minhas muralhas.

— Majestade, sabe muito bem o que o fez permiti-la viver aqui no reino...

— Acho melhor nos atermos a assuntos mais importantes — interrompeu o rei. — Quais os outros livros roubados?

— Um livro de história qualquer, e um livro de alquimia básica que eu lhe trouxe das ruinas antigas, foi só o que meus olhos cansados conseguiram enxergar na escuridão dos seus jardins.

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora