Capítulo 18 - Primeiro contato

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Alex continuava vagando, correndo por uma floresta, mais uma vez, como se repetisse aquele mesmo trajeto pela centésima vez, em uma tentativa frustrada de alcançar seu destino: a voz doce que ecoava por entre as árvores...

— Alex, acorde!

Alex se levantou assustado ao ouvir alguém batendo em sua janela agora fechada, provavelmente por seu pai durante a noite. Calçou rapidamente suas botas e foi verificar quem batia. Sua barriga resmungou de fome, então se lembrou de que havia apagado no início da noite anterior, tomado por um sono misterioso e repentino, e que não comia nada há horas. Uma vaga lembrança de um sonho esquisito, mas muito recorrente nas últimas semanas, passou por sua cabeça, todavia não queria se preocupar com aquilo naquele momento.

Ao abrir a janela, ficou espantado ao se deparar com uma Ethel sorridente e animada usando sua habitual calça de algodão e um blusão folgado, contrariando, como sempre, as ordens da mãe. Os cabelos soltos, ondulados e volumosos cobriam suas orelhas pontudas quase que com perfeição.

Do lado de Ethel estava Alf que comia um bolinho verde de aspecto suspeito, enquanto segurava um pequeno cesto de palha coberto com um pano. Ao lado dele, encostado na parede da sua casa, estava Krayv de cara fechada e usando sua velha capa preta com capuz que o escondia dos olhares curiosos, já que não era seguro o filho de um rei ficar perambulando sem guardas fora do castelo.

O sol já despontava no horizonte, mas Alex estava com uma estranha sensação de ter dormido apenas por alguns minutos.

— Você não apareceu no ponto de encontro para seguirmos para a clareira. Por acaso se esqueceu de que dia é hoje? — perguntou Ethel em tom acusatório, quase entrando pela janela do seu quarto.

— Eu apaguei ontem à noite, não sei o que aconteceu. Senti um sono inexplicável... — respondeu Alex, começando a se situar novamente. — Nossa! Hoje é o dia do treino com Krayv. Espera um pouco, você não estava de castigo?

— Meu príncipe Krayvhus pediu minha mãe para dar um passeio comigo e ela não resistiu a um pedido da realeza — explicou Ethel em um intencional tom pomposo. — De qualquer forma, pensando bem, achei bem estranho ela me liberar do meu castigo.

— E sua mãe a deixou sair vestida assim?

— Ah, não, eu tirei o vestido assim que saí de casa, deixei em um local seguro. Uma dama não consegue lutar com aqueles trajes apertados.

— Deixem de conversa e vamos andando ­— resmungou Krayv, virando as costas e seguindo caminho.

Alex se encaminhou até a prateleira ao lado da cama e pegou sua espada de madeira que estava na prateleira em um dos cantos do quarto, ao lado do seu pequeno baú metálico cravejado de pedras pretas e que já não brilhava mais, e a colocou na sua bainha de couro improvisada na cintura. Pulou a janela com cuidado e se juntou aos amigos que o esperavam, cada um com sua própria espada de madeira. Ele às vezes saía assim para evitar comentários maldosos de Filipa.

O som de marteladas no metal quente já dava para ser ouvido, vindo da forja, seu pai começara cedo o trabalho. Realmente o rei tinha pressa na encomenda.

Os três andaram rapidamente por uma viela estreita, partindo dos fundos da sua casa, entre várias casinhas cada vez mais escassas, até se aproximarem de Krayv que já seguia bem adiantado em direção a uma das saídas do vilarejo.

Há alguns anos, os quatro fundaram um grupo onde se reuniam com frequência para compartilhar experiências uns com os outros. Ethel sempre surgia com um livro novo para os dias de leitura, foi assim que Alex aprendeu a ler e a escrever. Krayv era o treinador com espadas, ele repassava tudo que aprendia com suas aulas particulares no castelo, o que ajudava muito Alf que vivia sendo pressionado pelo pai, Sir Alfred, para aprender a lutar. Mas o que Alf gostava mesmo era de cozinhar. Em todas as reuniões, ele sempre aparecia com alguma receita nova ensinada por sua avó, Águeda. Seus amigos sempre eram suas cobaias gastronômicas. Da mistura inusitada de elementos às vezes ele fazia delícias, outras vezes comida com sabor de estrume para adubar a terra, apesar de Alex nunca ter experimentado o gosto de tal.

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora