Naquele fim de uma tarde nebulosa e estressante Sir Alfred, um homem grande, corpulento e Lorde Comandante da Guarda Real do Reino da Prata Azul, caminhava apressadamente, tilintando sua armadura prateada reluzente e pesada, através dos corredores do castelo real, em direção à sala do trono do rei Tenemur II, após deixar o seu cavalo na baia, na cavalariça do pátio dos cavaleiros que ficava nos gigantescos Jardins Reais. Durante seu trajeto, Sir Alfred se lembrara de ter cruzado mais uma vez com aquele pirralho e inconveniente filho do ferreiro no portão oeste, que acobertado pelo filho mimado do rei, sempre dava um jeito de perambular pela cidadela. Sir Alfred já pensara em qualquer dia dar um jeito de adentrar nas profundezas daquela vila enlameada e suja para ter uma séria conversa com o ferreiro sobre o filho dele, aquela situação já passava dos limites, mas naquele momento, tinha outros planos para o inocente garoto que achava que podia se misturar com a nobreza; ele nem imaginava o destino que o esperava, pior para ele por ser tão tolo.
Ao chegar ao seu destino, e adentrar na sala do trono, se deparou com o velho e obeso rei apertado em seu gibão azul casual com o brasão real estampado no peito. O rei estava sentado diante de uma pequena mesinha redonda abarrotada de comida, saboreando mais uma refeição ao lado de uma jovem criada que lhe servia um cálice de vinho, enquanto outra criada limpava, com a ajuda de um guardanapo de tecido, sua longa barba grisalha e ensebada, que quase que escondia completamente um enorme babador embaixo dela. A julgar pela cara enrugada de regozijo do rei, a refeição estava digna dos deuses, ou talvez as criadas estivessem.
— Ora, meu Lorde Comandante, quais as boa novas? — perguntou Tenemur, após tomar uma grande golada de seu vinho, derramando metade do conteúdo do cálice na própria barba. Sir Alfred não sabia se o rei agia assim por ter alguma falta de coordenação para se alimentar ou simplesmente para que as criadas ficassem esfregando sua barba suja, o que sempre acontecia de imediato quando ele se sujava.
— Majestade — Sir Alfred fez uma reverência —, a comitiva do Reino do Carvalho Negro acaba de adentrar na cidadela, em breve estarão no castelo. Por acaso se esqueceu que chegavam hoje?
Tenemur abaixou o cálice lentamente até a mesa, parecia analisar a situação, pois seu olhar estava meio perdido no conteúdo do seu cálice, meio no horizonte escuro do gigantesco salão inebriantemente iluminado precariamente pelos archotes espalhados pelas colunas, mas que não supriam a falta de luz que vinha com a noite fria que chegava. Ele acenou para as criadas, que pararam de servi-lo e limpá-lo, e saíram imediatamente, visivelmente descontentes, afinal, qual moçoila vinda dos condados e das vilas espalhadas pelo reino não gostaria de passar o resto de sua juventude limpando a sujeira de um velho gordo?
O rei olhou para o Lorde Comandante e disse:
— É claro que não me esqueci, estou até comemorando a chegada deles. Eu poderia convidá-lo para me acompanhar, Sir Alfred, as perdizes estão divinas por sinal, tenras e macias, como estas jovens donzelas do Condado de Asneiras que acabam de nos deixar — Tenemur gargalhou —, mas é uma pena que já terminei a minha refeição... Aliás, quem nomeou aquele condado com esse nome?
— Asneiras é uma família muito tradicional do Velho Continente — explicou Sir Alfred pela enésima vez —, estão em Malicerus desde a nossa chegada, seu pai agraciou-os com aquelas terras junto d'A Fronteira pela lealdade deles durante a Grande Guerra. E obrigado pelo convite, Majestade...
— Sim, claro, é apenas o vinho que me deixa um pouco desmemoriado. Mas sem tantas formalidades, Comandante, não aqui. Cá entre nós, pode me chamar apenas de Tenemur. Crescemos juntos, você serviu meu pai e hoje serve a mim, é meu braço direito. Não há pessoa mais confiável para o seu posto. Sente-se, pelo menos pode me acompanhar em um cálice de vinho. A noite vai ser longa.
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A Espada de Prata - O arauto do gelo
FantasyEm uma era sombria marcada pela guerra, após cair em uma armadilha, Alexander Muller, um jovem morador do Reino da Prata Azul localizado no místico continente de Malicerus, acaba sendo separado de sua família e de seus amigos, e é enviado como um cr...