Alex se preparava em seu quarto apertado para a grande noite. O pensamento de cometer um crime para ajudar seus amigos não saía de sua cabeça. Para eles poderia parecer algo pequeno, mas para Alex era um risco muito grande. Ele revirava um baú de madeira onde guardava suas poucas roupas, ao lado da prateleira onde ficavam seus objetos mais valiosos, incluindo o pequeno baú metálico que mais uma vez brilhava misteriosamente, entretanto Alex estava tão nervoso que não conseguia prestar atenção no objeto herdado de sua mãe.
Ele tentou encontrar algo mais festivo, na tentativa de se misturar durante o banquete, mas logo descobriu que não possuía nada do tipo. Na verdade, ele nem imaginava como eram as festividades dos nobres no castelo. Resolveu vestir apenas sua velha calça surrada de algodão e um gibão de couro de mangas longas que usou uma única vez em uma comemoração na vila anos atrás, já estava até um pouco apertado, mas era o que tinha, ainda calçou suas velhas e únicas botas de couro curtido. Alex precisava ser rápido, tinha combinado de se encontrar com Krayv em frente à taverna do Velho Roe ao por do sol, e o momento já estava se aproximando.
Saindo de seu quarto, Alex viu que seu pai e sua madrasta conversavam distraídos na cozinha, sentados à velha mesa de jantar ao lado de um fogão de pedra, onde as chamas cozinhavam algo borbulhante em um caldeirão. Tentou passar despercebido pela sala, mas o barulho do rangido da porta que dava acesso à rua o denunciou.
— Indo a algum lugar, "querido"? — Alex ouviu a voz irritante de Filipa perguntar, colocando muita ênfase na fala.
Alex então retornou até a porta de acesso à cozinha, cabisbaixo, se lamentando por não ter pulado a janela do quarto.
— Vou encontrar meus amigos, combinamos de treinar um pouco — mentiu Alex.
— Hoje é a cerimônia para selar a paz entre os reinos, seus amigos não vão estar lá? — perguntou Artur desconfiado.
— Vão sim, mas é só mais tarde — respondeu Alex, tentando enrolar.
— E desde quando você costuma usar esse gibão para treino? Não acha que está um pouco pequeno para você? — Artur continuou investigando a atitude estranha de Alex.
— Está ficando frio, pai, só quis me proteger um pouquinho, o inverno está próximo.
— E o que você usou no cabelo?
— Nada, pai...
Alex passou a mão na cabeça e percebeu que talvez tivesse exagerado um pouco no sebo de carneiro ao tentar arrumar seus cabelos sempre espetados e desalinhados.
— É alguma garota?
— Claro que não, pai... eu não... ééé ... — Alex tentou explicar, totalmente desconcertado, mas foi interrompido por Filipa:
— Deixe-o ir, meu amor, ou vai ficar tarde e ele vai perder o jantar. Tenho certeza que ele não vai aprontar nada.
— Claro, pode ir, Alexander, mas volte cedo. As ruas andam um pouco perigosas à noite com essa movimentação do Reino do Carvalho Negro em nossas terras. Não sei até que ponto eles respeitam o tratado de paz.
Em nenhum momento, pensou Alex se lembrando do ocorrido no caminho até a clareira.
— Tudo bem, pai, voltarei cedo — disse ele.
Alex saiu quase correndo pela porta, estava suando frio e com as mãos geladas, não era de seu habitual mentir para seu pai. A atitude de Filipa soou muito estranha, parecia que ela estava querendo que ele aprontasse algo para o pai ter algum motivo para odiá-lo, mesmo assim agradeceu ao fato de ela tê-lo salvo de dar explicações e acabar se entregando.
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A Espada de Prata - O arauto do gelo
FantastikEm uma era sombria marcada pela guerra, após cair em uma armadilha, Alexander Muller, um jovem morador do Reino da Prata Azul localizado no místico continente de Malicerus, acaba sendo separado de sua família e de seus amigos, e é enviado como um cr...