Parte III - Capítulo 33 - As Minas de Prata

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Alex acordou assustado e sentindo muito frio, estava quase congelando. O vento gelado que passava pelas grades da carroça fazia seus ossos doerem. O dia já amanhecia, mas o sol ainda não havia aparecido para esquentar um pouco o seu corpo, na verdade, ele ficou em dúvida se a luz do sol existia naquela região de Malicerus. Alex sentia uma sensação estranha ao respirar, parecia que o ar estava mais pesado, nunca tinha sentido aquilo. Eles já viajavam a dois dias ininterruptos, praticamente sem água, comida e quase sem paradas para fazer as suas necessidades.

Ao olhar para um lado, a única coisa que conseguia ver era um precipício quase infinito, do outro, um grande paredão de pedra coberto por uma grossa camada branca de gelo e a sua frente apenas uma íngreme estrada que serpeava, subindo a imensidão de uma montanha branca. Percebeu que não estavam mais sendo escoltados pelos cavaleiros a cavalo. Talvez já estivessem chegando ao destino.

— Dormiu muito, garoto — disse Bernard.

Alex olhou para o companheiro de viagem que já estava sentado, encolhido em um canto, também tremendo de frio, e suas algemas estavam esbranquiçadas pelo gelo que se formava nelas.

— Dormi muito sim, perdi a noção do tempo.

— Você fala muito enquanto dorme. Quem é Alfina?

— Não é ninguém importante — respondeu Alex impaciente.

— Não parecia. Você falou tantas vezes o nome dela que achei que fosse alguém realmente importante. Seria a sua mãe? Era dela que aquela mulher estranha estava falando dias atrás? — insistiu Bernard.

— Sim, isso mesmo. Era minha mãe — respondeu Alex se dando por vencido, sem olhar nos olhos do homem.

— Sei como é difícil crescer sem uma referência materna — disse Bernard em tom pesaroso. — Também passei pelo mesmo. E olha o que me tornei: um bêbado encrenqueiro, sendo obrigado a trabalhar em regime de escravidão nessa mina maldita, em uma montanha congelada junto com os anões, enquanto minha esposa e meus filhos ficam passando fome naquele vilarejo esquecido pelo rei.

— O que há de errado com os anões? Por que todos falam deles como se fossem animais selvagens?

— Porque é isso que são. Eles são um povo selvagem que originalmente dominavam as montanhas ao extremo norte do Reino da Prata Azul. Dizem que cavavam iguais toupeiras, a esmo, buscando acumular mais e mais riquezas na Montanha Azul. Com a chegada e predominância das primeiras gerações do homem nestas terras selvagens, eles se rebelaram. Os bardos contam que com a derrota na guerra, para esconderem toda a sua riqueza, eles explodiram a Montanha Azul inteira, uma montanha maior que essa. O que sei é que até hoje ninguém conseguiu mais acessar aquela área.

— Eu já ouvi essa história antes, mas como eles conseguiram explodir uma montanha inteira? — perguntou Alex incrédulo. — Parece meio impossível.

— Ah, isso é algo que morreu com os anões, talvez nunca saibamos.

— Como assim morreu?

— Garoto, há muito mais coisas sombrias sobre a história destas terras que nem ouso comentar, mas simplificando, basicamente, os anões foram aniquilados na Grande Guerra juntamente com todos os povos que viviam aqui. Os poucos anões que sobraram se refugiaram nesta montanha, mas como já sabemos, logo foram encontrados e escravizados pelo homem. Hoje, os que restaram estão todos aqui, explorando as profundezas das Minas de Prata e juntando riqueza para o nosso "querido" rei.

— Como você sabe que tudo isto é verdade? — questionou Alex ainda incrédulo de um bêbado qualquer conhecer tanto de história. — Eu vi algo assim em um livro de acesso proibido, confiscado pelo rei, mas até onde se pode dizer que isto realmente aconteceu?

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora