Capítulo 28 - O grande banquete

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Após resolver todo o embrolho para salvar Ondrolle das garras do príncipe Aldrey, o mago conselheiro do rei seguia até ao castelo no centro da cidadela encolhido em uma carruagem; tudo bem que o plano fugira um pouco do controle, mas havia conseguido contornar Sir Alfred. A carruagem trepidava pelas ruas calçadas de pedra, enquanto o mago observava a formação de nuvens no céu e enchia o veículo da fumaça branca do seu cachimbo. Não choveria aquela noite, apesar do frio, mas as nuvens se acumulavam aos poucos, encobrindo cada vez mais o céu estrelado, deixando a escuridão do reino em festa ainda maior.

O velho relembrava tudo o que havia acontecido no Conselho mais cedo, antes de voltar para a vila onde Ondrolle se escondia com sua família, o acordo havia sido um sucesso, e o rei Bárbaro concordou com os termos de Tenemur e vice-versa; o que talvez colocasse ele em alerta, com a força crescente dos dois reinos unidos, não tardaria a busca pela Espada se reiniciar.

Na entrada do castelo, o velho pediu para parar a carruagem, pois havia sentido uma presença distante, um poder latente. Desceu do transporte e agradeceu ao cocheiro pela viagem, pedindo desculpas por estar abusando da sua boa vontade, segundo ele era a segunda vez aquela noite que alguém o fazia.

O mago entrou no portão de acesso aos jardins reais após se identificar, enquanto o cocheiro dava a volta e seguia finalmente para sua casa. Adentrou no pátio dos alojamentos dos cavaleiros lotado de carruagens luxuosas, procurando pela fonte de poder, mas não conseguia distinguir sua origem. Ele esperou um pouco, se concentrando, pois ainda sentia algo se aproximar, mas, após algum tempo, nada aconteceu, talvez sua intuição tivesse falhado. Quando voltou a caminhar, avistou a jovem mestiça e o filho do Lorde Comandante vindo da direção da cavalariça, correndo afoitos com alguns livros em mãos, um deles, o velho mago distinguiu com sua visão aguçada, era o seu antigo livro élfico que ele havia presenteado Tenemur muitas estações atrás, e o motivo de se tornar um conselheiro.

— Que cena curiosa — o mago sussurrou.

Estranhamente, quando os jovens passaram próximos a ele, a sensação que o velho sentia parou bruscamente. Como ele já previra mais cedo, aqueles jovens eram simples jovens inconsequentes. Os dois entraram em uma carruagem próxima e o cocheiro guiou-os pelo portão de ferro.

O velho mago deu uma última baforada em seu cachimbo, o guardou e seguiu caminho pelos jardins reais, pensando na intrigante cena dos jovens fugitivos. Teriam eles roubado aquele livro bem debaixo do nariz do rei Tenemur? Esta era uma situação para ficar atento, talvez aqueles jovens não fossem tão bobos assim. Mas algo ainda o incomodava, o que era aquele poder que sentia? Há muito tempo não sentia algo parecido, era como se houvesse uma força oscilando em algum lugar por perto, ora oculta, ora altamente explosiva. Infelizmente em meio a tanta gente ele não conseguia se concentrar o suficiente, talvez em outra ocasião.

Cruzando os jardins verdejantes diante de olhares curiosos, valsando brevemente ao som de alguns bardos, conseguiu finalmente chegar até a sala do trono, devidamente decorada para a ocasião, um decoração de péssimo gosto, no entanto; muita prata polida direto das minas onde os pobres anões viviam escravizados, nada comparada a prata azul das profundezas do antigo reino anão, hoje sob os escombros da Montanha Azul, oculto, talvez, para sempre.

Deixando os pensamentos tenebrosos de uma era mágica que nunca mais voltaria para trás, o velho se encaminhou até uma longa mesa próxima ao trono, destinada aos conselheiros do rei e para a sua família. A rainha Aldara já estava devidamente sentada ao lado da imponente cadeira de veludo azul que ficava no centro da mesa, na mesma direção do trono, destinada ao avantajado rei Tenemur, talvez isto justificasse porque era tão grande.

Ao sentar-se ao lado da elegante rainha, cercada de criados em pé ao lado dela, ainda dando os últimos retoques em seu penteado extravagante, percebeu certo ar de repulsa em seu olhar, mesmo assim a cumprimentou educadamente, ela apenas balançou a cabeça e o ignorou completamente. Neste momento, a família do rei Bárbaro Sangrento adentrou no salão, vinda dos aposentos reais, imponentes, com suas vestes negras e pesadas, passaram abrindo caminho, como sempre cercados de cavaleiros negros. Sentaram de frente a eles o rei Bárbaro, a rainha Anette, a princesa Bryana, sempre oculta por um véu negro, e um velho que ele nunca havia visto, mas pelas vestes extravagantes semelhantes a um vestido, e pela estola que envolvia seu pescoço, poderia jurar se tratar de um representante dos deuses.

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora