Capítulo 29 - O traidor de um traidor

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Nas sombras das masmorras gélidas, no subsolo do castelo, Krayv se esgueirava atrás de Sir Alfred, que havia adentrado em uma antessala, antes das celas que aprisionavam os criminosos até serem julgados e transferidos para as Minas de Prata, onde Alex se encontrava detido. O príncipe havia seguido o Lorde Comandante e todos os cavaleiros que o acompanhavam e agora permaneciam de prontidão na porta da sala, aguardando o retorno de Sir Alfred.

Enquanto criava coragem para encarar Sir Alfred mais uma vez, Krayv refletia sobre seu arriscado plano de mais cedo. Infelizmente não havia conseguido destrocar a chave da sala secreta pela falsa que agora estava de posse do rei. Ele teve que fugir as pressas da Biblioteca Real assim que Alex foi capturado, para não levantar mais suspeitas ainda, e agora a chave estava de posse do Lorde Comandante. Pelo menos o caso das criadas trancadas dentro do quarto da rainha Aldara foi tratado apenas como um incidente de puro descuido das mesmas.

Krayv saiu das sombras e se aproximou dos cavaleiros que iluminaram com a ajuda dos archotes que carregavam em sua direção.

— Quem está aí? — perguntou um dos cavaleiros prateados rispidamente. — Identifique-se.

— Sou eu, príncipe Krayvhus — respondeu.

— O que faz aqui? Volte para o banquete, imediatamente! — bradou outro cavaleiro.

— Preciso falar com Sir Alfred, ele me aguarda... — argumentou Krayv.

Neste instante, a porta da sala de Sir Alfred se abriu, e o Lorde Comandante ordenou com ironia:

— Deixem-no entrar, não podemos deixar um príncipe aguardando.

Os cavaleiros prateados abriram espaço entre eles, aparentando confusão com a situação, e Krayv atravessou a porta, chegando a uma pequena sala precariamente iluminada na qual Sir Alfred já se encaminhava para uma mesa retangular ao fundo, coberta de pergaminhos, livros, penas e tinteiros de forma meticulosamente ordenada.

— Sente-se — disse Sir Alfred, indicando a cadeira à frente da qual ele se sentou. — Imagino que tenha alguma explicação para o que está havendo nesta noite.

— Explicação? — perguntou Krayv cinicamente. — Na verdade, só vim comunicar que preciso falar com Alexander ainda esta noite, antes que ele fale com meu pai.

— Príncipe Krayvhus, está achando que estou aberto a negociações? Acha que conseguirá o que quer por quanto tempo?

— Só até o momento que eu precisar. — Krayv se sentou diante do Comandante, e pôde observar melhor o rosto marcado pela idade e cicatrizes de guerra de Sir Alfred iluminado precariamente pela chama trepidante de um castiçal de prata que comportava três velas apoiado exatamente no meio da mesa, entre os dois pares de olhos.

Após uma longa pausa onde os dois apenas se entreolharam enraivecidos, Sir Alfred finalmente se pronunciou:

— Você mentiu para mim, principezinho. Nós tínhamos um acordo, eu facilitaria a sua entrada na sala da Ordem, e em troca eu teria acesso àquele livro...

— Só que, caro Comandante — interrompeu Krayv —, por ironia do destino, estávamos atrás do mesmo objeto. Aquele livro é muito valioso para mim e para os meus planos futuros.

— Planos? Olhe sua idade, garoto. Seus planos no momento, principalmente por ser um príncipe, deveriam ser apenas de conhecer todas as casas noturnas do reino, e nada mais. Ora, planos.

— Pelo visto, Sir Alfred, não me conhece nem um pouco mesmo. Este aí é meu irmão Valerian, eu tenho coisas mais importantes a tratar, por exemplo, a Espada de Prata, não é disso que estão atrás?

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora