Alex entrou em pânico, enquanto os guardas se aproximavam dele. Quando Krayv lhe garantiu que não confessando ficaria tudo bem, ele jamais imaginou este resultado, pensou em voltar atrás e revelar tudo, porém percebeu já ser tarde demais.
Seu pai, pela primeira vez, demonstrou alguma reação, se ajoelhando aos pés do rei Tenemur e implorando desesperadamente:
— Vossa Majestade, por favor, reconsidere, por todos os anos de minha vida dedicados ao reino, perdoe essa falha do meu filho. Ele é apenas uma criança. Não existe prova alguma de que ele cometeu algum crime, nada foi encontrado com ele...
— Basta! — interrompeu o rei, se desvencilhando do pai de Alex. — É neste momento que volto a lhe perguntar, Artur, o quão fiel você é ao seu rei? Dou-lhe duas opções: ou continua trabalhando na forja, sendo leal a mim, ou siga com seu filho e com a sua família para as minas. Mas lembre-se, esta é uma opção sem volta.
Alex se aproximou de seu pai e o ajudou a levantar-se.
— Pai, se acalme. Tudo vai dar certo. Logo estarei de volta. — Alex tentou consolar o pai, mesmo com a sensação de que não o veria mais por muito tempo, ou mesmo para sempre. — Logo tudo será resolvido e eu voltarei. Não se preocupe comigo, já sou grandinho e já sei me virar.
— Por que você foi confiar nessa gente, Alex? — sussurrou Artur no ouvido de Alex, após lhe dar um último abraço. — Eles são todos iguais. Não somos nada para eles além de peões em um tabuleiro de xadrez: somos descartáveis. Servimos apenas para fazer o trabalho sujo. Foi assim com a sua mãe...
— Como é? O que houve? — tentou perguntar Alex, mas Artur não teve a chance de responder.
— O espetáculo acabou! — bradou Sir Alfred, ao se levantar diante do público exaltado que imediatamente se calou. — Levem o traidor daqui agora. O transporte para as minas sairá imediatamente.
Dois guardas cercaram Alex e começaram a conduzi-lo pelo salão até a saída do castelo. Alex deixou o pai com lágrimas nos olhos para trás e seguiu seu caminho. A multidão fervorosa não conseguia conter os comentários dos mais diversos tipos. Toda a procissão pareceu durar uma eternidade. Nos jardins, do lado de fora do castelo, vários nobres perambulavam, enquanto alguns criados cuidavam da bagunça do banquete do dia anterior e já preparavam o novo banquete.
Apenas uma coisa se passava na cabeça de Alex: onde estariam seus amigos? Apenas Krayv o havia visitado na cela. Alf e Ethel tinham desaparecido desde então. Ao saírem do castelo, chegando na cavalariça, logo Alex avistou uma velha carroça de madeira estacionada, cercada por barras de ferro e conduzida por dois cavalos cobertos com mantas quentes.
Um dos cavaleiros de prata destrancou um imenso cadeado na porta da cela móvel e jogou Alex dentro, voltando a trancá-la em seguida. Um homem magro, sujo e desgrenhado, com braços e pernas algemadas por grossas correntes, se encontrava sentado no assoalho forrado de feno úmido. O cheiro de capim podre misturado ao cheiro de álcool barato vindo do homem invadiu as suas narinas. Alex tratou de se acomodar em um canto enquanto esperava. Infelizmente ele não sabia mais o que esperar em seu destino traiçoeiro.
— Mas olha só o que temos aqui, a viborazinha finalmente foi enjaulada.
Alex olhou para o lado através das grades e se deparou com a última pessoa que queria ver naquele momento: a mulher de seu pai. Filipa trajava um vestido de algodão marrom e puído, que combinava com sua grande cabeleira desgrenhada e esvoaçante.
— Finalmente encontrou o seu lugar merecido — continuou ela, mostrando seus dentes amarelados e falhados para Alex em um largo sorriso. — Você desonra toda a família. Você é tolo como a cadela da sua mãe. Sabia que ela teve um destino muito parecido com o seu? Aquela vadia confiou demais em quem nunca se deve confiar. Só que no caso dela, acabou morta.
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A Espada de Prata - O arauto do gelo
FantasyEm uma era sombria marcada pela guerra, após cair em uma armadilha, Alexander Muller, um jovem morador do Reino da Prata Azul localizado no místico continente de Malicerus, acaba sendo separado de sua família e de seus amigos, e é enviado como um cr...