Capítulo 24 - O mestre das chaves

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Eles contornaram o castelo até uma parte lateral mais afastada e menos movimentada.

— Ali — disse Krayv, apontando para um coreto parcialmente na penumbra onde se encontrava uma garota com um longo vestido dourado e volumoso, com mangas bufantes e fitas passando pela cintura, onde se formava um grande laço nas costas; e um rapaz roliço apertado em um gibão de veludo preto, sobreposto por um casaco azul abotoado, de onde os botões quase saltavam de suas botoeiras. Eles pareciam incomodados com a situação.

Alex se aproximou dos dois, segurando um leve sorriso diante do constrangimento dos amigos, Ethel estava quase irreconhecível, deslumbrante, com os cabelos presos no alto da cabeça, com algumas mechas soltas sobre os ombros, o suficiente para cobrir suas orelhas. Nunca havia avistado Ethel daquela forma.

— Por favor, não digam nada — Ethel tratou de advertir o grupo sobre qualquer tipo de questionamento sobre seus trajes —, vamos direto ao plano. Estou sem ar com esta roupa que minha mãe me obrigou a vestir.

— Minha avó acha que ainda tenho dez anos — resmungou Alf, fazendo Alex pensar que nem com dez anos o amigo caberia naquelas roupas de forma confortável.

— Então vamos nos dividir — ordenou Krayv. — Ethel e Alf, sigam para a biblioteca conforme o combinado. Podem ir pelo corredor principal mesmo, ninguém vai perceber. Quando chegarem aos guardas, digam que o Lorde Comandante solicita a presença deles no grande salão, para tratar de assuntos da Ordem, eles não vão contestar.

— Ordem? Como assim assuntos da Ordem? — perguntou Ethel curiosa. — Você nunca falou nada sobre isso.

— Depois eu explico, não temos tempo — respondeu Krayv impaciente.

— Mas meu pai não vai estar no grande salão, ele ainda não chegou, ele disse que tinha assuntos a tratar antes da cerimônia, quando passou lá em casa mais cedo. Se Ethel não tivesse passado para me buscar, minha avó iria ter me trazido, mas isto seria mais constrangedor que estas roupas que estou usando — indagou Alf.

— Vamos ter foco. Eu sei que Sir Alfred não vai estar no grande salão, mas isso nos dará mais tempo ainda — continuou Krayv. — Eu e Alex vamos pegar um atalho mais seguro até a torre dos aposentos dos meus pais. Não se esqueçam: se algo der errado, improvisem. Não podemos falhar. De qualquer forma, tenho um plano reserva.

Alf e Ethel, a contragosto, consentiram e seguiram de volta à entrada principal do grande salão, onde pegariam o corredor principal e desceriam as escadarias ao fim, para chegarem aos corredores subterrâneos, onde ficava a Biblioteca Real.

Alex e Krayv seguiram para uma parte mais escura, bem no final do jardim. Acessaram em seguida uma grande cozinha, onde vários criados trabalhavam arduamente em fogões e fornos. Saíram em um grande corredor quase que totalmente encoberto pelo breu da noite e subiram uma escadaria até o próximo andar, também pouco iluminado, visivelmente aquela área não havia sido preparada para a festa.

Naquele andar, no meio do caminho, tiveram que parar e se esconder atrás de uma armadura de cavaleiro empoeirada que ficava no meio de um longo corredor, pois uma senhora de meia idade, muito bem apessoada e com um vestido da cor do brasão real, vinha caminhando elegantemente, carregando várias joias reluzentes pelo seu corpo; estava acompanhada de alguns criados que davam os últimos retoques em suas roupas e cabelos.

— Minha mãe — sussurrou Krayv —, meu pai já deve estar no banho. Temos que ser rápidos.

Após a passagem da rainha Aldara, os dois seguiram esgueirando-se pelos corredores até encontrarem uma escadaria em espiral que levaria a torre dos aposentos reais. Subiram sorrateiramente até chegar a um pequeno corredor com duas grandes portas de madeira de carvalho ao final, uma de frente a outra. Uma delas era guardada por um cavaleiro prateado e corpulento.

A Espada de Prata - O arauto do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora