Alf acordou muito disposto naquela manhã, mesmo muito preocupado com o destino do amigo, Alex; Krayv havia garantido que ele ficaria bem, e tinha muita confiança nas palavras do príncipe, apesar de eles não terem mais se falado desde o envio de Alex para as Minas de Prata. Seu pai, Sir Alfred, havia lhe informado que as minas não eram tão ruins assim, e que em breve Alexander retornaria como outra pessoa, iria aprender como exercer diversos tipos de trabalhos, ser educado, instruído nas artes de luta, talvez até mesmo conseguisse uma vaga na Guarda Real após a sua redenção, segundo ele, Sir Hector, o comandante das minas, tratava os jovens infratores da melhor forma possível.
Mesmo com todas essas indicações de que Alex estaria bem e em breve novamente entre eles, Alf não havia se conformado de ter participado do crime que culminou na prisão do amigo e não vinha dormindo bem desde os últimos dias; ele inclusive havia pensado em sugerir ao pai confessar a sua participação ao rei Tenemur para tentar ajudar Alex, mas estranhamente Sir Alfred sempre se lembrava de alguma atividade no castelo quando Alf sequer demonstrasse o teor de tal assunto, tendo seu pai nos últimos dias se limitado a dormir na cavalariça todas as noites, e a fazer passagens rápidas por sua casa apenas para se alimentar e instruir Alf em seus supostos treinos diários.
Na última noite, entretanto, sua avó, Águeda, lhe preparou um chá com alguma erva estranha da horta que era cultivada na parede externa da cozinha, ao lado do pátio onde ele deveria estar treinando naquele exato momento, inclusive; desta forma Alf havia conseguido finalmente uma noite sem pesadelos e sem o peso da culpa. Acordou tão disposto que resolveu dar uma olhada pela primeira vez no velho livro de receitas que havia retirado da sala secreta, os outros dois livros ficaram de posse de Ethel. Alf pretendia fazer uma surpresa para a avó preparando por conta própria alguma receita especial.
Alf seguiu até a cozinha de sua casa, passou pela criada que cuidava de todos os afazeres, exceto da preparação das refeições que ficava a cargo da própria Águeda, sentou-se à mesa, e abriu o livro que não tinha título, apenas o desenho de um caldeirão na capa, na primeira folha havia um leve texto falando que aquele livro trazia grandes receitas de culinária e alquimia. Alquimia? Alf se lembrou de já ter ouvido esta palavra em algum lugar, talvez Ethel tivesse dito algo sobre o assunto, mas ignorou esse fato. Ele sabia que a sua avó acordava um pouco tarde, e talvez conseguisse preparar a surpresa aquele dia mesmo, entretanto, Alf ficou levemente decepcionado com o que estava lendo, todas as receitas das primeiras páginas tinham nomes estranhos e parecidos, em letras quase indecifráveis, tudo envolvia poções da audácia, da disposição, do amor, da felicidade, nada que parecesse interessante de se fazer, tudo levava muitos ingredientes com nomes difíceis que ele nunca havia ouvido falar, tampouco achou que encontraria aqueles ingredientes na cozinha ou na horta de Águeda. Aquele livro parecia um compilado de chás medicinais, coisa que sua avó já o ensinava, mas que ele nunca conseguia decorar tantos nomes estranhos de pós, raízes e ervas, todavia ele tinha certeza que praticar um roubo para aprender fazer chá não havia sido a sua intenção.
Pulando essa parte inicial de receitas de chás desinteressantes, Alf chegou na segunda metade do livro, que lhe chamou mais a atenção. A primeira receita se chamava bolinho do dragão, e em letras rebuscadas conseguiu ler que a descrição dizia: coma e ruja forte como um dragão. Alf sorriu sozinho com a descrição exagerada. O número de ingredientes não era tão grande assim, o que o deixou bastante animado, apesar de mais da metade deles não ser de seu conhecimento. Decidiu que faria os bolinhos do dragão, mas uma brisa repentina da manhã outonal, vinda de uma janela entreaberta na cozinha, avançou várias páginas do livro de receitas. Quando Alf conseguiu conter o ímpeto da ventania, percebeu que o livro havia parado em uma página com letras ainda mais difíceis de decifrar, mas que com algum esforço ele conseguiu distinguir o título "bombas de mel selvagem". Havia um doce que ele já comera no castelo com esse nome, e o preparo parecia seguir a base de um pão. Mel selvagem ele encontrava na cozinha, e a receita levava uma grande quantidade, entretanto dois ingredientes chamaram a sua atenção: enxofre e salitre. O que seriam esses ingredientes? Nunca havia ouvido falar neles, nem em alguma receita que os levasse. O modo de preparo era simples, mas as letras estavam levemente apagadas, ele só conseguiu distinguir a frase: misture todos os ingredientes.
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A Espada de Prata - O arauto do gelo
FantasíaEm uma era sombria marcada pela guerra, após cair em uma armadilha, Alexander Muller, um jovem morador do Reino da Prata Azul localizado no místico continente de Malicerus, acaba sendo separado de sua família e de seus amigos, e é enviado como um cr...