A escolha de Andrade - Rabia

A imprudência

Bianca encarava a loira em completo silêncio esperando que ela dissesse que aquilo não passava de uma brincadeira sem graça. A retratação não veio. Rafaella a encarava sem desviar os olhos, sentindo o coração se quebrar em milhares de pedaços, mas sabendo que precisava daquilo mais do que nunca.

A morena não a amava. Não a respeitava. Nem mesmo se importava. E Rafaella nem sabia o motivo de ter adiado aquele pedido por tanto tempo. Bianca não queria uma família nem mesmo uma esposa, ela queria prestígio, queria ser invejada e desejada. E Rafaella estava disposta a dar a liberdade para que ela pudesse alcançar aquele patamar.

— Você está surda, Bianca? Eu mandei sair da minha casa.

— Você só pode estar brincando, Rafaella! Que história é essa de divórcio?

Rafaella ficou surpresa com aquela resposta. Esperava que Bianca entendesse e fosse embora o mais rápido possível, mas a morena tinha que tornar as coisas mais difíceis ainda.

— Eu não te suporto mais, Bianca. E você muito menos. Cansei. É isso, estou exausta, acabada. Você me levou em um nível que eu jamais achei que suportaria. E por mim, e principalmente pelos nossos filhos, eu não quero mais.

— Não quer mais?! É assim? Você está me chutando por uma besteira dessas?

Bianca gesticulava no ar, completamente desacreditada nas palavras da loira. Não era para tanto, tinha feito uma escolha errada, mas isso não significava que deviam se divorciar. Era só uma situação difícil, iriam lidar com ela.

— Besteira? Bianca, você não dá a mínima pra mim. Não dá a mínima para como eu me sinto. E se ao menos fosse porque você realmente ama estar em uma cirurgia, salvando vidas, como você acabou de gritar na minha cara, eu entenderia, aceitaria até. Mas nós duas sabemos que não é por isso que você não me escolheu essa noite e em outras diversas vezes.

— Se você quer essa porra, então que vá atrás sozinha!

— Ah, mas eu vou. Não pense que dificultar as coisas pra mim, vai fazer eu mudar de ideia, Bianca. Se for preciso, eu pego na tua mão e te faço assinar.

A mulher não estava brincando, e a morena percebeu. Pegando o que sobrou da sua dignidade, Bianca engoliu o choro erguendo o queixo para sair de cabeça erguida.

— Pois não se preocupe, eu assino essa porra. Você está me dizendo que quer me dar liberdade, mas quem quer isso é você, Rafaella. Pode deixar que eu não vou te enlouquecer ainda mais, porque foi isso que eu fiz nesses quinze anos, não é?! Boa noite, Rafaella, depois peço para buscarem minhas coisas.

E sem olhar para trás Bianca saiu da casa batendo a porta com força. Se Rafaella desejasse o divórcio, que ela fosse atrás. Entrando no carro sem saber para onde ir, Bianca deixou a garagem de casa sentindo lágrimas descerem pelo rosto sem qualquer autorização.

Rafaella não dormiu naquela noite. Não chorou, nem mesmo se arrependeu do que falou para Bianca. Teria dito quantas vezes fosse necessário, e se pudesse teria dito coisas piores. Eram anos guardando coisas, meses de erros e mais erros, Bianca não merecia compaixão nem suavidade. Passou a vida sendo mimada pelos pais, principalmente pelo pai. O que mais a mulher estava acostumada era que passassem a mão em sua cabeça quando cometia um erro.

Rafaella não faria isso.

No domingo de manhã, ainda sem sono, a loira se arrumou e dirigiu até a casa dos pais. Lua e Anthony tinham dormido por lá, pois Rafaella sabia que quando Bianca chegasse em casa as duas teriam outra discussão insuportável. Daquela vez, tinha poupado as crianças.