Convite para restaurar

1.8K 213 269
                                    


Bianca entrou em uma batalha de pensamentos conflituosos assim que recebeu a resposta. Uma parte de si queria gritar e quebrar tudo que visse pela frente, sair batendo a porta sem nem dar oportunidade de Rafaella dizer mais alguma coisa. Mas tinha feito uma promessa. Disse que iria ficar. E ela ficaria.

Piscando diversas vezes os olhos para tentar conter as lágrimas, a morena deu as costas para Rafaella caminhando até a porta que dava acesso a sacada do quarto. Sentiu a mão de Rafaella lhe rodear o pulso, mas não queria olhar a mulher naquele momento. Estava despedaçada. Quebrada por completo. Aquela era a última pá que tinham jogado nela.

Não imaginava que fosse real. Quando conversou com a mãe e ouviu ela dizendo que Rafaella podia estar com alguém, achou que fosse um blefe. Não estava preparada para aquela verdade dolorida. Nunca tinha olhado para ninguém desde que tinha visto a mulher pela primeira vez, na praia durante a virada.

— Bia, por favor...

— Me dá um tempinho. Prometo que fico, só preciso de um tempo.

— Não fica brava com isso.

— Um tempo, Rafa. Só isso.

E ainda sem encarar a loira, Bianca se desvencilhou do toque caminhando para fora do quarto.

Era uma noite quente e úmida na capital carioca. O que era uma verdadeira droga, pois Bianca amava o frio. A dor latente no peito só não era pior que sua consciência lhe gritando o quanto tinha culpa naquele acontecimento.

Se tivesse sido uma esposa melhor, uma mulher melhor, alguém à altura de Rafaella, não estaria passando por aquilo. A culpa era toda sua. Era alguém egoísta, prepotente, egocêntrica, arrogante. Não se aguentava mais. Bianca não se suportava mais.

Se ela não se aguentava, como alguém poderia suportá-la? Rafaella merecia alguém melhor. Se Gizelly era esse alguém, Bianca não tinha o que fazer se não aceitar. Não estava feliz por aquela alternativa, mas não existia uma outra.

Tinha perdido Rafaella. Ela aceitava a derrota com gosto amargo de culpa.

Um bolo lhe sufocou a garganta, crescendo junto o desespero do fundo do seu âmago. Queria gritar. Queria extravasar toda sua raiva em algo palpável. Queria acordar em uma manhã qualquer antes de fazer tudo errado. Mas seus desejos eram inalcançáveis, tanto que Bianca recusou chorar.

Engoliu em seco, arranhando a garganta, antes de voltar ao quarto e encarar Rafaella. A loira estava sentada na cama, com o rosto enterrado entre as mãos. Parecia exausta. Devia estar exausta. Bianca conhecia a mulher como ninguém.

— Não precisa se preocupar, com o pai da Lua. Vou procurar ajuda jurídica. Vai dar tudo certo.

— Bia, eu preciso...

— Você precisa descansar. Foi um dia intenso, eu sei que foi. Não precisa gastar sua energia comigo.

— Não fala assim, eu quero...

— Por favor, Rafa. Eu tô fazendo um esforço danado pra não pensar em mim agora, pra não ser a egoísta filha da puta que fodeu com tudo. Por favor. Eu não quero falar sobre o seu beijo com a... Enfim. Não tem o que explicar, não tem o que dizer. Não estamos juntas, né? Você estava e está livre pra sair com quem você quiser. Eu consigo lidar com isso. Não era como se fossemos voltar.

— Não, Bia, você entendeu errado. Por favor, me ouve.

Mas Bianca não queria. Estava machucada demais. Não queria ouvir mais daquela história, porque já estava doendo muito.

A escolha de Andrade - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora