Laços

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Bianca não poderia reclamar da sua atual posição. Nem tinha motivos para isso.

Se sentia em êxtase sempre que se lembrava do quanto Rafaella tinha lhe dado espaço para voltar e dos vários acertos que tinha feito até então. Sabia que teria que ir devagar, aos poucos, mas não se importava com isso. Rafaella ainda a amava e a queria.

Quando voltou ao hospital, em um dia comum sem plantão, Bianca se encontrou com Rebecca antes de iniciar as consultas. Estavam sentadas no consultório, dividindo um café doce e forte comprado pela jovem médica. Até mesmo Rebecca sabia das preferências da amiga.

— Você sabe que não pode fofocar do que eu te falei, certo?

— Sei. Não falei a ninguém, a não ser para a minha esposa. — o tom tendencioso de Bianca nem chegou a atingir Rebecca que continuou a bebericar o café quente — Mas por que a Flay te diria uma coisa dessas?

— Talvez ela gostaria que você soubesse também. Não sei, a irmã é sua.

— É minha, e por conhecê-la que eu tenho esse receio em deixar que eu saiba disso.

— Por que? A bicha é ruim assim?

Bianca suspirou deixando o copo térmico na mesa de trabalho. Não. Sua irmã não era uma pessoa ruim, jamais tinha sido. Flay era alguém comum, com seus defeitos e qualidades que em determinados momentos um sobressaia mais que o outro. Não a julgava por isso. Em determinada época, Bianca e Flay eram tão próximas e tinham uma relação de cumplicidade tão grande, que difícil era vê-las separadas.

Mas tudo mudou quando Rafaella chegou. Talvez fosse pelo ciúmes, mas Flayslane jamais se deu bem com Rafaella. As coisas foram para outro patamar quando Bianca pediu a mulher em casamento, um ano depois de Lua nascer. Rafaella não aceitou e Flay gostou daquilo.

— Não. Ela é ótima, mas mudamos muito depois que eu virei mãe e fui estudar fora.

— E vocês tem uma boa relação?

— Você me fez lembrar de algo agora. — um sorriso pequeno despontou no rosto da médica o que causou uma curiosidade em Rebecca — A primeira garota com quem eu dormi, foi uma amiga dela. A gente saiu escondido dos meus pais pra comemorar minha aprovação na faculdade, eu tinha dezesseis ela dezenove. Fomos numa festa de uma das amigas dela. Foi o meu primeiro porre, minha primeira vez e minha primeira fuga. A Flay sempre foi ótima comigo.

Rebecca então percebeu que o desânimo aparente da amiga, não era à toa. Ali, entre Flayslane e Bianca existia um relacionamento amoroso de duas irmãs que se gostavam e se amavam. Rebecca se sentiu mal por ter duvidado de Flayslane em algum momento. Tudo bem que tinha muitas coisas estranhas nas ações e palavras da mulher, mas ela seria incapaz de prejudicar Bianca.

Deveria ser ao menos.

— Acho que eu deveria tentar pedir desculpas pelas vezes que nos atacamos por conta desse cargo idiota.

— Deveria sim. Eu não tenho irmãs, mas ver você falando bem das suas me deu um pouco de ciúmes aqui.

— Ah, nem tudo são flores. Uma vez machuquei a Marcela tão feio que arrumei as malas pra fugir. Em outra vez, ela me queimou para toda a escola porque eu não quis sair com ela. Tem tanta coisa que irmãos fazem que não é nada legal.

— Mas tem a cumplicidade, o amor, o carinho.

— Tem. É por isso que eu e a Rafa decidimos ter outro filho depois da Lua. Ela foi a neta única por anos, e só deixou de ser depois que tivemos o Anthony. Depois do Tony meu cunhado resolveu me acompanhar e teve um filho.

A escolha de Andrade - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora