Progresso quase inexistente

1.8K 210 427
                                    



Rafaella sorriu ao apertar a mão que lhe foi estendida, ganhando um sorriso branco e nada natural de volta. Tinha assinado o contrato com Caon, que estava mais do que feliz de poder se juntar ao escritório das duas mulheres.

A sociedade carioca estava curiosa para conhecer mais sobre as arquitetas vencedoras de um prêmio tão prestigiado, o que levava à Rafaella e Manoela aumentarem ainda mais o seu número de funcionários. Só na segunda semana após o evento, tiveram que contratar dois novos estagiários e um recém formado, enquanto flertavam com uma arquiteta com currículo impecável.

Rafaella estava em ascensão profissional. Tinha vindo um pouco tarde, mas não importava. Estava feliz pelas conquistas profissionais, mesmo que a vida pessoal estivesse uma droga.

E como estava. Sentia tanta saudade de Bianca que dormi na cama vazia já não era possível. Por diversas vezes ia encontrar refúgio na cama da filha e Lua não questionava as aparições da mãe. Tinham coisas que necessitavam de tempo para serem libertas.

— A Gi está me convidando pra jantar.

Manoela sorriu para a amiga. Tinha notado na festa que foram em uma noite de sábado que Gizelly olhava com um brilho diferente a loira. A paixão platônica da advogada ainda perdurava por anos. Era até mesmo triste, mas a mulher não tinha nada a ver com aquilo.

— Você vai?

— Não sei, você vai?

— Claro que não, Rafa, é um encontro. Não vou ficar de vela pra você.

— O quê?! Encontro? Claro que não. Somos só amigas.

Era o que Rafaella se apegava. Não podia se envolver com ninguém, nem mesmo cogitar aquela ideia. Era mãe de uma adolescente e de um garoto de cinco anos e ainda tinha que lidar com a loucura do trabalho em meio a todo aquele caos positivo.

Não tinha tempo para se envolver com ninguém. Nem mesmo queria. Seu coração era somente de Bianca, mesmo que ela não merecesse.

— Eu sei que são, mas amigas podem transar. Uma amizade colorida não mata ninguém.

— Eu tenho trinta e três, Manu, não tenho idade pra ter amizade colorida.

— E desde quando existe idade?

— Mesmo não tendo, sou incapaz de transar com alguém que não seja a Bia. E nem preciso de sexo.

Manoela riu alto. Achava um absurdo aquele apego descabido de Rafaella com a ex-mulher que vivia fazendo diversas cagadas. Entendia que demorava o processo do luto, mas ainda sim apoiava que a amiga superasse.

— Todo mundo precisa de sexo, Rafa.

— Eu só sei transar com a minha mulher, mais ninguém além dela.

— Você ainda tem esperança, não é? De a Bianca se transformar numa princesa digna de filme infantil, te dando tudo que você merece. Uma esposa exemplar.

Rafaella não respondeu de imediato, pois não sabia a resposta. Queria sim Bianca de volta, mas não como alguém que ela não era. Os anos tinham se passado, havia mudanças irreparáveis em ambos os lados. Rafaella era uma pessoa diferente da que se apaixonou aos dezoito anos por Bianca Andrade, a jovem mais genial da faculdade. Assim como a médica não era a mesma.

Não queria um exemplo, porque ele não existia. Bianca poderia mudar novamente, mas ainda seria passível de erros e Rafaella não se importava com eles. Desde que fossem erros novos.

A escolha de Andrade - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora