A traição de Lua

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— ... e então... Eles foram felizes para sempre. — finalizou Bianca com um longo suspiro cansado que antecedeu um bocejo. Do outro lado da cama, Anthony acompanhava a mãe com os olhos curiosos, bem distante do sono. 

 Bianca se esticou sobre o móvel lateral onde guardava um abajur, única iluminação do quarto, pronta para desligá-lo e se render ao cansaço que insistia em tomar seu corpo. No entanto, antes que pudesse atingir o seu objetivo, Anthony se ajeitou sobre o colchão, apoiando o queixo na mão com um olhar próximo de preocupação. 

 — Mamãe... 

 — Sim, querido. 

 — A Lua está bem? 

 Aquela era uma pergunta que Bianca não sabia responder nem se quisesse. Sabia tanto quanto o filho caçula, ou seja, nada. Ao ver a cena da esposa abraçada à filha no chão, resolveu dar espaço, pois parecia ser o que Lua desejava. Desde então, tentava fazer Anthony dormir, o que estava sendo mais difícil do que imaginava ser. O garoto estava agitado demais, tirando energia de onde Bianca nem sabia ser possível. 

 — Se não estiver, logo ficará. — achou melhor não se aprofundar no assunto, mesmo estando tão preocupada, e de certa forma curiosa, para saber o que tinha acontecido. — Vamos dormir, uh?! Já é tarde e sua mãe não vai gostar de saber que ainda está acordado.

 — Você também é a minha mãe... — contra argumentou o garoto, desejando se estender um pouco mais. 

 — Mas nós sabemos que existe uma hierarquia nessa casa.

 — Hierarquia? — questionou Anthony inclinando a cabeça para o lado com as sobrancelhas franzidas. 

 — Existem níveis de comando nessa casa. Sua mãe é a maior de todas. Acima dela só Deus e o helicóptero da polícia... — brincou Bianca, notando que o filho parecia ainda mais confuso. — Foi uma brincadeira, filho. 

 — Ah!

 — Mas em resumo, sua mãe manda em todos nós. E se ela falou que você tem que dormir cedo, não vai ser eu que vai contestar. 

 — E por que não? 

 — Uh... Porque... Bom, porque... — Bianca se calou, aceitando a derrota clara. Não conseguia explicar ao filho mais novo porque não tinha autoridade na própria casa. 

 — Você tem medo da mamãe? 

 A doutora então arqueou as duas sobrancelhas surpresa pela constatação do caçula. Estava tão na cara que tinha certo receio em ir contra as ordens da esposa? 

 — N-não. O que é isso? Medo da sua mãe? Que ideia mais sem noção, filho. 

 — Eu acho que tem sim. — acusou o garoto, com um brilho terrível nos olhos. Brilho esse que lembrava o da filha mais velha. 

 — Não pense bobagens, Tony, eu jamais teria medo da sua mãe. Aliás...

 — Bianca! — um chamado irritado interrompeu a conversa de mãe e filho que se desenrolava sobre a cama, e sem esperar pela interrupção, Bianca saltou assustada sentindo o coração ir a mil. 

 — Tem medo da mamãe sim! 

 — Olha o horário, Bianca, pelo amor de Deus! O que vocês dois estão fazendo acordados? 

 Em pé, de braços cruzados, Rafaella fuzilava a esposa encolhida em meio a cama, do lado de um Anthony entretido no desenrolar da cena. Para o garoto era hilário ver um adulto com medo de outro adulto. Nem mesmo ele sentia qualquer temor pela mãe. 

 — Desculpa, amor, a gente estava só conversando. 

 — Conversando? É quase meia noite, Bianca! 

A escolha de Andrade - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora