Castigo divino

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eu sei que ninguém pediu, mas eu quis fazer, só preparem o psicológico de vocês e é isso



A cada passo que dava acompanhada da família, Bianca via o pedido de divórcio se aproximando.

Rafaella mantinha o semblante carregado, um olhar que queimaria qualquer um, mas que era exclusivo da esposa. Talvez Bianca não conheceu o plano astral naquele dia por ter os filhos como testemunhas de seu assassinato, porque vontade era o que não faltava em Rafaella.

Caminharam por menos de cinco minutos em silêncio. Há metros era visível o começo da cidade até então desconhecida por Rafaella. Talvez se não estivesse consumida pela raiva de estar andando em uma estrada teria percebido onde estava, porque conhecia aquele lugar muito bem.

— Ei, espera aí, amor. — pediu a morena, aumentando a velocidade dos seus passos para alcançar a esposa. — Rafa, por favor.

— O que foi agora?! — com raiva, a mais alta se virou fitando a esposa com um olhar raivoso, que dava medo em qualquer um.

— Será que a gente pode passar rapidinho na praia? Eu sei que é pedir demais e eu sei que a gente tá fodida, mas eu juro que preciso disso. Por favor.

Lua mordeu a boca nervosa com o desenrolar daquilo. Tinha sua mãe Rafaella soltando raios pelos olhos e Bianca testando a paciência dela. Era um compilado que daria muito errado se fosse qualquer outra pessoa tentando, mas se tratando da doutora Andrade aquilo tinha grandes chances de dar muito certo.

Irritada, com os pés começando a doer, Rafaella pensou em desferir uma sequência de tapas e xingamentos à esposa, mas preferiu se controlar perto dos filhos. A praia estava longe ainda, dava para vê-la ao horizonte, mas nem por um momento cogitou se aproximar uma vez que tinham coisas mais urgentes a resolver.

— Até o final do dia ou você vai virar uma divorciada ou eu vou virar uma viúva, Bianca. Eu juro!

A passos pesados e com mais raiva ainda, Rafaella se virou caminhando em direção a praia distante. Não sabia exatamente onde estava, sua ira lhe cegava os olhos, mas imaginou que o quanto mais cedo fizesse o que Bianca queria, mais cedo resolveria o problema do carro e assim chegariam ao destino que ela sequer sabia qual era.

Logo atrás Bianca piscou um dos olhos para a filha e bagunçou o cabelo do caçula em seu colo. Se aproximaram da praia, todos em um silêncio carregado. Bianca ao chegar na areia, desceu Anthony do seu colo e pediu com o olhar para que a filha ficasse com o irmão ali enquanto ela dava continuidade a tudo aquilo.

— Vem aqui, amor. — a médica pediu estendendo a mão à esposa irritada.

— Bianca, pelo amor de Deus! Faça logo o que você tem que fazer.

— Ué?! Eu estou fazendo. Vem aqui logo, mulher.

A contragosto ela foi. Pegou a mão estendida e se deixou ser conduzida até as ondas que quebravam na areia. Foi então que seus olhos minuciosos captaram um pouco mais do cenário ao redor. Conhecia aquela praia. Conhecia aquele lugar.

Imediatamente girou o pescoço buscando por mais elementos que pudesse lhe confirmar onde estava, mas sentiu Bianca puxar sua mão para que voltasse a encarar. Com o cenho franzido, ela fitou o rosto da esposa encontrando um sorriso culpado, mas que era de longe falso. Conhecia Bianca muito bem para saber que ela aprontava e adorava fazer isso.

— Quando eu estava sentada ali... — apontou a morena para um ponto na areia um pouco distante de onde estavam. —, tinha a certeza que eu nunca seria de ninguém. Que eu nunca teria alguém. Eu tinha certeza que meu coração estava fechado para amar, porque ninguém seria digno o suficiente. Mas aí, ainda sentada ali, eu olhei pra cá. Você estava aqui, amor. Estava aqui sozinha, em plena virada do ano e eu pensei "porra, eu preciso dela". Eu ainda preciso dela. Eu ainda preciso de você. Te trouxe aqui porque o nosso aniversário de casamento está chegando e eu precisava te dar algo que estivesse a sua altura.

A escolha de Andrade - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora