Quarto 905

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Bianca sentiu que tinha alguma coisa fora de lugar quando chegou em casa naquele dia. Não se atrasou como de costume, porque decidiu que faria o restante do trabalho durante a madrugada para não atrapalhar o jantar com a família.

Comeram juntos, falaram sobre os próximos jogos de Lua em um campeonato estadual, de um passeio da turma de Anthony e quando questionaram Rafaella sobre o seu dia, ela respondeu de forma genérica e sem aprofundamentos. Foi então que Bianca percebeu que tinha algo acontecendo. Esperou os filhos dormirem, e checou duas vezes antes de ir para o próprio quarto. Não fazia ideia do que estava incomodando Rafaella, mas sabia que não tinha feito nada.

Fechou a porta atrás de si, sentindo o coração bater frenético, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Estava mesmo com medo? E como não estaria? Rafaella era tão brava quando irritada. Seu medo era justificável.

— Amor?

Rafaella não respondeu. Continuou olhando algo no celular sem dar a mínima de onde Bianca estava. Pedindo aos deuses protetores, a médica se aproximou da loira com certo receio de receber um tapa na cara, mas ainda sem saber o que poderia ter acontecido. Tentou beijar os lábios da esposa, no entanto, Rafaella desviou se levantando com raiva da cama. Bloqueou o aparelho e buscou alguma coisa na gaveta da mesa lateral.

— Pelo amor de Deus, Rafa, fala comigo. O que eu fiz dessa vez?

Se levantando para se aproximar da loira, Bianca cessou os passos assim que Rafaella espalmou a mão em seu peito junto de uma folha de papel. Pegando a folha em mãos, Bianca encarou os verdes com uma curiosidade imensa. O que tinha naquela droga de papel para fazer Rafaella ficar tão possessa?

— Você tá me traindo, Bianca?

As poucas palavras foram o suficiente para fazer Bianca abrir a boca incrédula. Não estava acreditando que Rafaella tinha feito aquela pergunta. Suspirando para manter a paciência, a médica encarou em silêncio a esposa, esperando a retratação daquela pergunta, que obviamente não veio.

— Você está mesmo perguntando isso, Rafaella?

— Estou. Antes você admitindo pra mim do que eu te pegando no pulo.

— Não tem nada pra você pegar no pulo. Não estou te traindo. O que é isso aqui?

Levantando o papel no ar, Bianca ficou esperando a resposta por muito tempo. Rafaella a encarava com tanta intensidade, buscando algum vestígio de mentira ou qualquer outra coisa que pudesse denunciar que Bianca estava mentindo, mas Rafaella não encontrou nada.

— A fatura de um dos seus cartões.

— Fatura? Eu pago tudo pelo aplicativo.

— Eu sei, Bianca, mas chegou ontem pelo correio. Lê essa porra e tira suas conclusões.

Bianca abriu a fatura passando os olhos pelas informações sem esperar muita coisa, mas os olhos se arregalaram quando viu o que tinha ali.

— Mas que porra é essa?

— Foi o que me perguntei, Bianca. Então vou perguntar de novo, e por favor, não minta pra mim. Você está tendo um caso?

Em um suspiro pesado, a morena jogou a fatura na cama cruzando os braços para encarar Rafaella. Estava irritada com aquela pergunta, ainda mais por ter sido a segunda vez que Rafaella estava insistindo no assunto, mas assim que seus olhos caíram sobre a loira, Bianca esqueceu toda sua raiva.

Rafaella estava a um passo do desespero. Era tanta dor que ela estava sentindo que Bianca esqueceu completamente o quanto ficou magoada com aquele questionamento.

A escolha de Andrade - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora