«Há algo de especial numa mulher que domina num mundo de homens. É preciso alguma graciosidade, força, inteligência, audácia e coragem para nunca aceitar um 'não' como resposta»
Rihanna
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– Octávio, meu querido irmão! Não reconheces a tua própria irmã? – perguntou sarcasticamente Alice.
– Alice?! – Octávio estava chocado.
– Sim, meu querido irmão! Como vai a vida com o meu dinheiro?
– Tu... Tu pareces um homem! Não tens vergonha?!
– Não, nenhuma! Tu também pareces uma menina assim tão cheio de medo... – deu uma gargalhada. – O que pode uma mulher fazer com o senhor Octávio de Lencastre?
Ele compôs a sua postura e procurou aparentar tranquilidade.
– O que vieste aqui fazer? Como passaste os guardas?
– Apareceu-te marcas no corpo ultimamente? – perguntou Alice desviando a conversa e sentando-se confortavelmente no sofá.
– Como tu sabes? Já se fala disso no reino?! – ele ficou ainda mais nervoso.
– Não, eu não ouvi falarem sobre ti, está descansado. Diz-me uma coisa: continuas a servir de tutor ao rei?
– Sim, claro.
– Chegas a ver a rainha?
– Sim ela geralmente vai ver os filhos a serem ensinados, porquê?
– Não tens nada a ver com isso! Vai chamar a tua mulher. Vá lá despacha-te!
Octávio estava confuso, mas não conseguia resistir a fazer as ordens que a irmã lhe dava. Era como ela estivesse a usar alguma magia ou algo para o controlar.
Ele foi pessoalmente chamar a mulher. Dona Joaquina ficou bastante surpreendida. Ele nunca queria saber do que a mulher fazia e muito menos tinha vindo ter com ela a meio do dia. Perguntou assim que o viu:
– Está tudo bem Octávio?
– Sim, anda lá que a minha irmã veio visitar-nos.
– Qual delas? A Florbela?
– Não, a Alice – respondeu lacónico.
Joaquina estava atónita. Alice não era a que ele tinha enviado para o convento para se livrar dela? Desde quando ela vinha fazer visitas de cortesia? No entanto, o seu espanto era um pequeno começo para o que viria. Quando chegaram ao escritório, ela não viu a irmã de Octávio, mas sim um homem com corpo musculado, feições duras, mas com as mesmas feições de Alice, a mesma cor negra no cabelo e nos olhos. Poderia Alice ter tido um filho? Com aquela idade era impossível!
– Joaquina, esta é a minha irmã Alice. – apresentou Octávio incomodado com toda aquela situação.
– Muito prazer, minha senhora. – respondeu Alice levantando-se e beijando a mão de Joaquina como um verdadeiro cavaleiro.
– De certeza que tu és a Alice? És um homem! – exclamou Joaquina esquecendo toda a etiqueta social.
– Posso assegurar-te se há coisa que não sou é um homem. Apenas tive de vestir estas roupas e adaptar-me a viver como um homem para sobreviver. Não sabem os tormentos que passei. No entanto, aguas passadas não movem moinhos. Vamos ao assunto.
– Qual assunto?! – perguntaram Joaquina e Octávio ansiosos.
– Ora, qual assunto! O que me traz aqui e a fazer esta amável visita! – ironizou Alice – Octávio, quero morar convosco e ter todas as regalias da casa, como mereço. Já.
– Sim, senhora! – respondeu Octávio sem ter tempo de refletir.
Joaquina ficou a olhar para ele chocada.
– Quer dizer... como assim morar aqui?! – voltou a perguntar Octávio.
– Quero dizer isso mesmo e vais preparar todos os preparativos e arranjar-me roupas decentes. Já!
Octávio saiu do escritório como impulsionado por um espírito. Via-se a sua resistência na face mas não conseguia impedir-se de realizar as ordens de Alice.
– Joaquina preciso de ter uma conversa contigo. Podemos mudar toda a situação das mulheres para melhor, mas para isso, eu preciso da tua ajuda. É importante que os homens não nos descubram antes de ter tudo preparado.
– Bem! Se for para as mulheres fazerem o que acabaste de fazer com Octávio, nem preciso de pensar duas vezes! Conta comigo!
Alice explicou-lhe tudo. O que eram as marcas no corpo de Octávio e que elas poderiam ordenar os homens a fazer tudo menos magoar-se a si mesmo ou a fazer algo que não conseguiriam fazer pelos seus ideais mais enraizados. Ela tinha experimentado com um grupo de bêbados que tentaram roubá-la. Tinha dado todo o tipo de ordens das melhores às mais hediondas e eles tentavam cumprir todas, mas algumas ficavam apenas bloqueados. Como fazer sexo, ferir-se ou fazer mal a um amigo. Foi uma boa forma de testar a capacidade do Artefacto. Joaquina ouviu até ao fim, e demorou-se a saborear o significado de tudo aquilo. Parecia um sonho tornado realidade, finalmente, nenhum homem podia abusar delas!
A ideia de Alice era chegar à rainha sem ter o rei por perto. Claro, que ele não iria gostar de saber que poderia ser comandado por ela.
Joaquina nesse ponto sentiu-se um pouco ansiosa. Havia várias forças em questão. O rei não comandava tudo, também havia a igreja e os outros nobres. Nas salas de reuniões de discussão política não aceitavam mulheres presentes. No entanto, Alice estava confiante. Tinha uma confiança que nunca viu em nenhuma mulher. Ela, no entanto, estava com receio. Havia tanto que lhes poderia acontecer! Serem queimadas na fogueira, presas, condenadas à morte... No entanto, não queria deixar de tentar. Por tudo o que todas as mulheres passavam, por serem traídas como ela era, enganadas, tratadas como incapazes e obrigadas a casar com homens grotescos como Octávio.
Após tomar um banho, Joaquina tratou de todas as suas feridas e cicatrizes. Vestida com um vestido de Joaquina e maquilhada com os melhores pós da casa, Alice voltou a parecer uma senhora. Ela olhou-se ao espelho e aprovou a sua imagem. Sim, ali era o seu lugar. Agora tinha de planear bem, muito bem o que iria fazer a seguir, qualquer passo em falso poderia levá-la a à fogueira. Mesmo que fosse esse o seu destino, ela ficaria satisfeita porque tinha tentado tornar o mundo melhor.
Quando saiu do quarto, Joaquina veio ter com ela a dizer que a carruagem está pronta. Octávio juntou-se pouco depois carrancudo. Ele não gostava do rumo que a casa estava a tomar, mas não conseguia negar os pedidos da mulher e da irmã. Estranhamente, pela primeira vez sentiu-se útil, para não falar que Joaquina não tinha pedido um só vestido naquele dia, nem feito nenhuma reclamação. Ele não queria, mas algo nele sentia-se feliz.
Olá!
Demorou, mas finalmente temos um novo capítulo, espero que gostes! ;)
Já sabes que adoro ler e responder os teus comentários.
Obrigada por estares aí e por leres e votares a minha história.
Beijinhos!
MS
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O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)
FantasyUma mulher que perdeu tudo devido aos homens da sua família, sobrevive a fingir que é homem até ao dia em que descobre um artefacto que vai mudar o mundo para sempre... Dois séculos mais tarde, um homem injustiçado que procura o artefacto para fazer...