17. A Explosão na Mina I

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«Nem todos os dias são de conquistas. Alguns são de derrotas. E acredite: estes dias são os que mudam a nossa vida para melhor.»

Retirado do Website  Pensador.com 



No dia seguinte, os soldados de Ansara não falaram com ele. Dirigiram-se aos seus postos a tentar angariar mais homens para o seu grupo. No entanto, Rafael juntou-se com um dos colegas que faziam parte do grupo deles. Apesar de desrespeitar a ordem de Ansara não podia dizer nada sob os olhos da supervisora. Respirou fundo e não fez caso. Ia esperar pela noite para falar com ele.

Ansara ia a trabalhar num ponto particularmente escuro e a abrir caminho na mina. O seu colega estava muito nervoso. Não era muito forte fisicamente e tinha receio daquela escuridão. A candeia de azeite era equivalente à luz de um pequeno fósforo, invento que fascinou Ansara para sempre. Ansara falava para o animar, mas não surtiu efeito, depois o seu colega começou a rezar e depois de uma hora já estava quase acostumado e começou a cantar. A música era cantada num dialeto apenas falado no reino da Teia, Ansara não compreendeu nem uma palavra, mas achou a melodia desafinada do companheiro reconfortante.

Estavam perto da hora de almoço quando sentiram o chão a tremer de uma forma assustadora, as pedras começaram a cair porque ainda estavam instáveis e soltas. O seu colega, chamado Mair, começou a gritar e desatou a fugir para a saída da gruta que ficava a um quilómetro pelo menos. O grande problema é que levou a candeia e deixara Ansara completamente às escuras, com o chão a tremer e a sentir as pedras a cair à sua volta.

Sem outro remédio, Ansara em vez de fugir, tentou se proteger ao máximo e colocou as mãos em proteção do rosto e do corpo. Uma pedra caiu bem ao seu lado e ele começou a arrastar-se pouco a pouco a fugir a das pedras apenas por sentir a deslocação de ar das suas quedas. Quando o chão parou finalmente de tremer, ele avançou a ouvir os gritos dos mineiros. Havia pessoas a dizer para fugir, urros de dor, pedras a cair e a fazerem mais tremores. Homens a gritar enclausurados entre pedras. Ele não conseguia detetar a menor forma, luz ou brilho. Ele teve de tocar nos seus olhos para compreender que realmente tinha-os abertos.

Os sons pareciam estremecer tanto o seu peito quanto as pedras que caíam e que se arrastavam na gruta. No entanto, apesar de tudo, sorriu porque ainda estava vivo e nem uma pedra tinha-o atingido.

Sabia mais ou menos a direção da saída e continuava a arrastar-se para lá. As apalpadelas no chão irregular que o fazia lembrar do local onde tinha encontrado o Artefacto. Lembrou-se do que Valência lhe tinha contado. «Não é o Artefacto que permite as mulheres violarem os homens». Enquanto se arrastava, Ansara concluiu o local onde as mulheres, onde Aracnia, tinha encontrado um segundo artefacto para dominar completamente os homens.

Quando chegou mais adiante, ouviu mais um estrondo e temeu que houvesse mais um tremor. No entanto, não era uma queda de terras. Quando começou a ouvir vozes de outros mineiros mais próximas, animou-se. Talvez tivessem uma candeia e o pudessem ajudar a encontrar a saída. Ele só queria sair daquela gruta.

As vozes, no entanto, pediam ajuda. Um mineiro tinha morrido ao ser esmagado por uma pedra gigantesca. Os outros colegas ficaram atrás impedidos pela pedra de avançar. Ansara tentou ver e tocar na pedra onde ouvia as vozes dos mineiros a explicar a situação. Ainda a tocar na pedra e no chão, Ansara picou a mão na candeia partida do homem esmagado. Não tinha forma nem de a tentar acender. Tinha largado a picareta com o susto e não conseguia vencer contra aquela pedra enorme sem uma única pá ou picareta. Avisou-os que ia pedir ajuda e continuou o seu caminho. Ainda a tentar chegar à saída, encontrou um grupo de feridos com uma candeia e conseguiu respirar de novo. A escuridão que antes era algo que não temia passou a ser terrível e aquela sensação que poderia ficar ali esmagado para sempre. Juntou-se a eles para sair da gruta e pedir ajuda para os que ficaram, mas continuaram a parar para ajudar e apoiar aqueles que podiam. Viram muitos mortos e um dos homens que traziam não parava de gemer pela sua perna ter sido trucidada pela queda de pedras.

O grupo com o coração em tumulto pelo susto e pelos colegas que deixavam para trás viram com alegria a luz do dia. Poderiam pedir ajuda e salvar os restantes. Pelo menos, esse era o primeiro pensamento de Ansara. Porém, quando chegaram lá fora, viram uma cena aterradora.

Ao sair para a luz forte do meio-dia, viram mulheres que lutavam com homens, outras ordenavam os homens a parar, chocadas, mas eles não o faziam (tal era a sua vontade de fugir dali), por todos os lados, haviam homens e mulheres que tentava fugir do tumulto e da mina, sem querer saber de mais nada ao tentar passar despercebidos. Fogo por todo o lado, gritos de dor e raiva e pareciam estar numa verdadeira guerra. No entanto, Ansara ainda a apoiar um homem ferido a tossir pelo pó da mina e a gemer pela sua perna. A desolação tomou conta de si. O que tinha acontecido? Aquilo não tinha sido apenas um deslocamento de pedras. Parecia que o inferno tinha descido àquela mina.

O seu choque foi pior quando viu Rafael num dos cavalos das gerentes da mina a sorrir e a dizer-lhe para montar no cavalo. Ansara olhou-o sem pronunciar palavra.

– Vamos, sargento, suba para o cavalo – ordenou Rafael, como se o pudesse fazer –, colegas podem levar o ferido para aquela tenda – apontou uma tenda atrás de todo aquele caos onde estavam os feridos a cuidarem de si mesmos. No meio da confusão, ninguém os feria, mas também ninguém cuidava deles.

Ansara saiu do seu estado choque e respirou fundo. Já não se lembrava o quanto os soldados novos e com a mania de serem heróis podiam ser perigosos. A sua vida nos Campos tinham-no deixado mole e sem força para aquelas situações. Enquanto os colegas ainda desolados tentavam passar aquele inferno sem ser atropelados por quem fugia e degolados por quem lutava. Ansara em vez de subir o cavalo de Rafael, obrigou-o a descer do cavalo.

– O que TU fizeste?! – disse Ansara com uma tal expressão no rosto que Rafael engoliu em seco.

– Explodi o edifício de gerência das Minas e com os dormitórios das mulheres...

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Obrigada pela leitura :)

O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora