Foi acordado com um pano molhado na testa. Uma cara rechonchuda e bronzeada tinha a testa enrugada de preocupação. Quando viu que ele tinha acordado, gritou:
– Oh! Benedito! Benedito! Homem! Vem cá!! O homem acordou!! – ele sentia os seus gritos a latejar na sua cabeça.
– Pare... - pediu.
– Olá! Como está? O meu nome é Felismina e o meu marido Benedito está a caminho. Como se sente?! – o seu nervosismo tinha algo de excitação perante a novidade.
– Estou bem. Acho eu.
– Como se chama?
– Ansara.
– Precisa de alguma coisa?! – perguntou a desejar saber mais sobre a sua novidade de estimação.
– Ah!.. Se tivesse um pouco de comida que me pudesse dar... – hesitou Ansara, sentindo a fome a apertar mais uma vez.
– Claro que sim! – Felismina levantou-se e saiu do quarto.
Ansara calculou que a senhora saiu para preparar alguma comida. Suspirou. Que patético um sargento a desmaiar de fome e fadiga. Pensar ao estado que tinha chegado... Lembrou-se de jantar no castelo com Valência. Valência tinha o costume e de colocar o pé em cima do seu pé enquanto comiam. Era quase como tivessem a dar as mãos, mas com os pés. Ela não fazia força e quando estavam no verão colocava o pé descalço sobre as suas botas de soldado. Quando ela não gostava de algo que ele dizia fincava-lhe o pé com força. Ele sorriu. Valência...
Felismina trazia um prato quente de sopa, pão e fruta. O estômago de Ansara falou alto mais rápido do que a sua voz a agradecer. Desta vez, Benedito tinha vindo e cumprimentado com um aceno. Após servirem a comida, Felismina foi aos seus afazeres e Benedito sentou-se no banco ao lado da cama onde Ansara estava a comer. Esperou calado todo o tempo em que ele devorava a comida. Depois disse:
– Como vieste aqui parar, meu filho?
Ansara contou-lhe que tinha sido atacado por mulheres do Reino da Teia e que por isso acabou por ser expulso do seu reino. Ocultou-lhe a parte que desejava destruir o Artefacto. Ofereceu-se para trabalhar nos campos em troca de poucas moedas, comida e estadia. Benedito aceitou com a condição que não poderia meter-se com as mulheres do Campo. Explicou-lhe que muitos dos renegados por dormirem com várias mulheres vinham para os Campos. Esses, especialmente, eram apenas aceites se respeitassem as mulheres e não tentassem ter nada com nenhuma mulher. Se alguma mulher dos Campos gostasse dele e o aceitasse mesmo assim, poderiam ficar juntos. Ansara compreendeu que ele estava a tentar animá-lo com a perspetiva de um novo amor. Ansara sentiu um verdadeiro carinho por aquele casal de meia idade que o acolheu, mesmo sem saber nada sobre ele.
Benedito nunca disse se acreditava nas suas palavras ou não. Apenas disse o que dizia a todos os homens com duas marcas. Os homens que tinham sido largados pelas suas mulheres por as terem traído. Era o local dos exilados. Era o local neutro onde todos poderiam recuperar das feridas do passado.
Após comer outra tigela de sopa, Ansara começou a sua nova vida.
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O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)
FantasyUma mulher que perdeu tudo devido aos homens da sua família, sobrevive a fingir que é homem até ao dia em que descobre um artefacto que vai mudar o mundo para sempre... Dois séculos mais tarde, um homem injustiçado que procura o artefacto para fazer...