7. O Plano Secreto

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«A mulher não é inferior nem superior ao homem, é diferente. No dia em que compreendermos isso a fundo, muitos mal-entendidos desaparecerão da face da terra.»

MONTEIRO LOBATO


Ansara e Eurico recomeçaram a sua rotina habitual nos Campos. Eurico e Fiona estavam mais juntos do que nunca. Por vezes, até havia dias que Eurico faltava no trabalho agrícola para fazer o pão e bolos com Fiona. Ansara agradecia não ver tanta felicidade à sua frente. Era tão fácil lembrar-se de Valência e da vida no Castelo. Lembrava-se também da rainha com os seus cabelos dourados como o castelo do seu reino, fria, mas correta acima de tudo. Ela orgulhava-se do seu reino e fazia tudo para ser exemplar. Muitas vezes sacrificava os seus próprios desejos em função da sua imagem e função. Ansara teve orgulho de pertencer àquele Reino antes. Agora, sentia como se o tivessem roubado dele e o seu novo reino eram os Campos e a amargura no seu coração.

Ansara estava outra vez a tentar refazer a sua poupança e verificava quando vinha o vendedor ambulante do Reino Castelo Dourado para ver as novas invenções feitas. Precisava algo que acendesse uma fogueira rápido, uma tenda e um cobertor forte ou colchão fino.


Quando o vendedor ambulante chegou aos Campos, a primeira coisa que fez assim que o viu foi dar-lhe os parabéns por ter desistido da ideia de conseguir destruir o Artefacto. Ansara sentiu-se um pouco incomodado com o comentário. Tio Benedito que estava ao seu lado para receber o vendedor ergueu uma sobrancelha.


– Foi uma ideia estúpida vinda da raiva – disfarçou Ansara, sem muito sucesso. Ele realmente precisava de mentir melhor...

– Por vezes, quando a vida nos passa a perna todos temos ideias dessas, rapaz! – tranquilizou-o Álvaro, o vendedor ambulante –, então, o que precisas de mim?

– Estivemos à pouco tempo em Pastaria e durante a viagem tivemos dificuldades em dormir. Não tem algo que faça uma tenda? Como pano e paus firmes para a estrutura? Para uma próxima viagem, claro.

– Vou anotar, possa ser que o Reino do Castelo Dourado tenha algo para nós! – riu-se ao ver as marcas do braço de Ansara. No entanto, ele não respondeu à provocação.

O tio Benedito veio falar com Ansara depois do vendedor partir. Não tinha ouvido falar dos planos de destruir o Artefacto e aquela ideia fazia-o recear. Nunca era bom mexer com a política dos outros reinos.

– Ansara, filho, tu tentaste roubar ou destruir o Artefacto?

– Não, tio Benedito! Apenas quando fui expulso do Reino do Castelo Dourado fiquei com muita raiva e falei o que não devia com o Álvaro. Eu não fiz nada, nem sei onde está o Artefacto.

– Nem precisas saber. Estás bem aqui, as vinganças geralmente magoam mais quem as faz do que quem é atingido por elas, – avisou tio Benedito.

Tio Benedito foi aos seus afazeres mais descansado, mas Ansara ficou preocupado. Tinha de ter cuidado para que mais ninguém descobrisse as suas intenções. Nem Eurico. O problema é que a única pessoa que poderia dar-lhe o que precisava para ir às Montanhas era o vendedor ambulante. Ele tinha de pensar num plano para obter tudo o que desejava sem atrair as atenções de ninguém.

Eurico ouviu rumores que tio Benedito estava preocupado com as intenções de Ansara sobre o Artefacto. Foi falar com tio Benedito para o descansar, mas este já tinha falado com meio mundo e todas as pessoas nos Campos já sabiam. Agora, Ansara tinha a imagem de um homem vingativo que esteve para destruir o Artefacto por causa de uma mulher. Passar disso a querer matar a mulher que o violou, foi um pulo e as mulheres do Campo em vez de o cobiçarem começaram a receá-lo.

O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora