10. As Montanhas

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Viver nas Montanhas não era fácil. Mesmo sem lutar com os soldados do reino da Teia, Ansara começou a ver vários homens mortos nos campos, em precipícios, ou mesmo trazidos pelos rios da montanha. Homens magros e com marcas de chicote nas costas e braços. Ansara conseguia imaginar o seu sofrimento e ver como as mulheres do reino da Teia os tratavam injustamente. Dever-lhes-iam ter dado mais mantimentos, se queriam que os soldados penetrassem e permanecessem vivos nas Montanhas. Além de ser território protegido pelo reino do Castelo Dourado. Não era proibido andarem por ali, mas depois da luta que tinha assistido, duvidava que não houvessem retaliações.

Ansara teve uma pequena esperança que com os casos de violações e o conflito com o reino da Teia, Valência começasse a suspeitar a verdade. Se ela, pelo menos, suspeitasse da verdade, poderiam falar e pelo menos investigar a situação, depois podiam tratar do resto... Ainda estava magoado com tudo, mas sentia o vazio da sua ausência. Conseguia imaginar-se a discutir com ela e, após gritarem todas as suas raivas, a amarem-se que nem loucos... Continuava a sua procura pelas montanhas, estava já na terceira montanha, quando encontrou mais um soldado do reino da Teia morto. Este tinha uma nota no bolso, apesar de estar na beira do rio, o seu corpo não estava molhado. A nota dizia:

CUIDADO: a quinta montanha a contar de sul é um vulcão em estado dormente. Qualquer sinal de atividade vulcânica, como água fervente nos lagos ou cheiro nauseabundo, alertar o sargento Félix.

Ansara quase gritou de felicidade. Claro, um vulcão! O melhor sítio para esconder um túmulo que não se quer que ninguém toque. O túmulo estava num vulcão! As peças juntavam-se e Ansara não precisou de perder mais tempo nem mantimentos preciosos. Ia diretamente para o vulcão!

Chegado à quinta montanha, compreendeu logo que era a mais difícil de subir, tinha mais grutas e o terreno era bem mais sinuoso e pouco seguro. No entanto, Ansara vinha preparado e começou a investigar a montanha. O seu progresso era lento devido ao peso que trazia. Havia um silêncio e uma quietude sombria naquele lugar. Parecia a calma que existe antes de uma tempestade. Nem as aves se viam no céu ou se ouvia o cantar dos pardais nas árvores. Toda a natureza estava alerta, num silêncio respeitoso, naquele vulcão adormecido. Ninguém o queria acordar.

A primeira gruta da montanha parecia ser um antigo abrigo para algum homem ou mulher. Encontrar um local com vestígios humanos era bom sinal. Uma enxerga estava disposta no chão a um canto da gruta. Suja e cheia de teias de aranha. No centro estava um espaço para uma fogueira ainda com velhos e carcomidos troncos de madeira. No lado direito estava uma secretária pesada com várias prateleiras com livros.

Havia um livro em cima da secretária, um frasco com tinta seca e os restos de uma pena. Ansara pegou no livro, limpou-lhe o pó. Na capa estava uma imagem cuidadosamente pintada, além disso, estavam escritas duas palavras numa língua antiga e desconhecida para Ansara. As palavras escritas na capa eram: Arte Factus. Era parecido com Artefacto... Ansara viu o livro e estava todo cheio de imagens daquele objeto misterioso da capa. Ansara colocou-o na mala. Quando voltasse perguntaria a Eurico. Talvez, ele reconhecesse aquela língua. Vasculhou o resto do abrigo. Pensou ser um bom local para descansar. Fez uma fogueira com nova lenha e aproveitou para descansar os músculos doridos do caminho. Após recuperar, retomou a sua investigação.

De certeza que estava perto do Artefacto. O seu coração batia mais forte e sentia que estava perto de encontrar algo importante. O livro que tinha lido em Pastaria estava certo. Sorriu. O silêncio e a sua solitude faziam-no pensar que os soldados ainda deveriam estar a procurá-lo na terceira ou quarta montanha. Estava em grande vantagem. Com sorte conseguiria encontrar o Artefacto e sair dali antes dos soldados terem chegado.

A sua disposição renovada animou a sua dura caminhada e subida pelo vulcão adormecido. Quando encontrou a segunda gruta quase podia jurar que tinha alguma pista para encontrar o Artefacto.

O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora