14. O Livro do Artefacto

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Valência, durante a sua longa maratona entre dicionários, gramáticas e latim, conseguiu decifrar parte do livro do Artefacto. O que descobriu assustou-a bastante.

As suas traduções explicavam que o Artefacto fora encontrado longe do alcance de todas as pessoas pelo simples facto de ser tão poderoso que poderia transformar o mundo inteiro. O Artefacto não respeitava o seu dono ou qualquer regra, apenas o desejo mais profundo de quem o segurava. Se tivesse à disposição de várias pessoas, os seus sonhos tornar-se-iam realidade e tornaria o mundo num caos. Por isso, era tão perigoso. Toda a sua estrutura era de adamantite, um metal tão raro, mas que era tão forte que não havia forno que o conseguisse derreter, e a luz do seu globo era um grande mistério que só o partindo era possível compreender. No entanto, além de ser uma tarefa difícil, a Grande Amazona, Alice Lencastre, proibiu a sua destruição em todas as leis e em todos os Reinos.

Ao ler as suas traduções, Valência verificou para não ter dúvidas do seu significado. O seu coração gelou ao pensar em Aracnia e qual era o seu maior desejo. O que ela desejaria ao pegar no Artefacto?

Ela poderia desejar as coisas mais asquerosas e ela poderia ainda fazer mais atrocidades aos homens. Valência não a conhecia, nada sabia a não ser a sua ambição e prepotência. Estava cada vez mais preocupada ao pensar que o Artefacto estava nas mãos daquela mulher.

Valência ficou dividida entre entrar em ação ou acabar de compreender o livro que tinha em mãos. Para ajudar na sua decisão verificou como estavam os treinos das novas soldadas. Aquele passeio ajudava-a também a afastar-se um pouco daquela difícil tradução que tanto a preocupava. Sentia que não tinha tempo e tudo demorava muito. Os treinos eram intensos, mas aquelas mulheres não estavam preparadas para fazer frente a homens treinados como elas. Valência também não as queria levar para a morte ou prisão. Elas tinham de vencer, assim como ela.

Voltou para a sua tradução com energia renovada para saber todos os segredos do Artefacto. Assim, pelo menos aproveitava o tempo enquanto desesperava por não ter tropas para lutar. Talvez enquanto esperava o treino e as tropas estarem preparadas, poderia descobrir algo que lhe trouxesse alguma vantagem. Enquanto se embrenhava no estudo daquela língua, pensava em Ansara nas Montanhas, tão isolado e desprotegido contra Aracnia.

 Enquanto se embrenhava no estudo daquela língua, pensava em Ansara nas Montanhas, tão isolado e desprotegido contra Aracnia

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Ansara começava a desesperar pela espera de vários dias que passaram a semanas e ele à espera que Valência viesse ter com ele. Pensava em Aracnia com o Artefacto e as atrocidades que poderia estar a fazer. Ansara não conseguia mais ficar ali, tinha de saber novidades.

Quando conseguiu finalmente sair da Montanha sentiu falta do seu equipamento perdido. Mesmo tendo o colchão e alguns utensílios, os seus preciosos fósforos estavam a chegar ao fim. Pensou que ainda seriam alguns dias para conseguir voltar aos Campos. Ansara tinha receio de voltar. Todos o julgavam por continuar ligado ao passado e tentar encontrar o Artefacto. Não compreendiam o que ele sentia. Ansara não os julgava, afinal de contas os seus sentimentos eram um redemoinho sem direção e já não sabia muito bem o que queria. Voltar a ver Valência, tinha mexido com os seus sentimentos. Queria sentir raiva dela, mas não conseguia. Só queria voltar ao Castelo e trancar-se com ela por dias, como faziam após passar vários dias zangados por futilidades. Tinha uma raiva de morte àquela Aracnia, mas ela tinha total controlo sobre ele e isso assustava-o para além de tudo. De repente, sentiu que era melhor voltar para a sua gruta. Nesse momento, viu o vendedor ambulante. Sorriu perante a coincidência. Que estranhas voltas dava aquele vendedor!

— O que faz por aqui num lugar tão remoto? — Ansara festejou interiormente por ver alguém depois de tantos dias de solidão.

— Ansara! O que faz por aqui? Não me diga que veio mesmo atrás do Artefacto? — perguntou curioso o vendedor.

— Não! Não sei nada sobre o Artefacto, mas nesta Montanha não está de certeza! Encontrei um bom sítio para viver aqui!

— Morar? Aqui? Ansara não gostava dos Campos?! 

— Gostei, mas preciso de estar só para orientar as minhas ideias... — mentiu Ansara. — Vim só dar um passeio hoje. O que tem para mim? E novidades tem?

O vendedor animou-se a mostrar o que tinha e acabou por lhe contar as novidades sobre os reinos. Como sempre, ele estava muito bem informado sobre acontecimentos que ninguém suspeitava. Era as vantagens de ser vendedor ambulante.

— Uma coisa terrível e nunca vista, homens a revoltar-se contra as mulheres? Ainda mais a recorrer ao suicídio em massa!

— Como assim? 

— Fazem explodir as minas, mas não saem de lá, morrem às dezenas. Por vezes, antes de se suicidar, ameaçam as mulheres do reino da Teia para tentarem que estas lhe deem mais condições, mas outras apenas fazem explosões sem aviso ou atiram-se aos poços, entre outras formas de suicídio. O Reino da Teia está um caos e a rainha Aracnia não se vê em parte alguma!

— Que estranho... — pensou alto Ansara.

— Sabe o que eu acho? Deve estar com medo da revolta. Dizem que ela era uma das mulheres mais cruéis com os homens!

Ansara assentiu e o vendedor continuou a falar. O reino do Castelo Dourado estava a recrutar mulheres e parecia preparar-se para a guerra. Estavam já a enviar todas as crianças e mulheres que não sabiam ou não podiam lutar para o reino das Artes. Todos sabiam que se preparavam para lutar com o reino da Teia. Ao ver como estava o reino da Teia, todos pensavam que iria ser uma vitória fácil para o reino Castelo Dourado.

Ansara pensou que não fazia sentido. O reino da Teia deveria estar mais forte do que nunca. Aracnia tinha mais poder do que nunca. Por que desapareceu? Por que não impediu as revoltas? Ela sabia que o reino do Castelo Dourado não a iria deixar ficar com o Artefacto e ela iria precisar dos materiais das minas para fazer armas para lutar, não era? As explosões das minas faziam-na perder soldados e materiais importantes, o que ela andava a pensar?!

Ansara revoltava-se por não conseguir calcular as respostas. O vendedor ambulante partiu ao dizer que também tinha uma casa perto das Montanhas. Ansara nem prestou atenção. Sempre que algo não fazia sentido, geralmente era um sinal que as coisas eram muito piores do que pensava.


Bom ano 2023! Cheio de alegrias, realizações, carinho e saúde e que seja um ano cheio de boas leituras! :)

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Bom ano 2023! Cheio de alegrias, realizações, carinho e saúde e que seja um ano cheio de boas leituras! :)

Bjs

MS

O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora