22. A Revolta

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Valência, depois da discussão com Ansara, sentou-se exausta. Compreendia a fúria de Ansara. Valência sabia que ele estava a colocar todo o mal que ela lhe tinha feito e a expulsão do reino nas costas de Aracnia. No entanto, também compreendia o desejo profundo de Aracnia de ser mãe. Sendo princesa como ela, o mínimo exigido era ter uma filha, no mínimo um filho que tivesse uma filha. Era uma pressão que se acumulava ao longo dos anos e ficava no peito como se desse sentido à vida. No entanto, não era desculpa para maltratar os homens. Ela precisava de ser castigada, mas estando grávida e sendo de outro reino, como poderia Valência sem o consentimento da rainha dar-lhe uma punição?

Além disso, Valência sentia-se tão culpada quanto Aracnia. No dia anterior tinha usado o anel, sem pensar como estava a usá-lo para obrigar Ansara a dormir com ela. Talvez, não fosse a sua vontade.... Apesar da conversa ter sido como ela sonhava e o que ela queria ouvir, nada lhe diria que não foi efeito do anel. O anel parecia manter o poder, apesar de o Artefacto não servir o mesmo desejo... Afinal, Ansara comeu as ervas contra a sua vontade no dia anterior, não foi? Calculou que o anel tinha total controlo dos homens, provavelmente para ajudar a Aracnia no seu propósito de ser mãe e por o ter deixado com Regina que só queria mandar e abusar dos homens que a serviam... Ela teria que ter cuidado para não se tornar outra Aracnia. Essa era mais uma razão para Valência ter pouca vontade de a punir. Não se sentia no direito de o fazer. No entanto, não conseguia falar a verdade a Ansara. Poder-lhe-ia dizer que foi usado por ela como se fosse seu objeto. O pior é que tinha razão.

Quando lhe voltassem os sentidos ele descobriria, mas ela já estaria longe. Doía-lhe o coração. No entanto, sabia que só havia um caminho. Chamou as suas tropas e preparou o regresso ao Reino do Castelo Dourado.

No dia seguinte, quando os homens acordaram, viram o acampamento sem mulheres, sem Aracnia e sem o Artefacto.

Aracnia foi transportada com o Artefacto. Valência sabia que o Artefacto não poderia ser tocado por muitas pessoas a seguir ou ficava sem qualquer efeito. No livro dizia que ele «deixava de ter efeito» e ela perguntava-se o que quereria dizer. Deixaria de funcionar? Seria destruído? Desapareceria?

Fosse como fosse ela não poderia deixar nas mãos de Ansara. Nem ela se atrevia a tocar no Artefacto. Tinha dúvidas sobre o que mais queria e tinha receio que fosse Ansara. Naquele momento nem sentia que poderia alguma vez voltar para ele e também não o queria sem ser da sua vontade. Ela dirigia-se para falar com a mãe. Tinha muitos assuntos para falar com ela.

Percorreram o caminho a um passo firme mas célere a parar o mínimo necessário tendo em conta de Aracnia não perder o seu bebé. Era muito recente. Ainda só tinha passado seis semanas desde que ficara grávida. Parecia muito tempo, mas andar de cavalo um dia inteiro poderia prejudicar e ela nunca tinha engravidado antes. Poderia o Artefacto impedir um aborto? Valência não sabia. No livro apenas dizia que tornava o maior desejo do portador realidade.

Chegaram ao reino com uma ausência de apenas uns dias mas o reino estava um caos.

– Princesa, ajude-nos lançaram bolas de fogo contra ao castelo! – pediu uma mulher toda suja com a cara negra assim que chegaram aos limites do reino. A sua cara era um esgar de dor.

Valência sentiu o coração a apertar. Uma bola de fogo contra o castelo. Onde estava a sua mãe e Rainha!

– Encontrem abrigo e vigiem Aracnia! – ordenou enquanto cavalgava para o castelo a toda a velocidade. Ela só conseguia pensar na sua mãe. Pelo que soube da pobre mulher Regina devido a um ataque que sofreu durante a noite, tinha enlouquecido e atacado todos os reinos. Valência compreendeu que foi o seu ataque furtivo que tinha originado aquela situação. Nunca se iria perdoar se a sua mãe morresse por isso.

O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora