Aracnia não queria saber de mais nada. O seu sonho tinha-se tornado realidade. Agora era só se manter segura com o Artefacto e esperar nove meses. O seu sonho finalmente tinha se tornado realidade. Agarrou-se à barriga e chorou mais uma vez. Faria tudo para proteger o seu sonho, tudo. Não queria saber mais de poder, de minas ou do Reino do Castelo Dourado. Tudo o que ela queria era que a deixassem em paz. Por isso, partiu e deixou tudo ao governo da sua irmã. Até deixou o Anel do Poder a Regina, a sua irmã mais nova que desejou sempre ser rainha. Conseguia imaginar a sua cara de felicidade de saber que poderia ordenar qualquer homem a fazer tudo, mas mesmo tudo o que ela quisesse. Para não falar que teria todo o Reino a seus pés. Pena é que já não havia muito a governar...
***
Os esquadrões estavam preparados. Agora só precisava de descobrir onde estava o Artefacto. Kenji descobriu que Aracnia desapareceu e deixou o governo à sua irmã mais nova, Regina, que tinha apenas vinte anos. Segundo Kenji, Regina não sabia que o Artefacto tinha sido roubado pela irmã. Ela apenas estava eufórica por ter o governo de um Reino decadente. Os tumultos eram constantes e ela como Rainha apenas queria saber de satisfazer os seus caprichos. Não seguia os conselhos dos membros da corte e do conselho de administração do reino. Os homens revoltavam-se, as mulheres estavam fartas de estar sozinhas. Os minerais adquiridos nas minas não tinha outro destino que o armazém. Regina recusava-se a vender ao reino do Castelo Dourado, o único reino interessado nos minérios. O mais grave era que nem procurava que o próprio reino os trabalhasse como a irmã fez.
Regina era muito nova e não foi preparada para reinar. Era por aí que ia começar. Mas antes de juntar as tropas e partir para o ataque, Valência ia ter com Ansara. Não gostava de admitir, mas estava preocupada com ele naquela montanha sozinho onde as tropas do Reino da Teia poderiam atacar, ou até mesmo, onde Aracnia poderia estar com o Artefacto. Valência não sabia qual era o poder de Aracnia, mas era perigoso. Ansara acreditava mesmo ter sido atacado. Assim como todos os seus homens que apareceram marcados. Os seus relatos e as suas lágrimas eram verdadeiras. Lamentava ter duvidado de Ansara, mas ele fora um dos primeiros. Antes disso, nenhum homem tinha sido atacado daquela forma por uma mulher. Além disso, Aracnia era uma mulher muito sedutora. Apesar de já contar com vinte oito anos e já governar há cinco anos, ela nunca casou e nem teve filhos. O que era bastante curioso. Geralmente as princesas casavam cedo para conseguirem ter herdeiras. Muitas eram as vezes que nasciam rapazes em vez de raparigas que eram feitas para comandar. Entre Aracnia e Regina nasceu um irmão, Baltazar, que nunca fora visto nos assuntos do Reino. Valência parou para pensar. Ela nunca o viu em lugar algum. Era como se não existisse. Como nunca tinha reparado nisso antes?
Enquanto cavalgava para as Montanhas, pensava como convencer Ansara a desistir de a acompanhar. Ele poderia virar-se contra elas caso Aracnia ou Regina decidissem comandá-lo. Poderia destruir toda a vantagem de um esquadrão feminino. Valência sabia o quanto ele era teimoso e casmurro sempre que colocava uma ideia na cabeça.
Quando chegou à gruta, Ansara estava sentado à fogueira a comer um peixe pescado do rio. Estava tão magro e com as olheiras profundas que a fogueira acentuava. Valência reuniu a sua força para a conversa que se seguia.
- Então, ainda por aqui? - o seu tom de voz era jovial, mas a sua voz tremia um pouco.
- Não tenho sítio melhor para viver. Todos dizem que sou louco ou um traidor. - sibilou ele.
Valência quase perdeu a força, mas tinha de fazer aquilo para o bem de todos. O seu estômago contraiu-se ao ouvir a palavra «traidor».
- Trago novidades. Já acabei de traduzir o livro. Foi uma grande ajuda. Obrigada por o encontrares - agradeceu Valência. - vamos ao Reino da Teia, mas tu não podes vir connosco.
- E o que te faz achar que tens controlo sobre isso? - riu-se sarcasticamente Ansara. - Posso ir pelos meus próprios meios. Não preciso de ir contigo.
Valência riu-se olhando em redor para os escassos bens de Ansara.
- Os teus próprios meios? - gozou ela. - Meia dúzia de tarecos? Nem uma espada tens! Além disso, ela pode facilmente manipular -te, esqueceste?
- Isso é devido ao Artefacto, não é? - quis confirmar Ansara. - Ela já o devia conseguir controlar antes de o roubar!
- O Artefacto ajuda, mas não é responsável por isso. Ela tem outro meio, mas eu não sei qual é. Sei é que se te levo comigo ela pode facilmente usar-te como refém ou pior controlar-te contra nós. Tu és... eras um sargento! Sabes disso! - explicou Valência exasperada.
- Obrigada pela informação, Valência -, respondeu mais uma vez com ironia - mas vou continuar a ir. Eu não faço mais parte do Reino do Castelo Dourado. Eu não tenho mais sítio para onde ir. Se não fosse por mim, nunca saberias que Aracnia estava à procura do Artefacto. Deverias agradecer-me.
» Quando falo de agradecimento, digo dar-me algo que necessite... como a informação que ficaste a saber sobre o Artefacto no livro e onde anda Aracnia agora. Depois o que me acontece já não tem nada a ver contigo. Não tens de preocupar-te.
Valência sentiu os olhos a arder com a amargura e ironia de Ansara. No entanto, ela não era mulher de ceder.
- Muito bem. Avisei-te e mais te digo que se tu atrapalhares as minhas tropas, vou-me lembrar das tuas palavras e tratar-te como um inimigo caso te vires contra nós.
Assim, chegaram a um acordo e Valência contou-lhe tudo o que sabia sobre o Artefacto. Contou-lhe também o que aconteceu no Reino da Teia durante aquela semana e meia que se tinham separado. O seu sangue fervia. Tinha vontade de gritar e discutir com ele. No entanto, a sua atitude distante e fria não a deixava. O abismo separava-os. O coração de Valência gelou e sentiu o peso da sua indecisão da última vez que se encontraram.
Após contar o que sabia saiu da gruta apenas com um« Adeus, boa sorte» partilhado entre os dois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Reinado das Mulheres (RASCUNHO)
FantasyUma mulher que perdeu tudo devido aos homens da sua família, sobrevive a fingir que é homem até ao dia em que descobre um artefacto que vai mudar o mundo para sempre... Dois séculos mais tarde, um homem injustiçado que procura o artefacto para fazer...