Quando abri os olhos, já estávamos na floresta. Senti todo o processo, da lama tomando conta do meu corpo e a respiração ficando difícil pelo oxigênio denso. Em momento algum ousei espiar por baixo das pálpebras apertadas. O ar limpo invadiu meu pulmão, chão sólido estava debaixo dos meus pés, e a voz familiar de alguém ressoou.
— Venham comigo.
Era Cadium. Ele se preparou para começar a correr, mas Temrys o impediu, apenas apoiando uma mão larga em seu ombro. O gigante hesitou, e encarou o ruivo com dúvida.
— Me diz para onde vamos primeiro.
— Não temos tempo pra...
Cadium começou, mas foi interrompido por um simples movimento de cabeça de Temrys. O Mitcha só deitou a cabeça de leve, e lançou um olhar para calar o brutamontes.
— Sabe quem eu sou? — Cadium balançou a cabeça, negando. Eu pude jurar que vi os olhos de Tems faiscando— Sou a raposa astuta, o metamorfo que dominou a técnica do teletransporte e manipulação de espaço com perfeição, de uma forma que nenhum olho-rosa pode fazer. Era o primeiro subordinado na equipe de Mitchas mais temidas do mundo, e um dos únicos sobreviventes. Se eu quiser transformar um graveto em uma nave do outro mundo, eu posso. Se quiser esmagar você com um meteoro criado apartidarismo de oxigênio, eu posso também. Então vou te falar só uma vez a seguinte frase:
Meu laço deu um passo para frente, o simples movimento colocando todos ali em alerta. Cadium cedeu, evitando um desastre maior, o brutamontes desistiu da luta e ergueu as mãos, em forma de rendição.
— Hyella acredita que se Dianna ficar ali, vão prendê-la para não liberar poder. Ela tem conhecimento e força para ensinar coisas que nenhum de vocês sabe, só queremos ajudar.
Temrys cruzou os braços torneados, a camiseta Clara se agarrando aos músculos da forma mais linda que eu podia imaginar. Cadium deve ter imaginado que aquilo não era informação o suficiente, por isso continuou:
— Temos uma pequena fortaleza em um país próximo. Vamos para lá, nenhum dos três vai poder nos rastrear.
Era isso. Meus pais e Velorn já estavam tão poderosamente conhecidos, que quando alguém dizia "os três", todos sabiam que era deles que falavam. Será que algum dia me reconheceriam assim também? Ainda hesitante, Temrys cedeu, e começou a caminhar em direção a uma árvore.
— Não é nessa direção... — Cadium começou.
Mas se calou segundos depois de entender o que Tems estava fazendo. O Mitcha ergueu as mãos para o tronco, e respirou fundo. Minha atenção estava completamente voltada para ele, meu coração retumbava forte dentro do peito. Era lindo. Primeiro o material se desfez, uma luz dourada emanou dele. Não era mais uma árvore, agora crescia. O formato, a textura e a cor, tudo mudava gradativamente, em uma velocidade impressionante. Sua ameaça anterior não era um blefe.
E por fim, lá estava. Um enorme objeto de metal, quase da largura que o prédio real, escuro como areia negra, flutuando no ar sem encostar no chão. Aquilo era magia? Uma grande porta na traseira da coisa se abriu, revelando a parte de dentro. Temrys entrou primeiro, e me estendeu a mão logo depois. Deixei que meus dedos deslizassem pelos seus, sentindo cada pequena sensação que despertava daquele toque. Incrível como um simples ato como aquele fazia partes distantes do meu corpo se arrepiarem... Temrys era tudo.
O interior do que Tems chamou de "nave" tinha bancos e paredes brancas, com linhas finas de decoração vermelhas por todo o lado. Os bancos eram extremamente confortáveis, percebi assim que me afundei em um deles, com meu laço do lado. Como se já soubessem o que fazer, Cadium e Lyrium assumiram o controle da nave, enquanto Temrys usava nosso tempo de viagem para me falar sobre amava em que estávamos. Era incrível como mesmo depois de saber de todas aquelas coisas sobre mim mesma, fugir de casa e estar extremamente confusa sobre tudo, eu não estava assustada. Tudo parecia até... divertido com ele ao meu lado. Era esse o poder do laço? Além da magia em si, se sentir seguro e amado incondicionalmente... nunca pensei que sentiria isso. Não nessa intensidade. Eu não sabia que a minha paixão absurda por Temrys poderia crescer tanto a mais.
— E tinham muitas delas?
— Por todos os lados. Mas eram movidas por tecnologia, não por magia, já que só humanos as usavam.
— Era difícil pilotar?
Olhei para o painel de controle, onde um vidro mágico recebia comandos a partir da voz e toques de Cadium e Lyrium. Parecia bem simples.
— Sim, humanos estudavam toda uma vida para aprender a pilotar corretamente.
Soltei um suspiro imaginativo, possibilidades passando pela cabeça. Eu não sabia muito sobre o outro mundo, a não ser que havia uma quantidade massiva de humanos que ocupavam Mitchas, e que foi lá que tudo começou. Nasci na nova terra, cresci aqui. Era difícil imaginar um lugar como este, só que diferente. Segundo Temrys, na primeira terra existiam climas mais diversificados, países muito mais separados por água, e ilhas. Vi algumas em livros de história que estudei com Kushter, mas nunca pessoalmente. Pedaços de terra soltos na água, as vezes flutuantes, pequenos demais para ser considerados países. Trazia uma ideia de paz ao meu subconsciente... não pude impedir minha mente de imaginar eu e Temrys em uma ilha, vivendo isolados do resto do mundo.
— No que está pensando?
Virei minha cabeça de volta para ele, sentindo vergonha corar minhas bochechas de vermelho. Eu devia dizer? Agora que éramos laço eu não precisava esconder mais nada dele. Inclusive...
— Como não percebemos o laço antes? Digo, o forjado?
Ele suspirou. Algo como culpa passou por seus olhos, mas tão rápido que não tive certeza.
— Mitchas conseguem ver o laço mais claramente, por isso sempre são eles a descobrir. Vemos a magia com olhos inundados de magia, coisa que humanos não tem. Então foi culpa minha. Eu estava tão acostumado com a ideia de que ia ficar sozinho... que nem passou pela minha cabeça. E nas vezes em que eu pensava isso, sentia culpa por desejar alguém que eu deveria amar com um amor diferente.
Era uma bela explicação. Mas por algum motivo, minha mente ficou estagnada em uma palavra.
— Desejar?
Minha voz foi quase um sussurro. Todas as vezes em que olhei para aquele Mitcha passaram em minha mente, a forma como eu o via como um pedaço vital do meu mundo. Jamais esperei que me desejasse de volta, mesmo que quisesse muito.
Temrys deslizou uma mão enorme pela minha bochecha, segurando meu rosto com cuidado. Senti cada centímetro da minha pele queimar, como se seus olhos vermelhos fossem brasas reais sobre mim. Posicionei minhas mãos em cima do seu peito forte, me agarrando ao tecido da camiseta como se ele pudesse escapar de mim. Como se pudesse se arrepender das palavras, ou decidir de repente que não compensava me ter em sua vida.
— Eu te desejo mais do que pensei que fosse possível desejar alguém. Dianna, você é a coisa mais linda e incrível da minha vida, eu te amo tanto que as vezes nem me lembro de respirar.
Uma emoção diferente passou por mim, não era mais aquele fogo selvagem. Era um corpóreo calmo e puro, que dominou meu coração. Não aguentei a emoção em seus olhos, em seu corpo e em mim. Me derramei em lágrimas antes de me jogar completamente em seu colo, me agarrando a ele o máximo que pude.
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Magia proibida
FantasyDepois de tantas confusões, Darknid decide que contar a verdade para a filha é a melhor opção. Ele só não imaginava a montanha de problemas que atrairia depois daquilo.