Levei um susto tão grande quando a nave atingiu o chão, que acordei de meu belo sonho, literalmente pulando da poltrona macia. Temrys soltou uma gargalhada, Lyrium sorriu em diversão, mas Cadium apenas nos encarou. Sério. O grande Mitcha saiu da nave com o rosto verde, e correu o mais rápido que pode para algum canto no mato. Em poucos minutos, voltou com sua cor normal, todos nós como testemunhas de como o voo calma o havia afetado. Segurei uma risada quando o grandalhão tentou disfarçar, Nosa dando conformações de onde Hyella supostamente estava.
Assim que saímos da nave, Temrys estendeu a mão e o grande monstro de metal desapareceu. Completamente, como se fosse nada. Ele não explicou como havia feito aquilo, ainda não confiava naqueles Mitchas o suficiente. Apenas avançou e se aproximou de mim, como um guarda-costas bem empenhado em seu dever. Deixei que ele me colocasse atrás de si, era mais fácil sentir seu cheiro daquela forma. E então seguimos. Não caminhamos muito até achar uma pequena casa de madeira, que sem dúvidas comportava algo muito maior por dentro. Cadman abriu a porta sem bater, depois entramos.
Como eu havia previsto, era tudo exatamente como a casa anterior. Desde as decorações até as cores e os detalhes, era como se ela teletransportasse a casa inteira. E a criadora estava ali, sentada de pernas cruzadas na poltrona confortável, com um sorriso suave no rosto. Ela não demonstrou surpresa ao ver Temrys, provavelmente já esperava isso. Com uma mão esticada, ela indicou um sofá ao seu lado para que nos sentássemos. Já ajeitados lado a lado, eu e Temrys nos mantivemos em silêncio, até Hyella falar.
— Te chamei aqui princesa Dianna, porque posso te ensinar coisas que nem seus pais e nem ninguém de sua corte pode.
Temrys franziu as sobrancelhas. Não estava acostumado com gentileza demais vinda de pessoas estranhas, e por estranhas quero dizer qualquer um que não fosse parte da corte da minha mãe. Isso porque eu recebia ameaças de morte desde pequena, e era difícil acreditar que alguém poderia oferecer ajuda sem pedir nada em troca.
— E por que fariam isso?
Sua mão se moveu automaticamente para a minha, enquanto a outra se abria. Era mais fácil conjurar magia pura com as mãos abertas, descobri isso enquanto lia alguns livros sobre Mitchas. Mas também descobri, que olhos vermelhos tinham um limite. Havia um abismo de poder em cada um, que nos permitia focar nas magias. Em vermelhos, dourados e até prateados, o abismo era grande o suficiente para focar em duas habilidades, além melhorias para o próprio corpo. Em roxos e rosa, o abismo era tão grande, que eles conseguiam usar magia pura. Vermelhos não eram tão avançados, o que significava que se ele tentasse liberar magia pura...
— Porque Dianna é a única digna do trono.
Certo, aquilo me surpreendeu. Prendi a respiração por um instante, esperando pela reação de Temrys. Mas não houve. Seu rosto estava sério, concentrado e totalmente focado em Hyella. Ela não transmitia uma grama de incerteza no que falava, só a mais pura sinceridade. Lyrium e Cadium ainda estavam de pé, lado a lado como dois guarda-costas.
— Pra explicar direito, preciso contar uma história. Preciso que me escutem até o final. E se depois de tudo quiserem ir embora, só peço que não denunciem nossa localização para o rei.
Eu e Tems nos entreolharmos por alguns segundos antes de concordar com ela.
— Seguimos Enolan, desde que eu o salvei de ser morto pela rainha.
Aquilo era possível? Uma humana tão antiga? Temrys estremeceu ao meu lado, como se a mera lembrança do meu tio o perturbasse a esse ponto.
— Ele tinha um ideal, um objetivo, e um triste fim planejado. Graças a você, ele mudou seus planos. E eu vou ser eternamente grata pelo resto da vida Dianna. Por tudo.
— Mas eu não fiz nada...
Hyella sorriu abertamente, fazendo pequenas lágrimas rolarem por sua bochecha corada. Eu mesma comecei a me emocionar, o amor entre ela e meu tio parecia... lindo. Pra deixar o mínimo.
— Você fez ele te amar. Deu a ele um motivo.
Aquilo ficava cada vez mais estranho, e interessante ao mesmo tempo. Motivo? Mas Enolan tinha um laço, como nunca havia amado antes? E motivo pra que? As perguntas nasciam em mim, uma atrás da outra se embolando em uma grande confusão. Mas Hyella percebeu o quanto estávamos cansados da viagem, e nos mandou descansar. Eu decidi ficar, assim teria muito tempo para saber mais sobre meu tio, que ainda estava dentro de mim.
Cadium nos levou por um corredor largo, por onde Hyella havia saído, repleto de quadros e com um lindo lustre de cristais no teto. O brutamontes pariu na frente de uma das portas, e só indicou com a cabeça antes de dar meia volta e se retirar. Sem nenhuma paravra, eu e Temrys entramos. Meu queixo caiu.
Era três vezes maior que o meu quarto no edifício real, só a cama era maior do que eu consideraria normal. Tinha um enorme dossel que caía em cascatas de um véu rosa, pilares de mármore de decoração, uma porta larga para um banheiro igualmente grande. Mas toda aquela grandeza ficava minúscula perto do nervosismo que agora eu sentia, conforme ganhava consciência da situação.
Durante anos eu dormi ao lado de Temrys por culpa das missões, tinha uma desculpa. Mas agora, nada o impedia de... fazer coisas. Éramos laço, e estava mais do que claro que além disso havia atração. Caso contrário, não teríamos construído um laço forjado por cima do laço já existente que não conseguíamos perceber. Será que ele tentaria algo? Eu queria. Mas não estava pronta, não tanto quanto achei que estivesse. Tems tirou a camisa, e a colocou cuidadosamente em cima de uma pequena mesa de decoração. Meu coração latiu dentro do peito, observei cada movimento daquele corpo torneado em direção a cama. Eu deveria tirar a camiseta também? Comecei pela calça de couro, que me apertava ao ponto de prender a circulação do sangue nas pernas. A dobrei e posicionei perto da camiseta de Temrys, senti todo o meu sangue subir até as bochechas.
— Ei Danna. Podemos conversar?
Cedi e me joguei na cama, o mais longe que pude. Mas ao contrário do que imaginei, meu Temrys estava sorrindo.
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Magia proibida
FantasyDepois de tantas confusões, Darknid decide que contar a verdade para a filha é a melhor opção. Ele só não imaginava a montanha de problemas que atrairia depois daquilo.