Treze

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Será que eu conseguiria enviar mensagens mentais para Temrys também? Estava ansiosa para saber. Enquanto caminhávamos pelo corredor largo, observei o movimento de ambos. Enolan era da mesma altura que Temrys. Os dois tinham ombros largos e pescoço longo. O rosto era diferente, mas os dois lindos de uma forma avassaladora. As orelhas de Enolan eram um pouco mais longas, seus chifres mais pontudos.

Chegamos na sala de treinamento, intacta exatamente como estava quando Enolan saiu de mim. Meu tio começou a posicionar as pessoas ao meu redor, me mantendo no centro. Ele mandou todos abrirem as mãos espalmadas enquanto caminhava até mim, antes de se concentrar completamente em minha pessoa. Ele deteve seus olhos rosa em um ponto da minha garganta, como se visse algo ali. Seus dedos longos e esguios se estenderam até o ponto específico da minha pele, que se arrepiou contra seu toque. Era difícil respirar.

— Preciso que me escute Dianna, como fez quando me tirou de você. Dessa vez pode não ser tão simples. — Ele lançou um olhar rápido para Temrys— Agora.

Uma cortina negra surgiu do chão, nos envolvendo em toda a sala. Era poder. Tinha o cheiro de Temrys, a essência dele... seu poder. Provavelmente mais uma garantia para que eu não morresse ali.  Pouco ar passava pelos meus pulmões agora, só o suficiente para me manter de pé. Meu tio manteve a mão estática em meu pescoço, tocando apenas com o dedo indicador, aquele ponto específico.

— Dianna, feche os olhos. Se concentre. Exatamente como fez para realizar feitiços.

Eu obedeci. Fechei os olhos e me concentrei tão fortemente, que já não sentia o chão debaixo de mim. O poder que me envolvia, me dava a segurança o suficiente para não precisar me preocupar em manter meus dedos agarrados à realidade, ao presente físico. Estava escuro, e muito frio. Não um escuro físico como antes, agora estava vazio. Mas ainda tinha alguma coisa. Eu flutuava, sem sentir nada nem ninguém me tocar, era um esforço me lembrar meu nome.

O que você vê?

A voz estava dentro da minha mente. Não precisei sair dali para responder, a concentração permaneceu intacta.

O escuro. Vazio.

Estiquei os dedos pra o morno daquele lugar, mas encontrei algo úmido no meio do caminho. Aos poucos meus olhos se acostumaram com a penumbra, e eu vi. Era brilhante e cintilava no escuro, só aquilo e eu. Um pouco maior que minha cabeça, uma pedra cor de rosa.

Meu poder.

Estiquei um dedo para a coisa úmida, e de alguma forma sólida ao mesmo tempo. Não tinha forma, apenas tamanho e cor. Impossível de descrever... algo mágico.

Toque ele. Deixe que ele a sinta, peça a ele que a siga de volta. Não morra.

Aquele era o máximo de informação que eu teria, deu pra ver pelo tom de Enolan. Mas aquilo não me assustou. Apesar do vazio que eu sabia que pertencia à falta de Enolan dentro de mim, eu me sentia bem, me sentia em casa. Uma sensação completa me atingiu, começando pelo estômago e percorrendo toda a extensão da minha coluna. Empolgação. Apontei um dedo para a coisa, e estiquei o braço. Seu brilho não me cegava, me chamava. Devagar, com leveza e paciência, depois de alguns segundos... eu finalmente cheguei lá.

E foi como uma explosão.

Meu corpo foi jogado contra a coisa, me fazendo colidir violentamente. Perdi o ar por alguns instantes, ainda agarrada ao brilho, hipnotizada com a intensidade daquilo... era meu. Segurei com as duas mãos, agora mais equilibrada e preparada para os próximos desafios.

Você vem comigo.

Eu não sabia se o poder podia me ouvir ou obedecer, mas dizer em voz alta fez parecer mais fácil. Ergui a cabeça, para a única pequena luz além daquela, da cor do sol: a realidade. Um impulso, eu precisava de um impulso. Era impossível ver o chão, mas deveria haver um certo? Eu afundei. Era muito difícil me mexer segurando aquele peso, então soltei o brilho e afundei. A cada metro a escuridão aumentava e os dois brilhos diminuíam, ficava mais difícil respirar. O chão...

Eu precisava alcançar o chão. Mas se por um acaso, não houvesse chão, então eu estaria perdida. Não teria forças pra subir, muito menos para levar o brilho de lá. Precisava haver um chão. Eu afundei e afundei, e quando pensei que morreria sem ar, prendi a respiração para que meus pulmões não explodissem. Um pouco mais, e mais um pouco, o máximo que pude. Meus pés se debatiam em busca de alguma ajuda, as mãos esticadas tateavam o nada. O desespero chegou. Começou assim que as forças se esvaíram de mim, quando a visão que eu mal tinha começou a tremeluzir. As luzes atrás de mim estava pouco maiores que o tamanho do meu dedão agora, mas não era isso que me preocupava. O cheiro de Temrys estava se afastando.

Preciso de ajuda!

Eu precisava de ajuda, mas quem poderia me escutar? Não estava mais ao alcance da mente de Enolan, além disso, quem imaginaria que uma tarefa simples assim me faria falhar? Agora, afundar não era mais opcional, eu já não tinha forças para impedir meu corpo de deslizar para baixo. E para baixo, e mais fundo eu ia. Respiração? Era luxo. Me debater? Burrice.

Ajuda!

Aju...

Ahn...

Os pensamentos foram se embaralhando e dissolvendo aos poucos, levando minha consciência junto. A densidade impossibilitava os movimentos, a escuridão não me permitiu ver até que... eu encontrasse.

Não o chão, mas a resposta.

Aquele lugar, não teria um chão. Eu estava dentro de mim, o que significava que meu poder era daquele tamanho, e eu o dominava. O ar voltou aos meus pulmões, minha visão foi aprimorada, e em segundos eu estava de volta ao brilho. Ninguém veio me ajudar, eu não precisava de ajuda, não mais.

Apenas eu me comandaria. Eu e ninguém  mais.

Eu emergi da escuridão de dentro de mim mesma, sentindo minha cabeça pesada. Eu brilhava tanto, que se quisesse poderia ter cegado a todos. Eu me sentia mais alta, mais forte, via coisas que antes não via. Eu... era uma híbrida.

Magia proibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora