Vinte e seis

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Minhas pernas tremiam, mas eu não tive que usá-las. Gretta e Kennan desenvolveram um plano para encontrar os gêmeos, e assim decidimos treinar apenas por um dia antes de atacar. Éramos fortes o suficiente para derrotar os inimigos sem muita experiência no novo assunto, e depois disso teríamos a eternidade para treinar. Então enquanto eu me segurava no corpo de Temrys quando desabamos na cama, meu coração se acelerava com o medo do que viria depois. Do que meus pais poderiam fazer com meu tio.

Segundo minha mãe, a esposa de Teodoro foi presa na cadeia debaixo das montanhas. Era um lugar bem guardado e vigiado, de onde ela jamais sairia como humana. Meu pai conseguiu tirar seu encantamento, e agora não existia mais magia nela. Eu não tive tempo de falar com Teo, mas só podia imaginar o quão abalado ele deveria estar. Ainda assim, ele apareceu no jantar e observou o treino, forçando sorrisos por cima dos olhos tristes. Meu coração doeu quando seus ombros caíram na volta para o prédio, sua tristeza quase nítida. Eu não podia imaginar como era amar tanto alguém, e depois descobrir que esse alguém era um traidor.

No dia seguinte, me arrastei até a cozinha mesmo com os músculos gritando, porque meu estômago reclamava mais alto. Temrys me acompanhou, e comeu comigo e com meus pais antes do grande momento. Ninguém disse nada, estavam todos nervosos demais com o que Kennan e Gretta descobririam. E por fim, depois que vestimos as roupas de couro e as luvas prateadas, encontramos meus tios no salão do concelho.

— Eles estão perto. — Kennan começou.

— Perto demais para descartar a ideia de uma armadilha.— Gretta completou.

Meus tios, Enolan e Velorn irromperam pelo salão juntos, os dois vestidos em uniformes de couro e com luvas prateadas nas mãos. O cabelo louro de Velorn estava amarrado em cima, e de alguma forma ficava lindo nele. Enolan carregava um sorriso convencido, e uma vitória certa nos olhos.

— E é por isso que vamos ser a isca.

Gretta quase perdeu a linha ao ver os dois daquela forma, eu percebi quando Kennan teve que pigarrear para que ela continuasse. Mas ao contrário do que pensei, um sorriso leve escapou por seus lábios quando ela voltou a falar. Seria isso um sinal de paz para Enolan?

— Estão perto do local onde acontece a prova Mitcha. Muito perto na verdade, podem querer usar o terreno ao seu favor.

— Mas sem magia eles não ressuscitam os mortos. — meu pai argumentou.

— Mas as forças ficam iguais. A cor dos olhos não importa muito, já que é força física que querem.

Minha mãe soltou uma risada seca, enquanto tirava uma longa faca do uniforme de couro. Eu só conseguia me perguntar como diabos ela tinha escondido aquele negócio enorme até o momento.

— Eles podem pensar que tem alguma vantagem. Mas não contra mim.

Um canto da boca do meu pai se ergueu, e os dois trocaram um olhar carregado de conexão, entendimento. Enolan cruzou os braços no uniforme de couro apertado, marcando os músculos.

— Se for pra apostar em habilidades e força física, eu apostaria em Kelly e Temrys.

Meu pai fez uma cara de indignação, mas todos nós concordávamos com aquilo. Temrys era mais alto que o resto deles, seus músculos marcados mostravam o empenho em treinamentos, e bom... sua fama já dizia: Raposa astuta. Ele tinha truques na manga que nem todos tinham.

— Mas e se o objetivo for nos confundir? Temrys e Kelly vão chegar lá e terão que lutar contra os mortos sem conexão. — Meu pai comentou.

Franzi as sobrancelhas para eles, a solução me parecia simples.

— Se não podemos mandar todos pra cima pela possibilidade de ser uma armadilha, é só Velorn e Enolan irem conosco. Assim o rei e a rainha protegem o prédio como deveria ser, e duas duplas vai ser o suficiente.

Velorn abriu a boca pra falar algo, mas a fechou assim que pensou sobre. Enolan abriu um vasto sorriso, estampando orgulho nos olhos iguais aos meus.

— Genial.

E assim foi. Em uma nave criada pelos poderes de Temrys, eu e meu parceiro partimos ao lado de Velorn e Enolan, para um dos lugares mais perigosos do mundo Mitcha atual. A força que ficara na capital, teria poder o suficiente para derrubar os gêmeos, ou segura-lós até conseguirmos voltar. Eram as possibilidades, e nós estávamos prontos para todas elas.

Engoli em seco quando o monstro de metal pousou, com um impulso que nos jogou para trás. Com uma pressa de exterminar o mau, descemos na área verde e respiramos o ar puro do centro. O local onde a prova de força Mitcha acontecia era mais longe, estávamos com nossas mágoas por enquanto. Esperamos. As árvores eram mais altas ali, mais cheias com folhas extremamente verdes. Os animais ali perto eram mais perigosos também.

— Ora ora.

Uma voz estridente ressoou por nossos ouvidos, uma voz não acompanhada por sons de passos. Me virei para a direção de onde a voz via e a vi... Laenia. E ela era linda. Com os olhos dourados incandescentes, um cabelo prateado que caía pelos ombros até o quadril, e as orelhas pontudas que alongavam seu rosto. Era linda. A mandíbula de Temrys se enrijeceu, sua mão se apertou tão forte, que os nós dos dedos ficaram brancos.

— Onde estão seus reforços?

A garota sorriu, exibindo longos caninos. E então, com um olhar que me deu frio na barriga, penetrou os olhos em Temrys, com uma intensidade absurda.

— Bem aqui.

Laerte surgiu atrás dela, tão lindo quanto, vestido em pura arrogância quando eles entrelaçaram os dedos. Mas não foi um exército de mortos que surgiu debaixo da terra... foram apenas três.

— Não... — Velorn sussurrou baixinho.

Enolan xingou, e Temrys me passou para trás de si quando o trio de mortos deu um passo à frente.

— São só três... podemos acabar com eles.

Eu disse antes de dar um passo para frente, e ser impedida pela mão de Velorn fechada ao redor do meu pulso.

— Não Dianna. Você precisa correr.

Foi Enolan quem explicou, depois de se sensibilizar com meu olhar confuso:

— São Kamine, Kushter e Mullian. Não temos chances.

Magia proibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora