— Então qual vai ser o nome?
— Nem mesmo sabemos o sexo!
— Existem nomes unissex!
Mamãe e papai entram em uma discussão calorosa enquanto eu e Breno estamos apenas olhando. Cruzo minhas pernas no sofá, bocejo. Breno arrasta a mão dele para meu cabelo e quando penso que um carinho vai ser feito...
— Ai! — Pego uma almofada e jogo no rosto dele com o máximo de força que consigo, o que não é bastante considerando que ainda nem tomamos café da manhã.
A discussão dos meus pais atrasaram o café e isso já faz doze minutos e meio. Acabamos na sala porque nenhum dos dois estava pensando em discutir no meio de facas.
— Mãe, pai, nós ainda temos aula — digo.
Eles despertam.
Sorriem e esquecem que estavam praticamente gritando. As discussões do casal Reis nunca chegaram a ser totalmente sérias; eles discutiam por coisas simples e alguns minutos depois davam risadas, eram como no dia em que papai esqueceu-se de me buscar na escola, lembrou apenas quando chegou em casa às 18h. Mamãe ficou furiosa e se trancou no quarto, decidindo que papai dormiria no sofá o resto daquela semana. Mas isso não durou mais que duas horas, ela saiu do quarto e os dois conversaram, riram. Breno me explicou que, quando nossos pais brigavam, existia um método que os fazia se resolver. O nome do método era "Acasalamento" e sim, naquele tempo eu não sabia o que queria dizer. Hoje em dia não quero nem pensar.
Nos levantamos do sofá e fomos em direção a cozinha.
— Porque discutir o nome do bebê agora? — Perguntei.
— É muito cedo, não é After?
Acabo bufando.
— Meu nome não é After.
— Suas iniciais formam isso — meu pai olha para minha mãe como se tendo uma grande ideia, ou perdendo uma grande ideia —, deveríamos ter posto o nome dele assim, seria muito mais fácil, não é, Alma?
Mamãe sorriu e passou a mão pelo meu cabelo.
— Deveríamos cortar seu cabelo, isso sim. Minha nossa, Breno, a escola não vai fugir... Coma devagar.
Evito olhar para a boca cheia do meu irmão. Isso me da ânsia.
Abaixo o olhar para meu próprio prato de torradas. Acabo pensando se After seria um nome melhor do que o meu próprio. Quem poderia imaginar que uma discussão de nomes para mim também fora feita?
Alison Felipe Theodore Edgar Reis.
A.F.T.E.R.
Alison foi o nome que Breno escolheu quando meus pais, ainda indecisos e atordoados, lhe deram um monte de cartas com nomes como se fosse um jogo. Não fizeram questão de colocar na ordem alfabética, mas mesmo assim, meu irmão pegou um nome que começasse com A. Felipe veio da cabeça do meu pai, por alguma razão. Theodore e Edgar são meus avôs falecidos, um materno e outro paterno. Não os conheci, por isso não posso dizer que me sinto honrado em ter o nome deles, já vi fotografias e mesmo assim, nada. Vovô Theodore morreu em um acidente de carro e não, ele não estava dirigindo. Vovô Edgar morreu enquanto dormia.
Reis é apenas nome de família mesmo.
Como não queriam me chamar pelo nome completo — ou por apenas um para que eu não preferisse um ao outro — decidiram juntar minhas iniciais.
After é "depois" em inglês. After também sou eu.
— Meu nome é vergonhoso — digo.
— Não! Não é — Minha mãe senta à mesa e pega a garrafa de café e despeja em uma xícara florida. Minha mãe coleciona xícaras e temos cinco armários só para elas. Cada um diferente do outro: animais, onde a preferida dela é a xícara de vaca; flores; cores e as xícaras que ela mesma faz. A última xícara que fez tinha desenhos tinha desenho dos planetas e por alguma razão a terra é maior que o sol.