CINCO

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Na segunda-feira fui à escola como um zumbi, achei que ficaria desanimado assim que colocasse os pés no corredor. Bom, o destino tinha outros planos.

Encontrei Joyce no corredor conversando com Larissa Neves. Não entendi nada. Elas se odiavam por algum motivo que só as duas pareciam saber. Mas estavam ali, como melhores amigas. No outro corredor à frente, Enzo estava com Maria, os dois rindo, os dois animados com alguma coisa.

Algo dentro de mim se contorceu e apertou e rasgou.

Passei por elas sem falar nada e fui direto para a sala de aula. Quando me sentei tratei de desamassar aquela parte minha que havia sido amassada por garras. Eu não ia ficar incomodado por coisas bestas; meus amigos poderiam ter mais centenas de amigos, e tudo bem. Tudo bem.

Abri o caderno mas não havia nada para copiar, o professor nem mesmo estava em sala de aula. Deixei o material de lado e peguei o celular. Havia mais uma mensagem de Hector e dessa vez eu resolvi olhar.

"Alison, pelo amor de Deus, seja coerente. Vou estar naquela lanchonete aqui do meu bairro. Apareça assim que sair da escola, tudo bem?"

Por um momento remói se deveria responder.

Então minha mente ligou aquela luz vermelha e poderosa que emoldurava uma palavra: foda-se.

Respondi rapidamente e guardei o celular mas ainda senti quando outra mensagem dele chegou. Essa eu não olhei.

Joyce, Enzo e Maria chegaram juntos à sala e sentaram-se perto de mim. Demorou alguns segundos para que eles começassem a falar e quando começaram eu senti que as coisas estavam voltando aos eixos.

— Como foi lá na casa de praia?

— Foi bom. Ótimo, na verdade. Eu conheci uma pessoa.

— Conte absolutamente tudo. — Joyce diz sorridente.

Assim que saí da escola tive um problema. Joyce queria ir comigo para minha casa e eu tive que inventar que minha mãe estava morrendo de dor de cabeça por conta da gravidez. Eu nem sabia se fazia sentindo ou se Joyce acreditou em mim, mas para encontrar Hector eu preciso ir sozinho; nem mesmo Joyce sabe da existência dele.

O vejo em uma mesa.

Hector está... do mesmo jeito.

Alto, ombros curvados de sempre, cabelos cor de mel e olhos um pouco mais escuros mas que brilhavam ao menor contato com a luz. Brilhavam mais com o sol e os lábios dele são sempre rosados, mas um rosado nada inocente. Não queria ter que encontra-lo tão cedo, acho que não bastou enrolar por quase... cinco meses? Acho que foi isso. Entro antes que mude de ideia e Deus sabe que posso mudar de ideia rapidamente.

Ao me ver eu não podia nomear a expressão dele com nada a não ser surpresa. Genuína surpresa e deleite.

Sentei à frente dele.

— Estou aqui. Mas não tenho nada a dizer.

— Mas eu tenho... After... Alison. Só... Me escuta.

Assinto. Quanto mais rápido ele começar mais rápido posso sair daqui. Eu queria saber quantas pessoas estão nessa lanchonete, havia gente que eu conhecia ou que meu irmão conhecia? Impossível saber, não posso analisar todo mundo.

— Sei que você disse que nosso lance estava acabado e eu... achei isso meio precipitado. Foi só... uma coisinha e você já está desistindo; isso contradiz tudo o que você disse sobre ter coragem para um relacionamento.

As palavras foram como socos mas não no meu estômago; socos no meu senso. Segurei as barras da cadeiras ao meu lado para não falar nada. Deixei que ele continuasse, eu estava aqui para ouvi-lo mesmo.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora