Enzo
— Joyce e After são como carne e unha. Eles se conhecem há muito tempo e têm umas coisas só deles, não fico chateado quando decidem andar juntos. Mas acho que Maria fica. Ela têm outros amigos mas confia mais em nós, conversa mais com a gente.
Samir e eu paramos em frente a casa dele e ficamos apenas nos olhando, esperando para saber quem tomaria o primeiro passo ou se iriamos deixar o tempo passar para que ficássemos apenas nos olhando. Sinceramente, essa ideia é tão boa quanto beijá-lo.
— Entendo. Eu também era muito apegado a alguém quando viajei.
— É?
Samir sorri de um jeito fofo e é difícil ficar — se quer tentar — ficar irritado com ele por quaisquer motivos de A à Z.
— Era um amigo. Ele tinha um apelido engraçado... seu primo está olhando para cá.
A menção a Igor me fez petrificar. Olhei por cima do meu ombro e o vi, ele realmente estava ali e parecia tão estático quanto eu. Queria tanto explicar a Samir o porque nunca quis que ele chegasse tão longe comigo. Não era pelo fato de eu ser virgem, que se dane isso. É por causa de Igor, porque ele já me tocou em diversos cantos do meu corpo que não consigo deixar que outra pessoa toque por cima, porque parece sujo, parece contagioso como um vírus. É difícil aceitar que outra pessoa te toque de livre e espontânea vontade quanto o oposto já aconteceu, eu me culparia se me permitisse algo assim a alguém incrível como Samir.
— Eu tenho que ir.
— Tudo bem.
— Certo.
— Tudo bem. — Ele repete e sorri. Covinhas... malditas covinhas que me deixam com vontade de mordê-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.
Me demoro. Relembro que, aqui mesmo, alguns dias antes, Samir disse que a demora para nos despedir só mostrava o quanto queríamos ficar mais um com outro e o tchau com a gente sempre demora porque se eu pudesse escolher, nunca daria as costas a ele. Infelizmente, hoje, logo hoje eu tenho que fazer isso e rápido.
Não o beijo, não o toco. Só aceno e parece ser o gesto mais falso e sem graça do mundo. Caminho até minha casa com pressa e não me dou ao trabalho de olhar para Igor. — mesmo sabendo que ele está me seguindo para dentro de casa. E quando a porta bate eu me sinto quase amedrontado.
Quase.
— Você está namorando? Com aquele menino?
— E se eu estiver, o que você tem com isso? — Rosno.
Não posso me dar ao luxo de olhar para ele agora, acho que se eu encará-lo perderei toda a minha coragem e por isso mantenho meu foco na parede, de costas as coisas são menos complicadas.
— Sua mãe sabe? Aposto que ela vai adorar saber...
— Você não vai contar a ela.
— Claro que vou.. Eu disse a você, Enzo. Eu tenho aquele vídeo onde você mostra seu corpo pra mim, vou mostrar a ela também. Não quero ameaçar você, primo, mas gosto do que a gente tem e ainda não é o momento de largar isso...é só você terminar a escola que a gente esquece, finge que nunca aconteceu. Fácil.
— Não. — Sussurrei e senti o suor escorrendo pela têmpora direita até a bochecha. Eu não me movi, não por não poder, mas parece que quando estou parado consigo focar mais em falar e em não chorar.
— Então vou falar com minha tia...
— Você não vai falar com ela — explodo —porque eu já falei! Seu idiota!