— Eu não posso te ajudar, Alison.
O professor olha para mim com pena, ele parece mesmo querer ajudar mesmo sabendo que não pode.
— Outros alunos faltaram ao teste, se eu dá-lo apenas para você, será algo injusto.
— Não haverá nem uma reposição? Nada?
O professor suspirou. Um homem alto e forte, careca e com um nariz bem pontudo. Sei que nunca precisei pedir reposição a um professor, mas dessa vez eu estava nos meus piores momentos, eu precisava mesmo de ajuda e não ia virar as costas para essa percepção óbvia.
— Posso passar um trabalho individual que não terá a mesma nota do teste, que fique avisado.
— Obrigado. — E saí da sala dos professores com uma sensação terna mesmo que desesperada.
Pelo corredor direito acabei indo até o refeitório e me sentando junto aos outros. Meu corpo parecia suar como um porco, eu estava me sentindo gordo, exausto e com uma imensa vontade de tomar café, eu estava me sentindo, em poucas palavras, um velho.
— E então? — Maria pergunta mordendo uma maçã belíssima.
— Trabalho individual. Melhor que nada.
Ela concorda e morde mais da maçã. Olho para os lados e não vejo Enzo ou Samir. Pergunto a Maria onde eles estão.
— Biblioteca.
— O que eles estão fazendo lá?
— Samir quis ajudar Enzi a fazer o TCC dele. E, por falar nisso, como vai o seu?
Aposto que fico mais vermelho que aquela maçã que está nas mãos dela.
Agarro os lados da cadeira e sou poupado de responder quando, de repente, Larissa me cutuca no ombro. Abençoada seja.
— Oi?
— E então, eu pensei em um plano.
— Plano? — Maria rouba minha fala.
Me dediquei a estudar como Maria observa Larissa. Não era como Joyce, que desdenhava até mesmo da franja de Larissa. Maria parece apenas curiosa como sempre. Expliquei a ela a teoria de Larissa sobre reerguer minha reputação no ensino médio e a cada palavra que eu falava, Maria ia se esquecendo da maçã, até o ponto que, quando terminei de falar ela já estava sacando um pequeno caderno de unicórnios com arco-íris e fazendo uma lista junto a Larissa, que não hesitou em pular para o banco ao lado dela. Olhar para as duas juntas é desconcertante.
Elas murmuravam "isso!" e "não, muito difícil" e chegou até um momento que elas estavam rindo do quão desastrado eu sou.
— Eu posso escutar vocês muito bem, obrigado. — Digo.
— Acho que já está bom — Maria me entrega seu caderno pequeno e eu olho a lista que ela fez com a ajuda de Larissa.
— Eu com certeza não vou fazer os deveres dos outros! Nem fodendo!
— Não é fazer, seu besta, é ajudar.
Nego veementemente.
— Estou mais atrasado que todos nas matérias, quem iria querer minha ajuda? Descartado. Próximo. Espera... Não. Não vou usar meu irmão para fazer amizade com os do terceiro ano.
Larissa bufa e Maria concorda com a cabeça. As duas trocam um olhar que parece restrito para mim, era impossível eu saber o que significava, agora elas duas, em apenas dez minutos, haviam criado um códigos de olhares e murmúrios e risadas só delas.