CATORZE

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Enzo

Sexta-feira.

Só consigo pensar: Estou ferrado.

Depois que saí da escola estava a caminho de casa quando escutei alguém chamando meu nome. Olhei para trás e vi Samir correndo na minha direção com aquele sorriso de sempre no rosto e eu vi que ele estava quase saltitando até mim. O rosto dele estava um pouco suado e percebi que ele deveria estar na aula de educação física. Tentei não olhar para o pescoço dele, que tinha gotículas de suor, que de uma forma esquisita, eu achava atraente.

— E aí.

Começamos a andar lado a lado.

— Tudo certo para hoje? — Samir pergunta e usa a camisa para limpar o suor da testa. Ai meu Deus.

Espero minha respiração retornar ao ritmo normal porque ver o abdominal suado dele não ajudou nisso. Desvio o olhar para frente, sempre para frente...

— C-claro. Porquê? — Temi que Samir fosse dizer que os pais dele o proibiram de ir ou algo do gênero. Acho que ficaria ofendido se ele dissesse que não queria mais ir e só estava encontrando um jeito melhor de me dizer isso.

Não sei se, a esta altura do campeonato, Samir sabe que sou apaixonado por ele. Não só apaixonado. Completamente apaixonado, rendido, essas coisas.

Arriado os quatro pneus.

Continuamos andando, ele já cobriu o tanquinho —para minha infelicidade.

— Que bom. Eu sempre me atraso para sair... Você pode passar lá em casa?

— Ah, c-claro. — Eu tinha que parar de gaguejar mas não sabia como!

Samir era assim, ele conseguia fazer com que eu sentisse que minhas pernas poderiam ceder a qualquer momento, fazer eu sentir que gaguejar é algo que não consigo parar de fazer mesmo se tentar. Eu tinha medo de fazer papel de bobo na frente dele, de todos os modos possíveis, eu tinha medo de tropeçar na rua, medo de ser ignorante em algum assunto sério ou algo assim. Eu tinha que pensar duas vezes no que falar perto dele, sabia disso, mas o ponto é: eu não pensava coerentemente com ele tão perto de mim. Eu só queria correr e, ao mesmo tempo, me jogar em cima dele para beijá-lo.

Paramos em frente a casa dele.

— Tchau.

Estava prestes a responder. Faltava pouco para as palavras abandonarem meus lábios; mas Samir beijou minha bochecha e destruiu o que poderiam ter sido as primeiras palavras não gaguejadas que eu lhe diria hoje. Ele destruiu isso com um beijo rápido e correu para dentro de casa com um sorrisinho no rosto.

Fiquei plantado em frente a casa dele como um bobo que era justamente o que eu não queria ser na frente dele. Voltei tropegando para casa, entrei, larguei a mochila no chão e toquei minha bochecha. Ah que droga, agora sim eu quero beijá-lo. Ele está sozinho em casa, quem sabe eu posso...

Não.

Não. Não vou entrar na casa dele para beijá-lo lá, seria estranho.

Fui para o chuveiro e depois deitei na cama para ler um pouco do arquivo que Maria me enviou, mas não consegui me concentrar tanto, as palavras ficavam turvas na minha visão quando eu começava a pensar sobre outras coisas. Minha linha de raciocínio começou em Samir, depois terminou em ansiedade. Minhas mãos suavam como... Alguma coisa que sua muito. Sei lá. Eu precisava me acalmar mas não sabia como, era como se o relógio na minha cabeça tivesse disparado como louco e não queria parar e por isso, meu corpo todo não pararia. Comecei a me sentir elétrico mas não de um jeito bom. Andei pelo quarto, tirei coisas do lugar, murmurei e nada disso fez com que eu me sentisse exausto demais para ficar quieto em um canto. Respire, é só respirar.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora