TRINTA E OITO

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O conflito agia em mim como mar revoltado. Ondas e ondas, quebrando-se e unindo-se. Eu estava uma confusão e me sentia preso à única coisa que me deixava leviano: à indiferença. Eu tinha medo de abandonar a indiferença e ficar vulnerável para as emoções virem me atacar de novo. Porque as pessoas funcionavam assim, como arqueiros, elas lançavam suas flechas não às cegas, mas com plena consciência de onde — e em quem — iriam acertar. A maioria não sente remorso.

Acontece que abandonei a indiferença quando as palavras dele me acertaram no âmago e eu pedi que ele me abraçasse de verdade. Eu perdi o ar nos braços dele e não foi figurativamente, foi de verdade e eu senti, prendendo o ar e ouvindo apenas um zumbindo, que o coração dele estava tão acelerado que acompanhou os batimentos do meu, tão acelerado quanto.

Ficamos naquela bolha silenciosa e praticamente para qualquer um ver que meus braços doeram e quando o larguei, finalmente, fiquei constrangido.

— Eu gosto dos seus abraços — foi o que eu disse ficando cada vez mais sem graça —, são verdadeiros.

— Eu abraço muito.

Olho para ele e essa mentira descarada.

— É verdade.

Rio.

E fiquei sem saber o que falar. Existe aquela dualidade em querer que ele entre e fique comigo mas a consciência de que isso seria a coisa errada a se fazer agora. Tínhamos acabado de esclarecer às coisas e ele acabou de dizer que me ama e...

— Benja?

— Sim? — O fiapo de esperança na sua voz me torturou um pouco mais.

Abro a boca mas a fecho em seguida. Porque eu sabia que o que iria sair era definitivo, mas não eram as minhas palavras. Eram as dele. Eu ia repetir e isso não me parecia verdadeiro e estamos tentando ser verdadeiros aqui, não estamos?

Respiro fundo e volto a falar, dessa vez com mais confiança — da qual achei estar desprovido.

— Sabe quando... Sabe quando a gente é criança e diz... que quer o melhor do futuro? — Ele assentiu, confuso. Pelo visto eu ainda tinha que explicar minha linha de raciocínio. Não me preocupei com isso. — Eu dizia aos meus pais que meu futuro tinha três passos. Estudar, se divertir e ir.

— Ir aonde? — E essa era a mesma pergunta que meus pais faziam.

Dou de ombros.

— Eu acho que nunca pensei muito. Ir é abrangente, posso ir ou ir embora, sabe? Deixei o último passo do meu futuro em aberto para sempre.

E sem perceber que estávamos nos aproximando eu tomei consciência de que o meu ir de agora é em direção à boca dele.

E o beijei, finalmente.

Não, eu o agarrei. Eu o trouxe para perto com tanta velocidade que nossos dentes se chocaram e isso causou um choque no meu corpo inteiro. Um choque, primeiramente de dor, depois de prazer porque a boca dele ainda tinha o gosto que eu me lembrava e as mãos dele ainda me seguram com força na cintura, e o corpo dele ainda se encaixa perfeitamente ao meu ver, no meu corpo. Nada havia mudado mas tudo havia mudado, às vezes acho que enlouqueci, mas todo mundo enlouqueceu junto a mim e agora é uma loucura que todo mundo considera normal. Isso fazia sentido?

Aperto seus ombros e desejo que o ar nunca acabe, pelo menos não até eu sentir que podia me separar dele.

Ele passou a mão pela minha nuca e sentiu meus cabelos curtos, isso o fez sorrir.

— Ainda tento me acostumar quando me vejo no espelho também.

— Eu achei irado. Está mais sexy.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora