SETE

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Enzo


Não havia ninguém em casa. Graças a Deus.

Largo os fones de ouvido e jogo a mochila no sofá. Corro para o banheiro e tomo um banho demorado mas sempre desligando o chuveiro para ver se tinha ouvido a porta abrindo ou passos pelo corredor. Não consegui relaxar, não consegui despertar, eu estava só no modo automático desde que tive apenas duas horas de sono. Meu corpo exigia um descanso.

Não quis comer, só me joguei na cama e peguei o celular. Não sei de quem eu estava esperando mensagem mas queria que tivesse alguma, de qualquer pessoa para me distrair, para não deixar que eu agarrasse o sono.

Infelizmente foi o que aconteceu.

Acordei com alguém distribuindo beijos pelo meu pescoço e poderia até ser uma coisa boa se não viesse dele.

— Para. Para com isso.

— Relaxa, Enzi.

Eu odeio esse apelido com todas as minhas forças. Não havia espaço para que eu me afastasse, minha cama era de solteiro, ele estava de um lado e eu do outro e mesmo assim se ele esticasse o braço conseguiria agarrar meu ombro. Ou qualquer outra parte que desejasse. Eu não suportava saber disso, que a mão dele, o corpo dele, estava tão perto. E eu estava preso sem correntes ou sei lá, só preso. Pedrado.

— Onde está minha mãe?

— Sei lá. Eu estava esperando você chegar... Pra gente brincar um pouco. Hum?

— Não... Melhor não. É sério Igor só... Alguém vai chegar.

— Ninguém vai chegar.

— Eu estou cansado. — Rosnei. — Cansado pra porra... Eu quero dormir.

Igor capturou meu olhar no mesmo segundo. Havia momentos em que eu conseguia rebater, havia momentos em que eu não deixava que ele me vencesse nessa discussão e estou usando todas as minhas forças para vencer essa porque estou realmente cansado. Suspeito que, se ele chegar a sair do meu quarto, eu irei desabar como as torres gêmeas.

— Tá. Mais tarde a gente se resolve.

— Saí daqui. Fecha a porta. — Igor o fez.

Um segundo, dois, três. Levanto e tranco à chave. Certo, estou com as pernas bambas, estou com o coração na garganta e ainda sentindo os lábios dele no meu pescoço, e coça; eu quero rasgar essa parte da minha pele. Mas fico imóvel, pensando no que aconteceu. Eu poderia ter feito tanta coisa para acabar logo com isso, poderia ter o ameaçado como ele me ameaça, idaí que ele tinha algo para usar contra mim?

Não sei se da próxima vez conseguirei reagir, não sei se das próximas vezes eu conseguirei despertar essa parte de mim que contradiz e rebate com força. A única coisa que tenho certeza é que haverá uma próxima vez.

Havia uma razão para o meu dia ter sido tão desastroso.

Igor mandou uma mensagem dizendo que um dos amigos dele viu o celular dele sem que ele percebesse. Não sei quem, não sei aonde, só sei que agora compartilho esse segredo com mais uma pessoa que nem sei o nome. Não há nada pior que isso. Não sei o que esperar. Um momento de novela onde esse garoto surge apontando o dedo para mim, contando aos meus pais da minha bissexualidade? Um momento em que Igor vai se cansar dessa brincadeira e fazer isso ele mesmo?

Estou com a corda no pescoço, em cima de uma cadeira e não sou eu quem vai empurrar a cadeira para longe.

A pedido de Maria eu comecei a ler uma história na internet. Um romance entre dois garotos da boyband que ela gostava. No momento eu tentei não dar muita importância, mas eu precisava de distração. A história começa meio meia-boca, mas fica melhor quando os garotos começam a se entender.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora