TRINTA

73 5 0
                                    

— Você vai comigo? — Breno lança a pergunta ao me ver parado em frente ao espelho do meu quarto, ajustando a farda.

— Vou.

Seu semblante no reflexo mostra que ele está sorrindo. Bom, eu não estou. A decisão de ir à escola surgiu quando o relógio marcou três da madrugada, eu estava me revirando na cama tentando dormir, mas como sabia que iria ser uma missão falha, decidi ficar acordado até ouvir o despertador do celular dele. Me levantei depois que ele saiu do banheiro.

— Isso é bom. Ah, vou começar a trabalhar hoje. Estou nervoso pra caralho.

Sorri.

Acho que ter Breno tagarelando enquanto andamos até a escola pode me fazer sentir melhor.

Quando ele saiu do meu quarto, olhei uma última vez para a gaveta que escondia aqueles remédios. Foi imprudente toma-los daquele jeito, não sei se tenho coragem de abandoná-los agora, fica mais fácil com eles aqui. O que me conforta é saber que um dia vão acabar e assim, posso fingir que nunca aconteceu nada.

Enquanto andava eu tentava fazer com que meus pensamentos se baseassem em: um passo, depois outro, depois outro. Mas acabei tentando achar coisas que me agradavam na escola, questionei-me quais eram as coisas que eu gostava. Coloquei em primeiro lugar meus amigos, mas tive que reinventar esse primeiro lugar e coloquei a aula de história, em segundo lugar coloquei ver Dan, poder rir com ele falando merda no meu ouvido ou simplesmente falando de si. Em terceiro lugar, meus amigos. Eu acho que, o que me preocupou mais foi: que amigos?

Minha mãe já tinha me falado que chega uma fase para todo mundo, onde se perguntamos quem são nossos amigos e quem não é. Era algo difícil, ela havia acrescentado, perceber que nossas amizades mudavam, era apavorante, na verdade.

Tentei lembrar quais aulas eu tinha hoje. Depois que cheguei, tentei lembrar o nome dos professores. Minha mente estava lenta-quase-parando hoje, coloquei a culpa nos remédios afinal, um dos efeitos colaterais é lentidão de raciocínio. Breno me deixou para ir ao encontro dos amigos.

— Você vai ficar legal? — Ele havia perguntado com tanto receio que eu disse sim apenas para vê-lo ficar contente em sair de perto de mim.

Eu fiquei parado no corredor por um instante. Confiro a hora. É cedo e os corredores estão pouco lotados, pela manhã é fácil notar o quão enorme a escola se parece, quase sem nenhum aluno.

Meus movimentos começam a ficar mais lento quando bocejo. Acabo não prestando atenção em que direção estou indo e em consequência disso, esbarro em alguém que acabou de sair da secretária. Não foi um esbarrão, quase nem nos encostamos, mas a proximidade com alguém, o calor de outra pessoa me deixou zonzo por um instante.

— Desculpe — disse.

— Oi — foi a resposta e veio animada demais para alguém acordado às seis e meia da manhã.

Olhei para o rosto dele e me perguntei quem era. Um segundo, então dois e lembrei. O garoto que apitou o jogo sábado. Eu pensei que ele era da outra escola.

— Oi. Hãã... Novato?

O garoto assentiu e sorrio, orgulhoso. Acho que fiquei um pouco desesperado porque conversar com as pessoas havia sido um compilado de "como vai?" e "sinto muito", eu precisava criar novos roteiros para conversas com as pessoas, com estranhos as coisas, ironicamente, ficavam mais fáceis.

— Terceiro ano. E você?

— Segundo. Você já estava aqui há um tempo? Acho que não te vi.

— Há duas semanas e meia, eu acho.

Assinto e murmuro um "legal". Queria saber como Breno faz essa palavra parecer algo mais como um "maravilhoso!" enquanto, quando eu digo, parece que estou tolerando algo fútil, aguentando algo por pura obrigação.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora