"After, esse é seu nome, não é?"
Pela terceira vez no dia meu coração pareceu querer sair pela boca.
"Com a dica que te dei ficou bem mais fácil, hein?"
"Com certeza. Mas esse é mesmo seu nome?"
Então comecei a digitar a razão por meu apelido ser aquele e esperei que ele digitasse uma serie de K e o assunto morreria.
B, entretanto, não era como a maioria das pessoas.
"Achei incrível, seus pais são criativos. Você também é pelo que li nas postagens, eu só queria ter adivinhado antes e ter um trocadilho pronto para agora"
Fiquei sem fôlego por um segundo.
Meus dedos agiram sem que meu cérebro ordenasse.
"Obrigado, B"
"Não acha que seria prudente você me contar seu nome agora?" —Digitei e imediatamente apaguei.
Acho que não seria prudente perguntar o nome dele assim... Não quando ele descobriu o meu. Talvez eu tenha que esperar mais um pouco, de assunto em assunto as coisas vão se revelando. Eu só preciso ter paciência.
"Como descobriu, afinal?"
— Com quem está conversando? — Me assustei quando a voz de Enzo veio à direita. Ele estava tentando ler minha conversa e logo desliguei o celular. Enzo recuou.
— Ninguém. Cadê as meninas?
— Ah, foram ao banheiro. Já sabe de Dan?
Murmurei um belo palavrão que fez meu amigo rir da minha cara.
— Sim.
— Que bom, pelo menos você vai estar preparado. Ou não, pela sua cara.
— Não quero falar disso sem Joyce e Maria. E o seu garoto?
Enzo mordeu o canto da unha, nervoso.
— Não é meu garoto... É só o Samir. Ele é legal.
— Só legal?
Percebi como ele sorriu. O mesmo sorriso que eu dava para a tela do celular recentemente. Ou quase o mesmo sorriso. Isso tinha que significar alguma coisa, certo? As pessoas não sorriam assim por algo que fosse apenas "legal", conversar com B não era apenas legal, era extraordinário. Aposto que Enzo quer dizer que Samir é extraordinário também. Só que há algo que o impede, não sei o quê.
— Samir ele é... Inteligente, engraçado... Tudo isso e além de tudo é lindo. Devia ser proibido. Sabe quando Joyce é sarcástica e Maria superesperta? Samir é assim.
— E eu sou o quê?
— Chato. — Dou um soco no ombro dele —Mas é só um pouco chato. Um pouco.
— E você é...
— Ei! — Maria chegou até nós. Ela estava vermelha do pescoço para baixo. Joyce estava do mesmo jeito que do corredor, só que agora mascava chiclete.
— Porque foram ao banheiro juntas? — Enzo perguntou. Eu sempre quis perguntar isso também.
Maria responde depressa: — Porque quando Hermione foi sozinha foi atacada por um trasgo.
Franzi o cenho quando Enzo e Joyce riram.
— O quê?
Maria bufou.
— Você nunca leu Harry Potter?
Nego.
Maria pareceu ficar bem chateada. Ou só magoada por eu não ter pego a referência de Harry Potter. Ficamos calados até todos falarem sobre Dan e a situação de Dan e Dan, Dan, Dan.
— Gente, por favor... Eu não sei se vou aceitar. Eu não quero namorar agora. A gente só ficou... Dan não é... O meu garoto.
Joyce e Maria não entenderam essa referência, apenas Enzo.
O celular vibrou mais uma vez. Joyce olhou por cima do meu ombro e disse, risonha como aquele gato de Alice: — Falando no diabo.
Todos se colocaram perto do meu celular para verem as mensagens de Dan que só começavam a chegar, parecia não acabar nunca.
"Podemos nos ver?"
"After, eu sei que veio à escola, cadê você?"
"Quero te falar uma coisa, é bem sério"
"Pode me encontrar depois?"
"Relaxe, não contei nada a ninguém, nem ao seu irmão"
— Encantador — Joyce murmura.
Que desastre.
Desligo o celular e não respondo.
Meus amigos saem de cima dos meus ombros e respiram fundo. Aposto que estão tentando pensar em algo para me dizer, um conselho ou uma piada para quebrar o gelo da situação, ou qualquer coisa assim. A única coisa que sei é que vou ficar irritado se Dan me mandar mais alguma mensagem.
Cabulamos as três primeiras aulas de seis , passamos o intervalo no mesmo canto, mesmo que Enzo tenha ido pegar lanche no refeitório para a gente. Saímos dali ao sinal da quarta aula soar.
A quarta aula é física. Não me concentrei em nada, copiei o que nem lia e quando saí da sala de aula para ir à outra vi Dan no final do corredor. E ele também me viu. Ah, que merda.
Fiz a primeira coisa que pensei e dei as costas, indo para a próxima sala. Eu poderia fugir por hoje e ninguém poderia me julgar por isso.