DOZE

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Faz três dias que B não fala comigo. Faz três dias que meu sono decide sumir para que eu fique olhando o celular e relendo o que escrevemos, às vezes respondendo no mesmo minuto, às vezes não. Eu só queria que ele me respondesse logo, eu não o conhecia e nem mesmo fazia tanto tempo assim que conversávamos; só não consigo parar de pensar que quero trocar mensagens com ele toda hora.

As mensagens de B foi só o começo dos dias ruins. Minha mãe ficou sem inspiração e acabou derrubando algumas xicaras sem querer, o que a fez ficar irritadiça e mandona. Papai saia para escrever na área de casa e criava seu próprio mundo, em alguns momentos ele entrava em casa, preparava a refeição e dizia "Poupem meus ouvidos, quero eles limpos para pensar" e Breno... Ele continuava o mesmo, mas havia algo que ele estava escondendo, ainda não sei o quê.

E enquanto eu era ignorado por B, tentava não atrapalhar meus pais e tentava inutilmente completar minha tarefa, comecei a ter a sensação de ter esquecido alguma coisa, um detalhe pequeno que passou diante os meus olhos e não percebi. Acho que tem a ver com o livro, ou com B. Ou talvez eu queira estar querendo ter um romance como nos livros. Afinal, quem não quer?

Pelo final da tarde Breno me chamou para sairmos.

— Aonde vamos?

— Nós vamos encontrar Carol. — Passamos por nosso pai que estava inclinado sobre o caderno e sua mão se movia rapidamente pelo papel.

As letras dele montavam um parágrafo, os parágrafos dele formavam seus pensamentos. Ele parecia querer transferir o máximo de coisa que poderia para o papel. Recentemente li, recentemente descobri que isso pode mesmo ter efeitos.

Breno e eu fomos caminhando em silêncio. Mas eu estava desconfortável com o silêncio quando vinte minutos se passaram e ainda continuávamos andando, meio que, ao que parecia, sem rumo a não ser reto. Sempre reto.

— Onde sua namorada está então?

— Ah. A gente não vai encontrar ela. Eu menti para você vir comigo.

Parei. Meus pulmões ardiam e eu queria jogar uma pedra de paralelepípedo que estava solta na rua na cabeça do meu irmão. Respirei com força duas vezes antes de grasnar:

— O quê?

Ele teve a decência de parecer envergonhado. Não durou muito, entretanto.

— A gente está indo buscar o presente do nosso pai. Pronto, falei.

— Mas... Mãe disse que íamos comprar o presente hoje.

— É... Mais ou menos... Nós dois já tínhamos o presente, ela só precisou falar com você para não ficar escondendo nada.

— Ah, foi realmente ótimo. Obrigado, vocês são incríveis por isso.

Breno agarrou meu pescoço em um tipo de abraço másculo. Me distanciei dele o mais rápido que pude. Semana passada eu havia lido uma noticia que, em São Paulo, pai e filho foram agredidos porque estavam abraçados depois de um jogo de futebol. As palavras daquela matéria, a imagem dos hematomas, ainda está muito recente e eu não conseguia mais parar de pensar naquilo e no quão ridículo era de se acontecer. Pior, o quão ridículo e real, e que pode acontecer.

Breno não parece ter notado minha súbita insegurança. Notei que coloquei as mãos no bolso para disfarçar que estavam em punho, a unha na palma. Tudo bem, daqui a pouco nem vou notar que fiz isso, as marcas vão sumir em dez ou vinte minutos. Vou esquecer aquela matéria, vou focar nas palavras de Breno.

— ... e vamos busca-lo!

— Vamos buscar quem?

Dez ou doze minutos depois, acho que não mais que isso, estávamos voltando para casa com um gato nas mãos.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora