No domingo B me mandou um novo nome: Alfredo.
"Não, mas a esperança é a última que morre, não é mesmo?"
Em determinado momento fiquei me perguntando o porquê ele estava querendo adivinhar meu nome. Era apenas uma brincadeira ou ele me conhecia de verdade? Fico pensando que se sim, já teria deixado escapar alguma coisa, e não procuraria saber meu nome, talvez quisesse saber outras coisas. Todo mundo sabe o meu nome naquela escola, foi motivo de bullying por anos. Recebi a mensagem quando acordei, ver a notificação ali, mostrando que foi há horas atrás me fez ter um frio na barriga como o de ontem, com Dan. Ansiedade. Era isso. Eu queria tanto falar com ele que isso me assustava, desde sexta, desde a nossa conversa sobre a máquina do tempo. A verdade é que ser anônimo é mais fácil, eu me revelo pouco a pouco, assim sempre saberei o que dizer e não vou poder mostrar o quão decepcionante sou. Eu me esforço.
Às oito horas da manhã minha mãe apareceu no meu quarto, ligou a luz e mandou que eu levantasse — imediatamente.
À mesa, Joyce.
Fodeu, pensei.
— Oi...
— Já era para ter acordado. — Ela diz assim que me aproximo.
— Porquê? — Cochicho. Minha mãe colocou café em uma de suas xícaras.
Joyce está com a xícara de melancia, minha mãe com a de notas musicais e a mais próxima de mim é a xícara de vaca. A pego para ter algo para distrair as mãos. Espero que minha mãe não perceba que eu e Joyce estamos em divergência.
— Porque combinamos de ir com Enzo e Maria ao shopping.
Combinamos?
Sim! Confirme! — Sei que Joyce está pensando nisso só de olhar nos olhos dela.
— Ah. Eu esqueci. Espera eu comer e me tomar banho... Espera... De quem é essa camisa?
A camisa é de Pink Floyd. Reconheço porque meu pai era fã. Eu não seria filho dele se não reconhece a camisa, se não reconhece a letra que está estampada em itálico bem à barra.
— Comprei no shopping... Meu Deus, você estava do meu lado, Alison.
Minha mãe dá uma risada.
— Ele está mesmo aéreo esses dias... Me pergunto o que está tomando tanto espaço na cabeça dele.
Joyce dá um sorriso malicioso e diz:
— It must be a huge thing.
Eu a odeio. Eu odeio ela e os filhos que ela vai ter e ainda mais os netos dela. Toda uma geração foi amaldiçoada.
A fuzilo com o olhar e ela só dá de ombros e ri.
Me arrumei em tempo recorde e quando cruzei a porta com Joyce ao meu lado, a segurei pelo ombro.
— Não para dizer àquelas coisas a minha mãe.
— Eu não disse nada demais. E foi verdade.
— Não importa. O que vamos fazer no shopping? O único dinheiro que tenho no bolso é cinco reais.
Joyce para no meio da calçada e me olha. De repente recebo uma tapa na nuca.
— Ai! Porque isso? O que eu fiz?
— Você nasceu. Olha só... Não vamos para o shopping comprar nada, vamos lá para você falar da sua noite com seu homem.
— Enzo e Maria já estão lá ou isso também é mentira?