Aula de história.
Sinto Enzo inquieto ao meu lado. Ele está tentando prestar atenção mas tem alguma coisa acontecendo com ele.
— O que foi?
— Nada... Só não dormi bem.
— Certeza?
Enzo assentiu rápido demais. Não pode ser verossímil. Mas não insisti tanto assim. Prestei atenção na aula, mas sempre me vinha aqueles pensamentos intrusos de que eu deveria pensar em como resolver meus problemas. O problema era como, de que jeito. Eu só queria ir para casa e esquecer de tudo ao jogar The Sims. Eu conseguia resolver o problema deles, era bem mais fácil. Se eu sou um Sim, então alguém por favor, resolva meus problemas por mim.
Senti Joyce me cutucando nas costelas. Ela sabe que tenho cócegas ali.
—Pare com isso. —Chio rindo mesmo que não querendo.
— Mais tarde nós vamos sair.
— Nós vamos?
— Vamos. Eu preciso da sua ajuda para comprar um presente para minha prima irritante.
Franzo o cenho.
— Não gosto da sua prima.
— Ninguém gosta. Ela precisa mesmo de talento, mas como eu não posso embrulhar isso vai ser algum brinco ou coisa assim.
Paramos de conversar porque o professor nos olhou feio. Mas assenti afirmando que eu iria.
Por instinto olhei para Maria e Enzo. Ambos preocupados com suas próprias coisas, algo me diz que onde quer que a mente de Enzo esteja, é um lugar sombrio.
— Ele não para de olhar para você. — Maria sussurra ao meu lado. Ela estava segurando um livro de capa azul. Não consigo ler o titulo.
— Quem?— Pergunto e é preciso de muita força para não virar a cabeça para olhar quem poderia ser.
— Dan. Ele está na mesa com seu irmão.
— Ah.
"Ah" era tudo o que Maria não esperava que eu respondesse. Acho que ela queria mais alguma coisa emocionante, mas realmente não tinha nada de emocionante para contar. Vinha ignorando as mensagens de Dan, ignorava os olhares dele no corredor.
— Aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta.
— Não...
Nesse momento vejo Enzo se esgueirando entre as pessoas para chegar logo ao banheiro.
— Eu já volto. — Então saio depressa antes que Maria retruque. Só Deus sabe como ela boa em retrucar qualquer coisa.
Entrei no banheiro e encontrei o garoto de cabelos louros lavando as mãos.
— Enzi?
Queria que ele se virasse e dissesse "Não gosto quando me chama assim" ou algo do gênero. Mas ele sequer virou-se. Pareceu a imagem perfeita de um garoto hipnotizado pelas próprias mãos. Me aproximei dele pouco a pouco, não fazia ideia se ele me queria por perto. Não é para isso que servem os amigos?
O chamei pela segunda vez.
— Oi. O que foi?
— O que foi pergunto eu.
— Já disse que não foi nada. Eu só estou meio aéreo. Não posso ficar dando atenção a você o tempo todo, sabe After, as pessoas também têm problemas.
Recuo um passo. Certo, por essa eu não esperava. Não há nada que eu possa segurar para descontar minha raiva e não vou demonstrar com gestos o quanto fiquei magoado. Segurar a língua era bobeira, eu não conseguia.
— Eu estou preocupado com você, seu idiota. Quem mais veio saber se você estava bem? Maria? Joyce? Quer saber, você fica melhor quando não está assim, prefiro o Enzo que pega geral e não fala nada. —E saí do banheiro pisando duro.
Estava andando, quase correndo pelo corredor, quando senti meu celular vibrar no bolso de trás. Deixei para olhar a mensagem quando me afastei do refeitório, me afastei de Enzo, de Dan e Maria. Era uma mensagem privada do site onde o Mr. Magnus atua.
"Quer uma máquina do tempo?"
Guardei o celular. Eu sóqueria que esse dia acabasse logo.