—... e ela disse que tudo bem.
Pisco.
— Do que estamos falando mesmo? — Questiono. Olho para baixo. Breno e eu estávamos jogando UNO. E esperando Carol.
— Esquece. Não da pra conversar com você. No que estava pensando? No seu namorado?
Faço uma cara zangada para ele. Mas não adianta muito, Breno, agora que sabe sobre meu namoro com Dan sempre coloca "seu namorado" em qualquer frase que faça sentido. Acho que ele está experimentando a palavra até ela perder o sentido ou ficar sem graça; espero que isso aconteça o mais rápido possível.
— Não penso tanto assim em Dan, só para sua informação.
— Mas você gosta dele?
— Gosto. Claro que gosto. Se eu não gostasse dele não aceitaria namorar com ele.
Breno joga um oito amarelo. Eu jogo um dois amarelo.
— Eu estava pensando... Maria veio falar comigo. Puxa quatro cartas.
— E...
Pego as cartas e encaro meu irmão.
— Ela só veio perguntar se você estava bem. Pedi a ela que viesse aqui...
— E ela não veio. — Concluo por ele. — Tudo bem.
Vejo-o encolher os ombros um pouco. Continuamos jogando em silêncio. Estou supondo que meu irmão está pensando que estou triste e devastado e que, era melhor nem ter falado nos meus amigos ou em Dan, da escola no geral. Pode até ser verdade, estou triste. Mas também estou feliz porque hoje é quarta-feira e nossos pais vão voltar. Passei a maior parte da noite pensando em pedir ajuda ao meu pai para o TCC e ajuda a minha mãe para conseguir um emprego; posso convencê-la a conversar com algumas das mulheres do seu clube. Eu só preciso esperar mais um pouco.
Tia Helena ligou para Breno quando estávamos no sofá, almoçando. Eu estava prestando mais atenção na televisão, mas meu foco foi à chamada quando meu irmão apertou em viva-voz. Tia Helena estava falando com outra pessoa.
— Tia? — Breno a chamava — Oi, estamos aqui. Coloquei no viva-voz. Meus pais já saíram daí?
Minha tia apenas desligou.
Olhei para Breno, também se entender. Dois minutos depois ela ligou de novo e dessa vez consigo a ouvir perfeitamente.
— Breno? Alison?
— Oi — falo primeiro — estou ouvindo. Breno está do meu lado, tia.
— Ah, que bom... escutem, eu preciso que vocês fiquem... esperem um minuto. Sim, sim —ela fala com a outra pessoa — estou falando com meus sobrinhos. Eu sei! Fique calado agora!
Me assustei com o tom grosseiro dela. Tia Helena não era grosseira e tampouco gostava de grosseria. Acho que todas as lembranças que tenho dela são alegres. Mas agora ela parece nervosa, com raiva de todo mundo. Posso tentar entende-la porque estava do mesmo jeito.
Esperamos mais alguns segundos. Não parecia ter apenas uma pessoa na casa dela, parecia ter várias e acho que é isso que a está deixando irritada. Queria saber o que meus pais aprontaram.
— Acho que ela vai contar que minha mãe decidiu ficar lá mais um pouco — Breno diz, rindo.
— Ou meu pai quebrou um dos elefantes de cerâmica dela — digo.
Sorrimos um para o outro. Isso é algo que papai faria.
Minha tia voltou a falar conosco.
— Preciso que vocês fiquem calmos, meninos.