QUINZE

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Eu caminhava com os fones de ouvido.

Minha garganta estava ardendo e era nisso que eu estava pensando quando fui puxado pelo ombro com violência. Meu susto foi tão grande que meus pés se desconheceram e eu tropecei. Mas não caí. Fui segurado por ninguém mais, ninguém menos que Hector.

Então lembrei do que eu tinha esquecido ao vê-lo. Domingo era para eu ter ido encontra-lo, mas saí com Joyce e os outros. Ah, porra.

— H-Hector... — A secura em minha garganta agora queimava como fogo.

Eu não conseguia engolir, tudo ficou preso na minha garganta como um nó

O rosto dele estava ficando avermelhado de raiva e suspeito que ficou pior quando eu não apareci como combinei. As palavras "me desculpe" e "esqueci" ficaram perdidas em um lugar bem distante do meu cérebro, eu só conseguia me perguntar se ele iria me machucar.

Que idiotice. É Hector, ele nunca me machucaria.

— Hector... Eu... O que está fazendo?

— O que eu estou fazendo, Alison? Estou querendo conversar com você! Você é idiota? Porque não apareceu? Fiquei horas esperando você. Horas!

Queria que ele largasse meu ombro. Não só porque está doendo, mas porque não quero que alguém passe por aqui e nos veja nessa situação estranha: Um adulto me segurando e que parece pronto para correr comigo nos braços. E não de um jeito romântico.

Tentei me largar uma única vez e não deu certo, por isso não tentei uma segunda vez. O rosto de Hector estava ficando mais vermelho à medida que eu deixava o silêncio aumentar entre nós, ele queria que eu ficasse com raiva como ele, irritado ao ponto de perder a razão. Não estou com raiva, entretanto, estou com medo. Um medo tão gelado que me impossibilita de me mexer. A única coisa que eu poderia fazer era olhar para os lados sem mexer a cabeça para saber se alguém estava testemunhando isso. Ninguém.

— Me solte.

— Alison eu...

— Me solte. Estou falando sério.

Ele pareceu me analisar. Eu falava sério com frequência, mas é difícil perceber que falo seriamente agora porque lágrimas querem se libertar dos meus olhos. Quero chorar e nunca pensei que faria isso na presença de Hector; não quando tinha sido ele quem levantava minha confiança sempre que nos encontrávamos escondido, antes de toda a merda acontecer e eu descobrir que ele era meu professor.

Eu poderia ter ignorado esse fato; era o que Hector vivia pedindo que eu fizesse. As coisas não funcionavam assim, eu retrucava sempre que essa discussão acontecia, eu não posso ignorar que você esteve na mesma sala que eu por uns três meses me dando aula e dando aula aos meus amigos enquanto eu já tinha beijado você. Era tão errado e em circunstâncias nenhuma deve ser aceito... Era sujo, era fantasia das mais amargas. Eu não aceitaria ter algo com meu professor e já me sinto melhor por ter dito isso a ele há um tempo.

Mesmo que ele pareça nunca ter me escutado de verdade.

Então Hector me soltou. Sua respiração tentava voltar ao normal, ele tentava se controlar porque percebeu o quanto eu estava assustado. Não vou disfarçar que não estou, porque estou e muito.

— Porque você não apareceu? Porque não mandou nem uma mensagem?

— Eu esqueci. Saí com Joyce e os meus amigos, esqueci completamente.

Hector riu.

— Meu Deus... — ele passou a mão no rosto, parecia querer arrancar a pele do lugar pelo tanto de agressividade que usou — Porque você faz isso? Porque mente? Mentir deve ser muito divertido para você, não é, Alison? Mentir deve ser como respirar para você.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora