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Quando Clara acordou, a luz das velas tremulava no ar e ela ficou temporariamente desorientada. Era noite ainda. Ao redor dela braços fortes a amparavam. Ela queria permanecer ali, sentindo-o, mas estava morta de fome. Com todo o cuidado do mundo para não acordá-lo, conseguiu se levantar e cobrir sua nudez com seu penhoar. 

A sopa estava fria e nada aprazível, então se alimentou do pão e do queijo. Olhou para aquele homem maravilhoso na cama e sorriu. Ele ficava lindo à luz das velas. Seus longos cílios pareciam varrer suas bochechas. Queria poder ver seu corpo como ele tinha visto o dela, mas estava completamente vestido. O que ele fez com ela voltou à sua memória. Um calor se concentrou na parte de baixo de seu ventre. 


Então Gabriel abriu os olhos. Clara assustou-se, ainda não estava preparada para encará-lo. Gabriel sentou-se na cama num movimento rápido.

- Eu estava com fome. - ela não sabia o que dizer. Ele assentiu. - Você quer? - ele negou.

- Precisamos conversar, Clara. - disse seriamente.

- Acho que o que você quer conversar não me agradará muito. - disse mais pra si que pra ele.

- Por favor, sente-se aqui, Clara. - bateu de leve na cama. 

Clara deu um longo suspiro e fez o que ele pedira.

- Antes de mais nada, preciso lhe pedir desculpas. Eu não devia ter feito o que fiz. 

- Você se arrependeu? - ela perguntou num rompante.

- Não. - respondeu ele prontamente. - De maneira nenhuma.

- Então por que está me pedindo desculpa?

- Eu abusei de você. Não está óbvio?

- Não. Se eu permiti, não foi abuso. Eu gostei.

- Por Deus, Clara... - disse ele se levantando e passando as mãos nervosamente pelos cabelos. - Você não está facilitando as coisas.

- As coisas são simples, Gabriel, você é quem está dificultando.

Ele a encarou e ficou um momento sem saber o que falar. Então voltou a se sentar na cama, de frente para ela.

- O que nós fizemos... Na verdade o que eu fiz com você foi altamente reprovável. Você é uma moça solteira, Clara, e eu me aproveitei de você. 

- Você não se aproveitou. Será que você não entende? - falou, cansada.

- A verdade, Clara, é que eu sou o experiente aqui e devia ter me controlado. Você é uma moça ingênua e pura. Mas o mais importante é que você continua sendo pura, entende? - ela semicerrou os olhos.

Oh, céus, ele não queria ser tão direto, mas pelo visto precisaria ser.

- Você continua virgem, Clara. Você poderá se casar com um homem que a mereça. Não com um resquício de homem que sou eu.

- Eu mereço um homem bom. - ele assentiu. - Eu mereço um homem que cuide de mim. - a cada vez que ela falava, ele assentia. - Que seja gentil. Eu mereço um homem que eu admire. - ele se mortificava por não ser ele aquele homem. - Será você não percebe que esse homem é você, Gabriel?

Aquelas palavras foram ditas de maneira tão profunda que tocou a sua alma. Clara além de linda, era ingênua. Como ela poderia ver alguma coisa boa nele?

- Olhe pra mim, Clara.

- Estou olhando. - sim, ela tinha a capacidade de olhar no fundo da alma dele.

- Então você vê essas malditas cicatrizes, você pode ver que eu sou um monstro, uma fera e você é o mais belo anjo que meus olhos já viram.

- Eu vejo você, Gabriel. Vejo melhor do que você mesmo. Você não é perfeito, mas é um homem lindo mesmo assim. Essas cicatrizes não definem você. Aqui... - ela espalmou a mão em seu coração. - Isso aqui define você. Seu coração é lindo e eu seria abençoada se o seu coração me desejasse como esposa. Mas eu não vou mais insistir em algo que você não quer.

- Como você pode querer e casar comigo, Clara? Eu sou esse monstro. Você não sabe nada da minha vida.

- Tudo que eu sei sobre você, eu aprecio sobremaneira, Gabriel.

- Como você pode querer passar o resto da sua vida com um monstro como eu? Eu não entendo. Você é perfeita.

- Eu não sou perfeita.

- Sim, você é. Não há um só defeito que eu encontre em você. Deus a fez uma mulher perfeita.

 - Pra quem disse que não acreditava em Deus, você fala demais nele. - ela sorriu. - Talvez Ele tenha me feito perfeita pra você.

 - Então eu sou um homem sortudo. - ele deu um longo suspiro.

 - É você que eu desejo, Gabriel. 

- Se é isso o que você quer, Clara, ficarei feliz em realizar seu desejo.

Clara sorriu e ela mesma avançou sobre a boca dele. Clara o beijou. Ela o absorveu, respirando-o a cada inspiração.

- Eu quero você, Gabriel. Quero hoje. Quero amanhã. Quero pra sempre.






Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora