XII

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Os preparativos para o casamento correram a todo vapor. Gabriel conseguiu uma licença especial para não esperar tanto tempo pelos proclamas. O dinheiro sempre pode tudo, pensou tristemente Clara. Mas pelo menos daquela vez seria por uma boa causa. Gabriel mandara trazer o melhor e mais fino enxoval. Tudo era lindo, de bom gosto. Digno de uma princesa. Como você, falara Dada.

Gabriel apelidou o cachorro de Fera e todos na fazenda o chamavam assim. Clara ainda tentara mudar o nome, mas não conseguira, então se rendeu. A pequena fera deixava Gabriel louco. Estragava suas botas. O acompanhava por onde fosse. Onde Gabriel estava, a pequena fera ia trotando ao seu redor. Por vezes Gabriel estava dormindo, ouvia o seu roncado no travesseiro. A infernal criatura adorava pular ao seu redor. E quando Clara dizia com aquele sorriso que iluminava qualquer noite escura que a fera gostava dele, Gabriel não conseguia ter raiva da abominável fera.

Clara olhou-se no espelho e como da primeira vez que vestira um vestido de noiva, achou-se linda. Mas diferente da primeira vez, não estava apreensiva ou com medo. Lógico que tinha aquele friozinho na barriga, mas não era por não estar apaixonada ou por não saber o que esperar do homem que a esperaria no altar. O pouco tempo que passara com Gabriel a fez conhecê-lo, talvez melhor que ele mesmo. Nunca conhecera um homem tão bom. Tão justo. Correto. Perfeito na sua imperfeição. Não aquela imperfeição que ele teimava em vir a tona para reforçar a ideia de que era um monstro. A imperfeição que nos torna um ser humano. Os defeitos dele eram insignificantes perto de suas qualidades.

Ela se apaixonara por ele e queria absurdamente que ele perdesse aquele olhar triste. Ela queria fazê-lo feliz e jurou pra si mesma, diante daquele espelho, que faria Gabriel Braga um homem feliz. 

- Oh, meu Deus, fia. - Dada entrara no quarto. - Ocê tá uma princesa. 

Clara sorriu e Dada se aproximou com os olhos marejados.

- Nunca vi na vida uma moça mais bonita que ocê. Eu só peço a nosso sinhô que meu menino seja feliz.

- Eu prometo, Dada, que o farei feliz. O homem mais feliz do mundo.

Dada pegou as mãos de Clara.

- Desde que ocê chegou aqui, eu soube, fia, que ocê é uma menina boa. Eu sei que ocê fará meu Gabriel feliz.

Dada a ajudou a subir na carruagem e chegar na capela da fazenda. Como na primeira vez queria correr, mas não para fugir dali. Queria correr para chegar logo. 

Naquela pequena e simples capela, Clara adentrou com seu buquê de rosas brancas, igual às flores que decoravam o ambiente. Gabriel a esperava no altar. Lindo. Perfeito. Os convidados eram os trabalhadores da fazenda e um amigo próximo do noivo e sua esposa que haviam ido ser as testemunhas. Ao percorrer o curto caminho, Clara não deixou de sorrir nenhum momento. 

Gabriel estava tenso. Ainda não acreditava que Clara pudesse o querer e ainda esperava que ela se arrependesse e saísse correndo. Fugisse do monstro que ele era. O padre conduziu a cerimônia, mas nenhum dos dois conseguia se concentrar. 

- Os votos. - o padre falara. - Repita comigo, senhorita Clara. - ela assentiu, sorrindo. - Eu, Clara dos Anjos Alencar...

- Eu, Clara dos Anjos Alencar, aceito você, Gabriel Braga, como meu legítimo esposo e prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.

Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora