Setembro, 1888.
Naquela manhã, alguns raios de sol se infiltraram pela pequena janela do quarto. Clara se esticou lânguida, saciada de sono, e com seu gesto conseguiu roçar a pele firme de seu esposo, que permanecia adormecido. Fixou seu olhar naquele lindo rosto marcado por cicatrizes, que já mostrava sinais de uma barba incipiente e sorriu feliz.
Procurando não despertar Gabriel, abandonou a cama e caminhou até a janela. Através do vidro viu a vasta plantação de café. Sobressaltou-se quando mãos masculinas enlaçaram sua cintura.
- Bom dia, meu amor. - pronunciou Gabriel junto ao ouvido dela, antes de sugar o lóbulo da orelha.
Clara sentiu que com aquela carícia algo se acendia em seu interior, e sem pensar se virou para beijar os lábios de Gabriel, que se viu surpreendido pela efusividade dela. Sem se intimidar, começou a explorar o corpo masculino, que permanecia nu, apesar do frio da manhã, e sorriu triunfante quando o escutou gemer.
- Amor... - pronunciou Gabriel, tentando controlar a ereção que os hábeis dedos de sua esposa haviam provocado. - Agora não podemos brincar, devo sair em uma hora para me encontrar com...
- Mas eu quero fazer amor... - expressou ela, segura, enquanto o empurrava à cama e se deixava cair sobre ele enquanto subia escancarada sobre ele.
- Seu desejo é uma ordem, meu anjo. - replicou ele pegando a cintura dela e fazendo-a virar para que ficasse sob seu corpo. Os dedos dele já brincavam com um dos mamilos dela.
Muito tempo depois, Clara se acomodava sobre o peito de seu marido, satisfeita, após uma longa sessão de sexo. Gabriel cobriu seus corpos com um fino lençol branco, e rodeou a cintura dela com possessividade. Seu plano de falar com o administrador da fazenda havia ficado esquecido, mas por nada do mundo ele mudaria as horas compartilhadas com a esposa naquele quarto.
- Obrigado, Clara. - Ele pronunciou, enquanto desenhava com as pontas dos dedos sobre a pele das costas dela, num gesto distraído.
- Pelo que? - perguntou elevando seu rosto para olhá-lo no rosto.
- Exatamente hoje faz doze anos que a vi surgir como um anjo nessa fazenda. - ela sorriu. - Só posso estar agradecido a Deus por isso, apesar de que ao longo de minha vida eu o tenha amaldiçoado mil vezes. Eu a amo, Clara, e vou estar em dívida com o Senhor, eternamente, por Ele ter colocado você em meu caminho.
Os olhos dela marejaram como sempre acontecia quando o marido falava tais coisas. Gabriel a beijou docemente. Sua doce esposa. Tão linda quanto há doze anos. Doze anos da mais sublime felicidade.
A vida era boa para a família Braga. A casa era repleta de alegria e crianças. O primogênito, Heitor, já estava com onze anos. Por onde o pai andasse, ele seguia seus passos. Eram extremamante parecidos, tanto no aspecto físico quanto na personalidade, com um temperamento bastante curto. Os gêmeos Paulo e Afonso tinham oito anos e eram idênticos fisicamente, mas com personalidades distintas. Paulo tem uma personalidade única, ele é engraçado e irônico, muito inteligente e cheio de talentos. Afonso está sempre de bom humor e de bem com a vida, com um tranquilidade que munca o abandona. Já a caçulinha, Lívia, com apenas cinco aninhos, já se via que aquela pequena dama seria completamente fora dos padrões.
A fazenda prosperara tanto que exportava café para vários países da Europa.
A abolição, enfim, chegara. Infelizmente o querido amigo Luís Gama morrera seis anos antes de ver a tão sonhada recompensa por sua luta. Ainda era preciso muito luta por igualdade, mas a família Braga sempre estaria empenhada em uma boa causa.
Carlos e Analice só foram agraciados com um único filho, Eduardo. A família Martins continuava amiga e próxima à família Braga. Inclusive Eduardo e Heitor eram amigos.
Infelizmente o pai de Clara morrera sem se reconciliar com a filha. Há quem diga que o remorso o consumiu de tal forma que não teve mais forças para continuar vivendo. Morreu antes do primeiro neto nascer.
Gabriel abraçou sua esposa enquanto viam ao longe seus filhos brincarem. Os dias de escuridão há muito tinham ido embora. Ele tinha sido um homem amargo, triste e ressentido. Um homem que apenas existia. Clara entrou em sua vida trazendo o sol inteiro com ela. Iluminando completamente a sua vida. Com sua mulher e seus filhos, Gabriel vivenciava todos os dias a mais sublime felicidade. Agradecia todos os dias por Clara tê-lo resgatado da amargura que o aprisionava. Ao amá-la, ficara livre. A Fera, finalmente, tinha sido salva pela Bela e recompensada com seu amor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)
RomanceÉ 1876. Seis anos após a Guerra do Paraguai, Gabriel regressou da guerra com parte do rosto desfigurado. Ele afastou a todos e vive recluso em suas terras por achar-se um monstro, uma fera. Mas isso está prestes a mudar com a chegada da doce e bela...