XVII

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Os olhos de Gabriel congelaram no rosto de Clara. Seu olhar cintilou, e uma pequena parte dela esperava que ele dissesse que a amava também. Ela resolveu mudar o rumo daquela conversa, era mais seguro. Clara não podia suportar se ele dissesse que não amava ou ficasse constrangido porque ela se declarara.

- Quando olho pra você tenho certeza que você será um pai maravilhoso.

Ele a olhou profundamente.

- Você tem mais fé em mim do que eu mereço. - disse por fim.

Clara sorriu e afundou o rosto na curva do pescoço dele. Abraçou-o forte como se sua vida dependesse daquilo. Apertou-o em seus braços e ele fez o mesmo. Ele tinha ciência que não a merecia, mas também tinha consciência que ela era seu próprio ar. Não conseguiria nunca mais viver sem seu perfume, seu sabor. Ele também a amava e estava prestes a dizer isso quando um barulho de galho quebrado o fez ficar em alerta. Alguém estava se aproximando. Ele olhou ao redor, colocando Clara atrás de si em posição de defesa. Ela ficou assustada, pois tinha escutado também. Outro barulho, dessa vez mais perto. Ambos ficaram com os olhos vidrados na direção do som. E de repente, surge Fera. Clara riu. Gabriel o encarou com olhos afiados.

- Você sempre aparece nas horas mais oportunas, fera maldita. - mas não tinha raiva em sua voz.

- Não fale assim do pobrezinho, Gabriel. Ele sentiu nossa falta.

- Pobrezinho? - ele a encarou. - De mim, você quer dizer, por aturar essa fera.

- Não seja, mal, querido marido. Fera ama você.

- Sim, claro. Da mesma forma que eu a ele.

Ela sorriu com seu sarcasmo e beijou-lhe a face.

- Venha, já ficamos muito tempo aqui.

Ela saiu da água sem que o esperasse. Nua. Esplêndida. Sem nenhuma vergonha dele. Ele gostou daquela intimidade. Ele a admirou. Será que nunca deixaria de ficar afetado por ela? Por sua beleza? Sua ternura? Ele a amava mais que tudo naquele maldito mundo cheio de injustiças. Ela era a encarnação da beleza no mundo miserável em que viviam. Clara era seu contraste. Ela era a pureza, enquanto ele era a degradação. Ela era a formosura, ele, a feiura. Ela era a brisa suave e ele era a tempestade. Mas mesmo assim ela o amava.

Gabriel ficou ainda na água olhando enquanto ela se vestia e falava com a pequena fera de maneira carinhosa. Aquele cão era um sortudo, assim como ele. Sortudo porque tinha a ela, tinha o carinho dela. O amor dela. Os dois não mereciam aquele anjo em forma de gente, mas a tinham. De repente ela o olhou e sorriu. Foi como se todas as estrelas do céu brilhassem ao mesmo tempo.

- Você não vai sair? Nosso cãozinho quer cumprimentar você também. - falou, divertida.

Ele saiu da água revirando os olhos, fingindo aborrecimento. O sorriso dela se desfez e um calor intenso se apoderou de seu rosto. Ele era lindo. Parecia um deus saindo das águas. Ele andava como se tudo ao redor devesse se curvar aos seus pés. Ela estava completamente rendida a ele. Ela o amava. Seu sorriso voltou e ela agradeceu aos céus por ter fugido de Antônio e ter sido salva por um anjo. Ele não se via assim, mas Gabriel era seu anjo.

Assim que Gabriel pôs os pés fora da água, Fera já estava pulando ao seu redor. Gabriel tentava colocar suas calças quando Fera continuava com suas investidas para chamar atenção de seu dono.

Era uma vez... a Bela que Salvou a Fera (em FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora